tag:blogger.com,1999:blog-82018420501316443322024-03-27T20:53:05.540-03:00Não existe homônimoArtigos, ensaios, contos, crônicas, análises, fotos, músicas, vídeos etc.José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.comBlogger57125tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-14141078947241713272023-07-30T18:05:00.000-03:002023-07-30T18:05:11.426-03:00O Feitiço da Técnica<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O Feitiço da Técnica (2)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O
desenfreado avanço dos instrumentos da Inteligência Artificial me faz retornar
ao tema, começando por duas matérias publicadas em jornal em 2022 e comentadas
em minha crônica “O Feitiço da Técnica”, publicada em 22/07/22 neste blog,
objeto da presente revisão. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Começaremos pelo artigo do jornalista
Leo Aversa, intitulado “5G? Prefiro o meu Nokia de volta” (1). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Em um artigo inteligente e bem
humorado, Aversa começa por ironizar a propaganda em torno da chegada ao Rio do
5G, e que seria chegada a hora de trocar o celular. “Além da supervelocidade –
como vivi antes dela, me pergunto -, ao que parece o 5G vai conectar as coisas.
Todas as coisas. Elas vão conversar entre si e resolver seus problemas de forma
objetiva”. “Boa sorte para as coisas”, ironiza. E prossegue citando os
alardeados benefícios trazidos pelo 5G. “Os filmes, as músicas, as mensagens
terão um download mais rápido, avisam os reclames. Comunicação instantânea,
exultam”. E, então, faz uma crítica extremamente percuciente: o problema nos
dias atuais não é a falta de comunicação, mas, sim, o excesso! E se permite
preferir que voltássemos ao 3G, ao 2G, ao G original. Já seria bastante para
falar com quem se precisa e mandar mensagem para quem se quer. Sustenta, mesmo,
que se poderia voltar para o Nokia tijolão que, especula, seria ½ G, mais do
que suficiente para situações de emergência.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;"><span> </span>Curiosamente, diversas vezes me
surpreendi fazendo esse mesmo discurso. O tijolão, que os homens podiam exibir
expostos, atados ao cinto, sem qualquer preocupação com o risco de assalto, foi
útil para que meus filhos, na época frequentadores das baladas, pudessem pedir
socorro a mim ou a minha esposa em caso de sufoco, ou simplesmente dar notícia
sobre seu paradeiro. Em galopante transformação, o tijolão foi sendo
substituído por artefatos de alta tecnologia, através dos quais se pode fazer
quase tudo. Literalmente condensam praticamente toda a informação sobre as
nossas vidas, fazendo com que eles se tornem o objeto preferido de bandidos
cada vez mais ousados. Prudentemente, muitas pessoas já utilizam um celular de
reserva para usar fora de casa, contendo apenas números de telefone de contatos
próximos, um aplicativo UBER ou 99 e pouca coisa mais.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Retornando ao artigo, Aversa se
pergunta se não deveria deixar de reclamar da tecnologia, pois se estivesse
escrevendo seu texto à máquina teria muito mais trabalho e gastaria muito mais
tempo, ainda que o tec-tec-tec do batucar das teclas fosse inspirador e
memorável a cena de arrancar o papel da máquina para conferir o texto. Neste ponto,
parece que o articulista travou algum contato com uma apreciação do filósofo
Martin Heidegger, como veremos a seguir. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Assim, recorrerei a Heidegger, que se
preocupou com as alterações na vida cotidiana trazidas pelo uso das inovações
tecnológicas. Zimmerman, em seu livro “O Confronto de Heidegger com a
Modernidade” (2) toma como exemplo a máquina de escrever, que poderia ser
considerada apenas um modo mais eficiente de escrever-se, mas que, no entanto,
o filósofo considerava a eficiência como sendo uma medida errada para usar-se
em matéria de avaliação da escrita. Para ele, escrever era essencialmente
escrita à mão:</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> <i>Sabia [Heidegger] por experiência
própria que o seu pensamento ocorria através da mão, enquanto escrevia. A
escrita à máquina minou tanto o pensamento como a linguagem, porquanto a
palavra já não vai e vem através da escrita e da mão que age automaticamente,
mas antes da pressão mecânica que ela exerce [nas teclas da máquina]. A máquina
de escrever separa a escrita do domínio essencial da mão, e, acrescente-se, da
palavra (1990, p.308)
</i> </span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt;"><span> </span>Para Heidegger, conforme Zimmerman,
as máquinas de escrever tinham a sua utilidade, por exemplo, para reproduzir e
preservar coisas já escritas à mão, mas que não havia lugar para escrita à
máquina em se tratando de correspondência pessoal. O filósofo considerava que,
quando as máquinas de escrever apareceram, as pessoas sentiram-se insultadas
por receberem cartas datilografadas. “A escrita à máquina esconde o caráter
pessoal do autor da carta, contribuindo dessa forma para a homogeneização da
humanidade” (HEIDEGGER apud ZIMMERMANN, 1990, p. 308). Neste ponto eu me
permito dar o meu testemunho. Coleciono em meus guardados muitas dezenas de
cartas à mão escritas há muitas décadas por velhos amigos e antigas namoradas,
e em todas recebo mais do que as palavras em si. O tipo de papel usado, o formato
das letras, os riscados, a firmeza ou a tibieza do traço, os erros ortográficos
não capturados por um corretor de textos inexistente na época, tudo isso
complementa a emoção que uma carta pessoal transmitia.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> O comentador escreve que a objeção de
Heidegger à prática da escrita de cartas pessoais à máquina era compartilhada
por muitos dos seus contemporâneos, e que, embora a máquina de escrever seja um
sintoma da era tecnológica, o filósofo concede (apud ZIMMERMAN, 1990, p.308)
“que ela não é ainda uma máquina no sentido estrito de tecnologia moderna,
antes é um intermediário entre a ferramenta e a máquina, um mecanismo. A sua
produção, todavia, é condicionada pela tecnologia de máquinas”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> A máquina de escrever, por sua vez,
foi substituída pelo processador de textos, este um lídimo produto da
tecnologia moderna, um gigantesco passo além da escrita à máquina, que já
representara um considerável avanço em relação à escrita à mão. Estamos mais
uma vez diante de uma radical mudança de conceito de escrever, pois até mesmo o
termo “processador de texto” sugere, conforme Zimmerman (1990, p.308), “um
massagear, um moldar, uma gestão de palavras, como se elas fossem matéria prima
- plástica”. Embora reconhecendo as inegáveis vantagens do processador de texto
sobre a escrita à mão e a escrita à máquina (com o que estou de inteiro acordo,
ainda que compreendendo as considerações de Heidegger) esse autor assinala que:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Na medida em que as palavras
produzidas pelo monitor não são ainda coisa alguma de permanente, antes meros
padrões de elétrons, alguns utilizadores de processador de texto alegam
sentir-se menos ansiosos ao escreverem nele, por sentirem-se menos
comprometidos às palavras que apenas “processaram” (ZIMMERMAN, 1990, p.308).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Retornando ao texto de Aversa, ele
deixa claro que a sua queixa do telefone é sua onipresença, quando ele virou
uma prótese do corpo humano. E o 5G somente aumentará o vício, a subjugação à
técnica. E quais seriam as vantagens? Fake News se espalhando mais rapidamente,
vídeos sem graça do WhatsApp circulando mais lépidos, tretas rolando frenéticas
pelas reses socias, exemplifica. Eu acrescentaria as tentativas de golpe, as
teorias da conspiração e o patrulhamento do politicamente correto entre os
fenômenos que ganharão velocidade de transmissão. E aponto para o WhatsApp como
a grande ferramenta de veloz propagação de irreflexões de toda ordem, em
completa distorção de uma utilização sadia, como alternativa à mídia
tradicional frequentemente bastante comprometida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> A segunda matéria, relativamente
recente, assim como a primeira (ambas de 2022), que me caiu aos olhos foi
“Alexa, Siri, quem foi às compras sem eu pedir?” (3). A matéria trata de uma
questão bastante preocupante, assustadora, mesmo, com o subtítulo “Crescem relatos
de encomendas feitas por assistentes virtuais sem o aval dos clientes. Falha
preocupa especialistas”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Agora vamos tratar de problemas causados
pelo uso de assistentes virtuais como a Alexa, da Amazon, a Siri, da Apple e o
Google Assistant. Afinal, o que são esses assistentes virtuais? Alexa, por
exemplo? Vamos recorrer ao link (4)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> “Alexa é o nome da assistente
virtual da Amazon, introduzida em 2014 com a Echo, sua primeira caixa de som
inteligente. Diferente do que Apple, Google e Microsoft faziam até então, com
Siri, Google Assistente e Cortana, a Alexa já nasceu com foco em atender o
usuário nas tarefas do dia a dia, principalmente se forem compras na loja.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Assim como suas concorrentes a Alexa
é uma assistente conversacional, capaz de entender contexto até certo ponto e
executar tarefas simples, como configurar alarmes, informar a situação do
trânsito ou a previsão do tempo, executar uma lista de músicas ou reproduzir
podcasts. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Mas, por não estar atrelada a um sistema
operacional, a Alexa é compatível com iPhone, Android, Windows e até consoles
de videogame, além de ser capaz de se conectar a uma vasta gama de dispositivos
de terceiros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Como funciona a Alexa?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Basicamente, é necessária uma
palavra de ativação para despertar a assistente e depois pedir o comando. Essa
palavra de ativação pode ser configurada para “Alexa”, “Amazon” ou “Echo”.
Assim, os microfones ficam sempre atentos para ouvir se o usuário vai executar
um comando.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Então, como nas demais assistentes
virtuais, quando a palavra de ativação é dita, basta prosseguir com a
solicitação. Exemplo: Alexa, defina um alarme para amanhã, às 3 da tarde. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Esses pedidos são gravados e enviados para
os servidores da Amazon, nos quais é feito o processamento da solicitação e,
depois, devolvidos ao usuário. Tudo acontece rapidamente. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> O que a assistente da Amazon consegue
fazer? A Alexa pode interagir com dispositivos tais como geladeiras, lâmpadas
inteligentes, micro-ondas, fechaduras, termostatos, controles remotos, TVs,
sensores de movimento, interruptores, entre outros. Tanto por comandos de voz
ditos pelos usuários quanto por interação com os aplicativos dedicados à
automação de tarefas, como o IFTTT.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Falando na Amazon, a Alexa é capaz
de fazer pedidos de compras: caso o usuário mantenha dados financeiros em sua
conta, ele pode usar comandos de voz e pedir que a assistente compre produtos
cotidianos. Em 2017, ela passou a aceitar pedidos de comida em redes como
Starbucks, Domino’s Pizza e Pizza Hut, entre outras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Além disso, no app, é possível usar
algumas habilidades criadas por terceiros — as chamadas skills –, aumentando a
gama de funções disponíveis nos dispositivos Echo.” Enfim, dentre muitas outras
coisas, Alexa é capaz de fazer pedidos de compras... [na minha crônica
original eu dava alguns exemplos comprovados da Alexa agindo por conta própria]
“. E de fazer exercícios escolares para estudantes, que não aprenderão as
noções mais básicas de aritmética, da língua portuguesa e do que mais seja. O
que esperar dos futuros profissionais assim “ensinados”?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> A questão é séria. Está reportado que uma
pesquisa recente elaborada pelo grupo americano de investimento Loup Ventures
mostrou que as assistentes virtuais não compreendem parte dos comandos.
Submetidas a um teste de 800 perguntas, a Google Assistant respondeu a 88% das
perguntas, a Siri a 75% e, por fim, a Alexa a 72%. Quando as assistentes
virtuais passam a tomar decisões por conta própria fica muito clara a
necessidade de reforçar seus sistemas de segurança. Mas, ao que tudo indica, a
prioridade do avanço tecnológico é com a velocidade. E surge a mais recente e
assustadora novidade tecnológica, deixando Alexa e congêneres como brincadeira
de criança: O ChatGPT.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O </span><a href="https://www.techtudo.com.br/tudo-sobre/chatgpt"><b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">ChatGPT</span></b></a><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> é um chatbot com </span><a href="https://www.techtudo.com.br/guia/2023/03/o-que-e-inteligencia-artificial-veja-como-surgiu-exemplos-e-polemicas-edsoftwares.ghtml"><b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">inteligência artificial (IA) </span></b></a><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">que interage com humanos e fornece
soluções em texto para diferentes questionamentos e solicitações. Desenvolvido
pela </span><a href="https://www.techtudo.com.br/tudo-sobre/openai"><b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">OpenAI</span></b></a><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">, o software é capaz de criar
histórias, responder a dúvidas, aconselhar, resolver problemas matemáticos e
muito mais — tudo isso com uma linguagem fluida e natural, semelhante à humana.
O chatbot se tornou bem popular nos últimos meses, chegando a atingir a marca
de um milhão de usuários em apenas uma semana de lançamento. É possível acessar
o site do ChatGPT em navegadores do computador ou de celulares após um simples
cadastro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Diversos comandos podem ser usados
com o ChatGPT a fim de explorar as milhares de possibilidades do robô. Quer
saber o que é ChatGPT, como fazer login e como usar? O <b>TechTudo</b> preparou
um guia completo sobre o chatbot da OpenAI para que você aprenda prompts úteis
para serem usados com a IA e utilidades do chat no dia a dia. Conheça também
perigos e controvérsias da plataforma e veja se há formas ou não de ganhar
dinheiro com ela (...) (5).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">“Desafio de regular inteligência
artificial não tem paralelo.” Este é o título de matéria publicada na seção
Opinião do GLOBO, de 26/02/23, pág. 2. A matéria discorre sobre os avanços da
IA e suas implicações na sociedade, terminando por alertar que a nova realidade
tornará mais salientes os dilemas éticos inerentes à IA. E questiona: “O que
acontecerá se ela for usada para cometer mais crimes? A quem devem pertencer os
direitos sobre o que for produzido? Como zelar por um ambiente competitivo que
não reproduza a ameaça dos monopólios digitais? Como garantir a evolução da
tecnologia com o mínimo de riscos para seus usuários, para a sociedade, para as
instituições? Essas são apenas as questões mais evidentes. Juridicamente será
preciso adotar critérios para regular os direitos autorais, a responsabilidade
civil (e mesmo criminal) e o modelo de negócios subjacente ao uso dos robôs. Tal
regulação impõe um teste inédito para a inteligência humana.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Em artigo intitulado “Mary Shelley
versus ChatGPT” (6), é relatada uma entrevista feita por um jornalista com este
software de Inteligência Artificial (IA). Ele permite que um computador acumule
informações sobre tudo e as retrabalhe, sendo capaz de escrever um artigo de
jornal sobre qualquer tema. O jornalista tratou o software como um
“entrevistado”, questionando-o sobre suas possibilidades e suas limitações. E
ainda sobre suas respostas serem tratadas como material original ou simples
plágio. O software teria se saído extremamente bem na entrevista, reconhecendo,
contudo, sua vulnerabilidade caso alimentado por informações falsas. Igualmente
assumiu sua incapacidade de julgar fatores subjetivos e reconhecer sua total
falta de sensibilidade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ao pensar na entrevista, o
articulista lembrou-se do célebre romance “Frankenstein”, escrito por Mary
Shelley em 1818, e cujo tema é a crítica aos excessos das teses materialistas
do Iluminismo e à onipotência da Razão. Um mundo super-racional perde as
características de sua humanidade. Recordemos o livro, inspirador de tantas
películas de Hollywood. Segue o artigo. Frankenstein é um médico que se refugia
em um castelo isolado e cria, a partir de partes recolhidas de diverso
cadáveres, um ser artificial que ele denomina “A Criatura”. Consegue infundir
vida nele através da passagem de uma corrente elétrica, desperta a Criatura e
lhe transmite todos os conhecimentos então disponíveis. O resultado é
desastroso. A Criatura foge de Frankenstein e passa a cometer crimes hediondos.
Frankenstein sai à sua procura e, quando finalmente a encontra dela escuta:
“Você é o meu criador, mas eu sou o seu Senhor!” Eloquente metáfora, escrita há
200 anos!, para ilustrar os riscos à que estamos nos expondo. Curiosamente, a
Criatura não somente cometeu crimes hediondos, acabando por causar a morte de
seu criador, como roubou o seu próprio nome, pois muitas pessoas chamam a
Criatura pelo nome de seu Criador, Frankenstein. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Outra matéria publicada em jornal (7),
“Chat GPT gera fake news mais convincentes”, com o subtítulo “Experimento com
697 voluntários aponta que tecnologia pode produzir tanto informação precisa
quanto conteúdo enganoso de forma mais eficiente que humanos; maioria não
distinguiu textos da ferramenta.” Relata-se o resultado de uma experiência
realizada com 697 voluntários submetidos a tuites noticiosos escritos por
humanos e pelo ChatGPT. Resultado? As fake news criadas pelo robô foram
avaliadas como com mais frequência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">As tecnologias de inteligência
artificial, como qualquer outra inovação, podem ser usadas para fins positivos
ou negativos, dependendo da maneira como são implementadas e controladas. É
responsabilidade dos criadores e usuários de inteligência artificial garantir
que ela seja usada de maneira ética, segura e benéfica para a sociedade como um
todo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Os debates em torno da inteligência
artificial e seus impactos na sociedade são importantes e devem ser abordados
de maneira cuidadosa e responsável. As preocupações legítimas sobre
privacidade, segurança, emprego e outros aspectos devem ser consideradas e
abordadas para garantir o uso responsável dessa tecnologia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Resolvi consultar o próprio ChatGPT
lhe dirigindo seguinte pergunta: “Você representa uma ameaça para a
humanidade?”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">“Como inteligência artificial, eu sou
apenas um programa de computador criado para fornecer informações e responder a
perguntas. Não tenho intenções, emoções ou capacidade de representar perigo
para a humanidade. Minha existência é regida por código de programação e pelos
princípios éticos e de segurança implementados pelos criadores.”<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Impressionante como ele foi capaz de
identificar prontamente quem representa a ameaça à Humanidade: o próprio ser
humano, seu criador. Ele mesmo, o inventor da dinamite, o promotor da fissão
nuclear, que possibilitou a fabricação das bombas atômicas (Robert Oppenheimer,
considerado “O pai da bomba atômica”, após a explosão de um teste bem sucedido no
deserto, exclamou: <b> </b>"Agora me tornei a Morte, o destruidor de
mundos",<b> </b>o avião, transportador de passageiros, mas, também, de artefatos
explosivos e incendiários, e uma infinidade de outras criações humanas,
extremamente úteis quando utilizadas para o bem, mas, escusado falar sobre os
terríveis efeitos quando utilizadas com fins maléficos. <b><o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Terminando nossas considerações sobre
o ChatGPT, constatamos que ele é realmente capaz de coletar informações já
disponíveis nos mais diversos meios e de produzir textos a partir delas. Mas
ele não é capaz de criar nada novo. Assim sendo, quando a nova geração, viciada
pela Inteligência Artificial, não for mais capaz de produzir nada de novo, em
qualquer ramo, o ChatGPT consequentemente não terá nada novo a acrescentar
àquilo que já respondeu. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Finalizando. São considerações de obscurantistas?
De luditas? Sou eu mesmo um ludita? Se sou, estou em boa companhia. John Casti,
ph.D., especializado nos estudos das teorias dos sistemas e da complexidade, e
que relaciona em seu livro “O Colapso de tudo” (8) UM APAGÃO NA INTERNET entre
onze alarmantes – e prováveis – situações que podem arrastar o mundo para uma
idade das trevas; Martin Rees, ex-Presidente da Associação Britânica para o
Avanço da Ciência, e autor de um livro com um título assustador: “Our Final
Century” (9) (Nosso derradeiro século); Jaron Lanier, filósofo da computação, e
um dos precursores da internet e da realidade virtual, autor do livro “Dez
razões para você deletar agora as suas redes sociais” (10), naturalmente um
exagero polêmico, no intuito de dramatizar a dependência da internet, de darmos
um tempo para reflexão. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O que fazer? Retornemos a Martin
Heidegger, que, embora veemente crítico do abuso da tecnologia, afirmava que
podemos ter uma outra relação com os objetos técnicos, que podemos utilizá-los
e, ao utilizá-los, permanecer ao mesmo tempo livres deles, de forma que
possamos a qualquer momento largá-los, utilizá-los como devem ser
utilizados: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> <i>Podemos dizer “sim” à utilização
inevitável dos objetos técnicos e podemos ao mesmo tempo dizer “não”, impedindo
que nos absorvam e, desse modo, verguem, confundam e, por fim, esgotem a nossa
natureza (Wesen). SERENIDADE (11) </i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> A esta atitude de deixar os objetos
técnicos entrarem em nosso mundo cotidiano e, ao mesmo tempo, deixá-los fora,
do sim e do não em relação a eles, o filósofo designa como a Serenidade para
com as coisas. Trata-se de usufruir da tecnologia sem ficar-se restrito,
dominado por ela. Simples assim, se me permitem o anglicismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> ----------------------------------------------------------------------------------------------------------<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">(1) O GLOBO. Edição de 19/07/2022. Segundo Caderno, Pag. 6. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">(2) ZIMMERMAN, Michael E. Confronto de Heidegger com a
Modernidade – Tecnologia/Política/ Arte. Lisboa: Instituto Piaget, 1990. Pag.308
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">(3) O GLOBO. Edição de 17/07/2022. Caderno Economia, Pag.22. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">(4) </span><a href="https://tecnoblog.net/responde/o-que-e-a-alexa-ou-melhor-quem-e/"><span style="color: windowtext; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">https://tecnoblog.net/responde/o-que-e-a-alexa-ou-melhor-quem-e/</span></a><span class="MsoHyperlink"><span style="color: windowtext; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span class="MsoHyperlink"><span style="color: windowtext; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">(5) https://www.techtudo.com.br/guia/2023/03/chatgpt-o-que-e-e-como-usar-veja-o-guia-completo-do-chatbot-da-openai-edsoftwares.ghtml<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">(6) ALQUÉRES, José Luiz. Mary Shelley versus ChaptGPT . O
GLOBO, ---<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">(7) O GLOBO, Edição de 29/06/2021. POLÍTICA, Pag.5<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">(8) CASTI, John. O Colapso de Tudo. Rio de Janeiro: Editora
Intrínseca ltda, 2012. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">(9) REES, Martin. Our Final Century. United Kingdon: Arrow
Books,2004 <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">(10) LANIER, Jaron. Dez Argumentos para você deletar agora as
suas redes sociais. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">(11) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget,
1959. Pag.23 </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><a name="_Hlk138360581"><o:p></o:p></a></p>
<span style="mso-bookmark: _Hlk138360581;"></span>
<p class="MsoNormal"><b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">José
Antonio C. Silva 31/07/2023<o:p></o:p></span></b></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-67406940364819717272023-05-31T19:35:00.000-03:002023-05-31T19:35:24.272-03:00Bombom de cereja com licor<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Bombom de Cereja com Licor<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Tinha a forte tendência a acreditar
que, dentre as inúmeras causas para o país não funcionar estava o excesso de
leis. Mas, afinal, o que é uma lei? Resolveu se aprofundar um pouco no tema. E pesquisou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“No sentido jurídico, a lei é uma norma, uma
ordem, uma regra geral de conduta, que exprime a vontade imperativa de um
Estado e à qual todos os seus cidadãos devem se submeter, podendo mesmo ser
punidos em caso contrário. Ainda que você desconheça uma lei, isso não lhe dá o
direito de desobedece-la. Precisamente por isso, vale a pena ter alguma noção
do que é o ordenamento jurídico brasileiro – ou seja, o conjunto de leis que
normatizam nossas vidas. Conhecê-las é o oficio dos advogados, mas ter um
conhecimento mínimo delas é o que permite a qualquer um o bom exercício da
cidadania.” (1)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Continuou lendo: “Naturalmente, não
se trata de uma questão simples, mesmo porque o ordenamento jurídico em vigor,
segundo estudo do ministro Ives Gandra Filho, do Tribunal Superior do Trabalho
(TST), é composto por 34 mil regras legais. São 10.204 leis ordinárias, 105
leis complementares, 5.834 medidas provisórias, 13 leis delegadas, 11.680
decretos-leis, 322 decretos do governo provisório e 5.840 decretos do poder
Legislativo.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Estremeceu. Mas, sabia que isso não
era tudo. O texto prosseguia. “Obscuridade e contradições – Para piorar, é um
consenso entre os juristas que se trata de milhares de textos obscuros, muitos
inconsistentes, vários repetitivos ou contraditórios, com o agravante de
existirem polêmicas sobre o que ainda está ou não em vigor, porque os
legisladores costumam abusar do célebre “revogam-se as disposições em contrário”
ao encerrar o texto de uma lei. É também em função disso que nossa Justiça é
lenta e certas causas podem-se arrastar nos tribunais durante décadas. Sem falar
nas diversas brechas que existem nesse ordenamento desordenado, as quais acabam
possibilitando a impunidade, um dos mais graves problemas brasileiros. A
solução para tudo isso só pode ocorrer gradualmente, com reformas e
aperfeiçoamento da legislação.” <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Impunidade. Criar dificuldades para
vender facilidades. Isso particularmente o indignava. Juízes, advogados,
peritos, fiscais, policiais etc. muito frequentemente utilizavam-se dessas
brechas no cipoal de leis para absolver criminosos ou, pior ainda, para
condenar e prender inocentes de acordo com a sua conveniência. Um notório
advogado declarou certa feita que preferia defender um culpado do que um
inocente. Isso porque o culpado aceitaria uma versão preparada por ele,
advogado, e que, embora forjada, pareceria verossímil ao julgador, resultando
na absolvição do réu. Já o inocente insistiria em manter a sua versão,
verdadeira, mas que pareceria inverossímil ao julgador, resultando em sua
condenação. Ou seja, um advogado que julgava seu compromisso com o cliente
acima do compromisso com a sociedade. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Postura radicalmente inversa daquela
adotada pelo advogado Heráclito Sobral Pinto, ícone da advocacia nacional, nos
idos de 1944, quando lhe foi pedido pelo então famoso poeta, e seu amigo,
Augusto Frederico Shmidt que o defendesse em uma causa. Surpreso pela condição
imposta pelo amigo para aceitar a causa - examinar antes todo o processo -, o
poeta retrucou: “Advogado não é juiz!” ao que o grande advogado respondeu: <b><i>“O
primeiro e mais fundamental dever do advogado é ser o juiz inicial da causa que
lhe levam para patrocinar. Incumbe-lhe, antes de tudo, examinar minuciosamente
a hipótese para ver se ela é realmente defensável em face dos preceitos da
justiça. Só depois de que eu me convenço de que a justiça está com a parte que
me procura é que me ponho à sua disposição.” (...) </i></b>(2).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Tudo isso o horrorizava, justamente
ele que procurara sempre pautar a sua conduta na obediência às leis, por mais
difícil que fosse não afrontar alguma delas por simples desconhecimento. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Eis que foi promulgada a chamada “Lei
Seca”, o que lhe pareceu mais do que justo, algum freio teria que ser imposto
aos bêbados ao volante ameaçando vidas. A letra da lei era dura, ele decidiu
que a partir de então ele não tomaria uma taça de vinho sequer em dia em que
fosse conduzir o seu carro, não importa quantas horas após. Em um delírio,
imaginava que um guarda de trânsito havia sido especificamente designado para
fiscalizá-lo, aonde quer que ele se dirigisse. Era paranoia, evidentemente, mas
que o mantinha a salvo dos rigores da lei. E assim decorreram os anos, sem que
uma vez sequer ele fossa parado nas centenas de blitzes montadas aleatoriamente
nas ruas para flagrar infratores. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Dirigia com todo o cuidado. O
trânsito, como de resto praticamente tudo no país, estava infernal, bêbados ou
não, em alarmante proporção, os condutores de veículos desrespeitavam as mais
elementares regras de trânsito. Eis que, para sua enorme surpresa, foi parado,
pela primeira vez na vida, numa blitz da Lei Seca. Estava absolutamente,
tranquilo, sua última ingestão de álcool se dera na véspera, duas taças de
vinho. O policial lhe explicou que era seu direito recusar-se a fazer o teste
do chamado bafômetro, mas que, neste caso, ele teria sua CNH confiscada por um
ano e pagaria pesada multa. Mas, caso decidisse fazer o teste, e este desse
positivo, ele seria preso. Não teve dúvidas em soprar o bafômetro. Quase teve
um colapso. Seu teste deu positivo! Como era possível? Argumentou com os
policiais que não ingerira qualquer bebida alcoólica naquele dia. A única coisa
que continha álcool que ele comera antes de sair com o carro fora um Bombom de
cereja com licor! Bradou. Os guardas se entreolharam, em deles sentenciou: “Foi
aí que o senhor se deu mal. Devia saber que o teor de álcool permitido para
exercer a direção é praticamente zero!”, e já foi sacando as algemas para
prender o delinquente. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">------------------------------------------------------------------------------------------<b>Nota</b>:
<i>Bombom, assim como a trufa, nada mais é que um doce composto por um recheio
que é envolto por uma camada de chocolate. No caso do bombom de licor, esse
recheio contém algum<b> tipo de licor</b>, uma bebida alcoólica que
geralmente tem ervas ou frutas em sua composição (...)<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">A ligação entre bombom de licor e lei
seca está justamente no fato de o doce possuir essa bebida alcoólica em seu
recheio. O problema é que a legislação quanto à bebida + direção é tão rigorosa
que não permite que o motorista seja flagrado com nenhum vestígio de álcool em
seu organismo.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Isso começou com a </span></i><a href="http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11705.htm" target="_blank"><i><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Lei Nº
11.705/2008</span></i></a><i><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">,
que alterou os artigos 165 e 276 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). (...)
Leia mais em (3)<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin-left: 60.5pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(1)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><a href="https://educacao.uol.com.br/disciplinas/cidadania/legislacao-mais-de-34-mil-leis-ordenam-a-vida-dos-brasileiros.htm%20%20"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">https://educacao.uol.com.br/disciplinas/cidadania/legislacao-mais-de-34-mil-leis-ordenam-a-vida-dos-brasileiros.htm<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></a><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin-left: 60.5pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span class="MsoHyperlink"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-list: Ignore;">(2)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span></span><!--[endif]--><a href="https://luizberto.com/as-soberbas-licoes-de-sobral-pinto/"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">https://luizberto.com/as-soberbas-licoes-de-sobral-pinto/</span></a><span class="MsoHyperlink"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<h2 style="background: white; margin-bottom: 0cm; margin-left: 60.5pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-line-height-alt: 14.4pt;"><span style="color: #929292; font-family: "Arial",sans-serif; font-weight: normal; letter-spacing: -.1pt;"><o:p> </o:p></span></h2>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">(3)</span><a href="https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2013/01/bombom-de-licor-provoca-teor-de-embriaguez-em-teste-feito-em-natal.html"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2013/01/bombom-de-licor-provoca-teor-de-embriaguez-em-teste-feito-em-natal.html</span></a><span class="MsoHyperlink"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="MsoHyperlink"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p><span style="text-decoration: none;"> </span></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="MsoHyperlink"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">José Antonio
C. Silva<b><o:p></o:p></b></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span class="MsoHyperlink"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">28/05/2023</span></span><b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></b></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-9859878196136294242023-04-15T15:19:00.004-03:002023-12-03T11:12:13.873-03:00A RE-evolução dos Bichos (conto de Claudio Lacet) <p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Introdução ao conto a RE-evolução dos
Bichos, de Claudio Lacet<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Em uma certa manhã conversávamos
placidamente em minha casa eu e meu amigo Claudio Lacet sobre temas variados,
desde o famigerado vírus – Covid 19, até a crueldade dos humanos com os
animais. Eu lhe falei da minha ideia de escrever um conto em que começaria com
uma festa na savana africana, com os animais, caça e caçadores, alegremente se
confraternizando. O motivo teria sido o completo extermínio da raça humana
causado por um vírus muitíssimo mais letal que o Covid. Seria uma trégua de uma
semana, após a qual as relações entre os animais voltariam àquelas ditadas pela
natureza. Qual não foi a minha surpresa quando, já na tarde daquele dia, o meu
amigo, rápido no gatilho, me exibiu o conto que se segue, irretocável, e que
estou postando a seguir.<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">A Re-evolução dos Bichos<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 141.6pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">(Autor: Claudio Lacet)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Num átimo avistou-se o pulo que o
leão deu na zebra, bote certeiro. Mas não se tratava de um ataque e sim de um
gesto de confraternização. Abraçavam-se como grandes amigos que há tempos não
se viam. A leoa dançava can-can de braços entrelaçados com quatro hienas. A
cascavel e o rato papeavam alegremente enquanto o novilho beijava alegremente
uma sucuri.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Não havia rancores, nem nenhuma
competição. Ninguém estava preocupado se era dia da caça ou do caçador. Muito
menos queriam saber quem estava mais ou menos adaptado àquela região.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Mais e mais animais chegavam à festa.
Convescote este que se repetia em todos os biomas e continentes do globo. Até
na Antártica. Da savana africana o leão havia transmitido a ordem a todo o
planeta: sete dias de confraternização e trégua entre todos os bichos que
existem. O motivo? Como já havia advertido Camus, o ser humano mal havia se
livrado de uma pandemia e comemorava a cura enquanto algo muito pior estava por
surgir. Veio a nova peste que o eliminou de forma definitiva do planeta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Durante a festa o jacu comentou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">- O homem se dizia o mais inteligente
e humano dos animais, mas, se conseguia constantemente maltratar e matar os
seus próprios semelhantes por pura maldade, ganância ou negligência, imagina o
que ele acabava por fazer com outros animais? Algum dia a conta chegaria.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">E a festa seguia. Cada vez mais e
mais animada. Um bicho mais feliz que o outro. Mas de todos o mais alegre era,
sem sombra de dúvida o sisudo corvo. Há anos não dava um sorriso, desde a morte
da sua saudosa corva Lenora, outrora morta atropelada, jazendo buarquemente na
contramão da estrada, atrapalhando o trânsito. Mas naquele dia revoava,
como um louco, de um lado para o outro, e gargalhava alegremente, e, com muito
gosto, repetia, num grito que saia lá de dentro de sua nobre alma: “NEVERMORE,
NEVERMORE”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Postado aqui no blog, em 15/04/23,
com o consentimento do autor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">------------------------------------------------------------------------------------------Notas
(por José Antonio). Para os não lembrados ou que desconhecem certas citações do
texto:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">1-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Buarquemente na contramão da
estrada, atrapalhando o trânsito – remete à genial composição de Chico
Buarque de Holanda “Construção”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">2-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Camus- Albert Camus, em seu livro “A
Peste”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">3-<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">A corva Lenora – do imortal poema “O
Corvo”, de Edgard Allan Poe<o:p></o:p></span></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-1191968079237835522023-02-21T10:38:00.001-03:002023-02-21T10:38:33.829-03:00LINA<p> l</p><p class="MsoNormal" style="margin-left: 106.2pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">LINA<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 106.2pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Dia 18 de novembro de 2022. Meu filho
Cristiano, residindo em São Paulo, onde trabalha na administração de um <i>shopping</i>,
passava uma temporada de um mês aqui conosco, no Rio, designado para auxiliar
na conclusão dos trabalhos de um novo <i>shopping</i>, da mesma cadeia. A
inauguração foi um sucesso, ele e todos nós ficamos orgulhosos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Cristiano pediu então à mãe que
escolhesse um local bem especial, para tomarmos uns drinks e comermos uns
petiscos. Sua esposa Priscilla, vinda de São Paulo, também participaria. Edna
então escolheu um bar no Hotel Fairmont, ao final da Praia de Copacabana, de
onde se descortinava uma belíssima vista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Abro aqui um parêntese para anotar
que foi justamente naquele hotel onde, em janeiro de 1980 (na época se chamava
Rio Palace), Frank Sinatra se apresentou durante às noites dos dias 22,23, 24 e
25, para culminar com o monumental show no sábado, dia 26, no Maracanã. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aquelas apresentações no hotel foram a preço
altíssimo, tanto que eu, grande fã do artista, optei por não comparecer, circunstancia
da qual iria me arrepender. Mas, é claro, ao Maracanã eu compareci, junto aos
meus pais, um casal de amigos e a Edna, que carregava em sua barriga aquela que
pouco menos de um mês após viria ao mundo, a nossa maravilhosa filha Juliana. De
alguma forma ela deve ter captado, lá no ventre da mãe, a magia transmitida
pelo “The Voice”, pois ela viria a ser sua admiradora.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Voltemos à noite do encontro com o
nosso filho e esposa. Pareciam particularmente felizes. Solicitei a carta de
bebidas. A variedade era grande, pedi conselho ao Cristiano, bastante
atualizado nos drinks em moda. Ele sorriu e disse que já havia escolhido o
dele. Imaginei algo a base de Gin. Foi com surpresa que o garçom chegou
portando um balde dentro do qual se encontrava uma garrafa de champagne.
Aprovei a escolha, e ele logo se apressou em abrir a garrafa e encher as nossas
taças. Brinde feito, o casal passou às mãos da Edna uma caixa dentro da qual
havia um sapatinho. Fiquei alguns instantes sem compreender o sentido daquilo,
diferentemente da Edna, que imediatamente entendeu que era o anúncio de uma
gravidez, de um bebê a caminho. Total surpresa para nós, pai e mãe, que
tínhamos como fechada a conta em nossos queridos netinhos: Rafael e Felipe,
ambos filhos da Juliana.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Olhei para o Cristiano. Ostentava um
ar de felicidade como, creio, jamais ter visto nele. Olhava para sua esposa com
enorme carinho, e era integralmente correspondido. Sorvemos as taças de
champagne e passamos momentos maravilhosos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Logo retornaram às suas atividades em
São Paulo. Ansiosos, todos nós aguardávamos o resultado do exame que iria
definir o sexo do bebê. Apostas para os dois lados, finalmente no dia 19 de
dezembro chegou a mensagem: era menina! Já tinha até nome: Lina. Muito bom.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Chegava o final de ano e o Réveillon.
De volta ao Rio, o feliz casal juntou-se à familiares para apreciar a queima do
fogos em Copacabana do alto de um hotel em frente à praia. Juntava-se ao grupo
cinco participantes vindos diretamente da Itália: minha sobrinha Anna Paula,
seu marido Agostino, suas filhas Chiara e Francesca e o filho Federico. E a
minha irmã Suely, motivo principal da viagem de Anna, sua filha. Terminávamos,
assim, felizes, um ano difícil sob muitos aspectos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">2023. Escrevo estas linhas no período
do Carnaval, do qual me mantenho afastado. Aos poucos Lina vai ganhando
presentes, todos mostrando muito carinho pelo bebezinho que está a caminho. Já
se prepara o “chá de bebê” para março. Ela vai compor com os priminhos Rafael e
Felipe um trio de muita alegria a todos: pais, avós paternos e maternos – os
muito prezados Gil e Eunice-, tios, primos etc.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Coloco um ponto final nesta crônica
hoje, dia 21 de fevereiro, dia de aniversário da nossa amada filha Juliana,
comemorando com o Carlos- seu marido e pai dos netinhos-, minha irmã Suely e um
casal de prezados amigos, Claudio e Fiorella, que também, por grande
coincidência, também aniversaria hoje.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Feliz 2023 para todos!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">21/02/2023<o:p></o:p></span></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-57171578500494140032022-07-22T14:11:00.001-03:002022-08-08T17:33:39.826-03:00O Feitiço da Técnica<div style="text-align: justify;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span>O Feitiço da Técnica </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> Duas matérias recém publicadas em jornal me fizeram retornar a um tema extremamente recorrente em meus escritos: o feitiço exercido pela Técnica sobre o homem. Começaremos pelo artigo do jornalista Leo Aversa, intitulado “5G? Prefiro o meu Nokia de volta” (1). </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> Em um artigo inteligente e bem humorado, Aversa começa por ironizar a propaganda em torno da chegada ao Rio do 5G, e que seria chegada a hora de trocar o celular. “Além da supervelocidade – como vivi antes dela, me pergunto -, ao que parece o 5G vai conectar as coisas. Todas as coisas. Elas vão conversar entre si e resolver seus problemas de forma objetiva”. “Boa sorte para as coisas”, ironiza. E prossegue citando os alardeados benefícios trazidos pelo 5G. “Os filmes, as músicas, as mensagens terão um download mais rápido, avisam os reclames. Comunicação instantânea, exultam”. E, então, faz uma crítica extremamente percuciente: o problema nos dias atuais não é a falta de comunicação, mas, sim, o excesso! E se permite preferir que voltássemos ao 3G, ao 2G, ao G original. Já seria bastante para falar com quem se precisa e mandar mensagem para quem se quer. Sustenta, mesmo, que se poderia voltar para o Nokia tijolão que, especula, seria ½ G, mais do que suficiente para situações de emergência. Curiosamente, diversas vezes me surpreendi fazendo esse mesmo discurso. O tijolão, que os homens podiam exibir expostos, atados ao cinto, sem qualquer preocupação com o risco de assalto, foi útil para que meus filhos, na época frequentadores das baladas, pudessem pedir socorro a mim ou a minha esposa em caso de sufoco, ou simplesmente dar notícia sobre seu paradeiro. Em galopante transformação, o tijolão foi sendo substituído por artefatos de alta tecnologia, através dos quais se pode fazer quase tudo. Literalmente condensam praticamente toda a informação sobre as nossas vidas, fazendo com que eles se tornem o objeto preferido de bandidos cada vez mais ousados.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> Prosseguindo, Aversa se pergunta se não deveria deixar de reclamar da tecnologia, pois se estivesse escrevendo seu texto à máquina teria muito mais trabalho e gastaria muito mais tempo, ainda que o tec-tec-tec do batucar das teclas fosse inspirador e memorável a cena de arrancar o papel da máquina para conferir o texto. Neste ponto, parece que o articulista travou algum contato com uma apreciação do filósofo Martin Heidegger, como veremos a seguir. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span>Assim, recorrerei a Heidegger, que se preocupou com as alterações na vida cotidiana trazidas pelo uso das inovações tecnológicas. Zimmerman, em seu livro “O Confronto de Heidegger com a Modernidade” (2) toma como exemplo a máquina de escrever, que poderia ser considerada apenas um modo mais eficiente de escrever-se, mas que, no entanto, o filósofo considerava a eficiência como sendo uma medida errada para usar-se em matéria de avaliação da escrita. Para ele, escrever era essencialmente escrita à mão:</div><div style="text-align: justify;"><span> </span><br /></div><div style="text-align: justify;"> <span> </span><i>Sabia [Heidegger] por experiência própria que o seu pensamento ocorria através da mão, enquanto escrevia. A escrita à máquina minou tanto o pensamento como a linguagem, porquanto a palavra já não vai e vem através da escrita e da mão que age automaticamente, mas antes da pressão mecânica que ela exerce [nas teclas da máquina]. A máquina de escrever separa a escrita do domínio essencial da mão, e, acrescente-se, da palavra (1990, p.308) <span> </span></i><span><i> <span> </span></i><span><i> <span> </span></i><span> <span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span></span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> Para Heidegger, conforme Zimmerman, as máquinas de escrever tinham a sua utilidade, por exemplo, para reproduzir e preservar coisas já escritas à mão, mas que não havia lugar para escrita à máquina em se tratando de correspondência pessoal. O filósofo considerava que, quando as máquinas de escrever apareceram, as pessoas sentiram-se insultadas por receberem cartas datilografadas. “A escrita à máquina esconde o caráter pessoal do autor da carta, contribuindo dessa forma para a homogeneização da humanidade” (HEIDEGGER apud ZIMMERMANN, 1990, p. 308). Neste ponto eu me permito dar o meu testemunho. Coleciono em meus guardados muitas dezenas de cartas à mão escritas há muitas décadas por velhos amigos e antigas namoradas, e em todas recebo mais do que as palavras em si. O tipo de papel usado, o formato das letras, os riscados, a firmeza ou a tibieza do traço, os erros ortográficos não capturados por um corretor de textos inexistente na época, tudo isso complementa a emoção que uma carta pessoal transmitia.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> O comentador escreve que a objeção de Heidegger à prática da escrita de cartas pessoais à máquina era compartilhada por muitos dos seus contemporâneos, e que, embora a máquina de escrever seja um sintoma da era tecnológica, o filósofo concede (apud ZIMMERMAN, 1990, p.308) “que ela não é ainda uma máquina no sentido estrito de tecnologia moderna, antes é um intermediário entre a ferramenta e a máquina, um mecanismo. A sua produção, todavia, é condicionada pela tecnologia de máquinas”.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> A máquina de escrever, por sua vez, foi substituída pelo processador de textos, este um lídimo produto da tecnologia moderna, um gigantesco passo além da escrita à máquina, que já representara um considerável avanço em relação à escrita à mão. Estamos mais uma vez diante de uma radical mudança de conceito de escrever, pois até mesmo o termo “processador de texto” sugere, conforme Zimmerman (1990, p.308), “um massagear, um moldar, uma gestão de palavras, como se elas fossem matéria prima - plástica”. Embora reconhecendo as inegáveis vantagens do processador de texto sobre a escrita à mão e a escrita à máquina (com o que estou de inteiro acordo, ainda que compreendendo as considerações de Heidegger) esse autor assinala que:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> Na medida em que as palavras produzidas pelo monitor não são ainda coisa alguma de permanente, antes meros padrões de elétrons, alguns utilizadores de processador de texto alegam sentir-se menos ansiosos ao escreverem nele, por sentirem-se menos comprometidos às palavras que apenas “processaram” (ZIMMERMAN, 1990, p.308).</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> Retornando ao texto de Aversa, ele deixa claro que a sua queixa do telefone é sua onipresença, quando ele virou uma prótese do corpo humano. E o 5G somente aumentará o vício, a subjugação à técnica. E quais seriam as vantagens? Fakenews se espalhando mais rapidamente, vídeos sem graça do WhatsApp circulando mais lépidos, tretas rolando frenéticas pelas reses socias, exemplifica. Eu acrescentaria as tentativas de golpe, as teorias da conspiração e o patrulhamento do politicamente correto entre os fenômenos que ganharão velocidade de transmissão. E aponto para o WhatsApp como a grande ferramenta de veloz propagação de irreflexões de toda ordem, em completa distorção de uma utilização sadia, como alternativa à mídia tradicional frequentemente bastante comprometida.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> A segunda recente matéria que me me caiu aos olhos foi “Alexa, Siri, quem foi às compras sem eu pedir?” (3). A matéria trata de uma questão bastante preocupante, assustadora, mesmo, com o subtítulo “Crescem relatos de encomendas feitas por assistentes virtuais sem o aval dos clientes. Falha preocupa especialistas”. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span>Agora vamos tratar de problemas causados pelo uso de assistentes virtuais como a Alexa, da Amazon, a Siri, da Apple e o Google Assistant. Afinal, o que são esses assistentes virtuais? Alexa, por exemplo? Vamos recorrer ao link (4)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> “Alexa é o nome da assistente virtual da Amazon, introduzida em 2014 com a Echo, sua primeira caixa de som inteligente. Diferente do que Apple, Google e Microsoft faziam até então, com Siri, Google Assistente e Cortana, a Alexa já nasceu com foco em atender o usuário nas tarefas do dia a dia, principalmente se forem compras na loja.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> Assim como suas concorrentes a Alexa é uma assistente conversacional, capaz de entender contexto até certo ponto e executar tarefas simples, como configurar alarmes, informar a situação do trânsito ou a previsão do tempo, executar uma lista de músicas ou reproduzir podcasts. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span>Mas, por não estar atrelada a um sistema operacional, a Alexa é compatível com iPhone, Android, Windows e até consoles de videogame, além de ser capaz de se conectar a uma vasta gama de dispositivos de terceiros.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> Como funciona a Alexa?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> Basicamente, é necessária uma palavra de ativação para despertar a assistente e depois pedir o comando. Essa palavra de ativação pode ser configurada para “Alexa”, “Amazon” ou “Echo”. Assim, os microfones ficam sempre atentos para ouvir se o usuário vai executar um comando.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> Então, como nas demais assistentes virtuais, quando a palavra de ativação é dita, basta prosseguir com a solicitação. Exemplo:
Alexa, defina um alarme para amanhã, às 3 da tarde. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span>Esses pedidos são gravados e enviados para os servidores da Amazon, nos quais é feito o processamento da solicitação e, depois, devolvidos ao usuário. Tudo acontece rapidamente. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span>O que a assistente da Amazon consegue fazer?
A Alexa pode interagir com dispositivos tais como geladeiras, lâmpadas inteligentes, micro-ondas, fechaduras, termostatos, controles remotos, TVs, sensores de movimento, interruptores, entre outros. Tanto por comandos de voz ditos pelos usuários quanto por interação com os aplicativos dedicados à automação de tarefas, como o IFTTT.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> Falando na Amazon, a Alexa é capaz de fazer pedidos de compras: caso o usuário mantenha dados financeiros em sua conta, ele pode usar comandos de voz e pedir que a assistente compre produtos cotidianos. Em 2017, ela passou a aceitar pedidos de comida em redes como Starbucks, Domino’s Pizza e Pizza Hut, entre outras.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> Além disso, no app, é possível usar algumas habilidades criadas por terceiros — as chamadas skills –, aumentando a gama de funções disponíveis nos dispositivos Echo.”
Enfim, dentre muitas outras coisas, </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span>Alexa é capaz de fazer pedidos de compras. E foi o que ela fez, segundo a referida matéria publicada no jornal, só que o fez por conta própria, sem ter sido solicitada pelo seu usuário. Estão relatados diversos casos dessa independência desses assistentes virtuais. Uma senhora, em mudança do Rio para São Paulo, relata ter recorrido à Siri para organizar as compras para o novo endereço. Dois meses depois foi surpreendida com uma compra repetida de pratos, copos e outros apetrechos para a casa cobrada em seu cartão. Duas semanas mais tarde, nova surpresa: a compra de uma passagem aérea para o Rio, sem que ela houvesse comandado a compra. Outro caso reportado foi o ocorrido com um estrategista digital dono de duas Alexas, uma TV Smart, tablet e smartphone de última geração. Sua paixão pela tecnologia digital o levou a fazer compras pela Alexa, até que o assistente virtual assinou um pacote de TV anual confundindo sua solicitação de pesquisa sobre aplicativos de streaming. Após esta ocorrência, desistiu de fazer compras virtuais. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span>A questão é séria. Está reportado que uma pesquisa recente elaborada pelo grupo americano de investimento Loup Ventures mostrou que as assistentes virtuais não compreendem parte dos comandos. Submetidas a um teste de 800 perguntas, a Google Assistant respondeu a 88% das perguntas, a Siri a 75% e, por fim, a Alexa a 72%. Quando as assistentes virtuais passam a tomar decisões por conta própria fica muito clara a necessidade de reforçar seus sistemas de segurança. Mas, ao que tudo indica, a prioridade do avanço tecnológico é com a velocidade.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> Finalizando. São considerações de obscurantistas? De luditas? Sou eu mesmo um ludita? Se sou, estou em boa companhia. John Casti, ph.D. especializado nos estudos das teorias dos sistemas e da complexidade, e que relaciona em seu livro “O Colapso de tudo” (5) UM APAGÃO NA INTERNET entre onze alarmantes – e prováveis – situações que podem arrastar o mundo para uma idade das trevas; Martin Rees, ex-Presidente da associação Britânica para o Avanço da Ciência, e autor de um livro com um título assustador: “Our Final Century” (6) (Nosso derradeiro século); Jaron Lanier, filósofo da computação, e um dos precursores da internet e da realidade virtual, autor do livro “Dez razões para você deletar agora as suas redes sociais” (7), naturalmente um exagero polêmico, no intuito de dramatizar a dependência da internet, de darmos um tempo para reflexão. O que estará acontecendo? Uma resposta muito bem estruturada eu a encontrei no livro do escritor norte-americano Nicholas Carr (8) objeto de uma crônica postada aqui neste blog intitulada “Ninguém mais lê e-mails” (ressalte-se que Carr é um homem absolutamente afinado com o desenvolvimento da informática, um ativo usuário das mais atualizadas ferramentas que ela coloca à disposição da sociedade). O que ele faz ao longo do livro é uma crítica ao uso abusivo da internet, o que ele mesmo fazia, até se dar conta e fazer uma desintoxicação muito bem planejada, com uma desconexão quase completa por um período de alguns meses, seguido de um retorno em bases equilibradas. E, temos, obviamente Martin Heidegger, que, embora veemente crítico do abuso da tecnologia, afirmava que podemos ter uma outra relação com os objetos técnicos, que podemos utilizá-los e, ao utilizá-los, permanecer ao mesmo tempo livres deles, de forma que possamos a qualquer momento larga-los, utilizá-los como devem ser utilizados: </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> <i>Podemos dizer “sim” à utilização inevitável dos objetos técnicos e podemos ao mesmo tempo dizer “não”, impedindo que nos absorvam e, desse modo, verguem, confundam e, por fim, esgotem a nossa natureza (Wesen). SERENIDADE (9) </i></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span> </span> A esta atitude de deixar os objetos técnicos entrarem em nosso mundo cotidiano e, ao mesmo tempo, deixá-los fora, do sim e do não em relação a eles, o filósofo designa como a serenidade para com as coisas. Trata-se de usufruir da tecnologia sem ficar-se restrito, dominado por ela. Simples assim, se me permitem o anglicismo.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> ----------------------------------------------------------------------------------------------------------
<span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span>(1) O GLOBO. Edição de 19/07/2022. Segundo Caderno, Pag. 6.
(2) ZIMMERMAN, Michael E. Confronto de Heidegger com a Modernidade – Tecnologia/Política/ Arte. Lisboa: Instituto Piaget, 1990. Pag.307
(3) O GLOBO. Edição de 17/07/2022. Caderno Economia, Pag.22.
(4) https://tecnoblog.net/responde/o-que-e-a-alexa-ou-melhor-quem-e/
(5) CASTI, John. O Colapso de Tudo. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca ltda, 2012.
(6) REES, Martin. Our Final Century. United Kingdon: Arrow Books,2004
(7) LANIER, Jaron. Dez Argumentos para você deletar agora as suas redes sociais.
(8) CARR, Nicholas. O que a internet está fazendo com os nossos cérebros – A Geração Superficial: AGIR, Rio de Janeiro, 2011
(9) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Lisboa: Instituto Piaget, 1959. Pag.23</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"> José Antonio C. Silva
22/07/2022</div>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-6331365575310096102022-04-19T21:57:00.000-03:002022-04-19T21:57:19.834-03:00Atenção: Desliguem o celular! Atenção: Desliguem o celular!
"Não se pode pisar duas vezes no mesmo rio." (Heráclito)
O progressivo uso do celular, do smartphone e congêneres no espaço público vem provocando crescente discussão na sociedade. A Revista O GLOBO, edição de 15/09/2013, sob o título As vantagens e desvantagens da febre contemporânea de se registrar shows, peças e até jogos com smartphones, trata desse incômodo costume que vem se arraigando entre nós. Incômodo para a grande maioria dos espectadores, mas que encontra seus defensores.
A matéria começa relatando o ocorrido durante um recente show realizado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no dia 29 de agosto deste ano, aniversário do cantor, compositor e instrumentista Edu Lobo, que celebrava a data. Na última canção, antes do bis, Edu Lobo fez uma homenagem a Vinicius de Moraes com uma versão emocionada de “Canto Triste”. Sendo um dos momentos mais marcantes do espetáculo, era de se esperar que a plateia recebesse a execução em atencioso e concentrado silêncio. Entretanto, o que se viu foi uma enorme quantidade de espectadores brandindo seus celulares para registrar aquele delicado momento. Feixes de luz surgiam de aparelhos ao longo de todo o majestoso teatro, a interpretação do cantor podia ser vista numa telinha mesmo por quem não possuía o gadjet: bastava olhar para o smartphone de alguém sentado numa poltrona ao seu lado
“Fiquei impressionada, principalmente por ser no Teatro Municipal. Está acontecendo em todo tipo de show. As pessoas estão mudando a relação delas com a arte. Não há mais uma entrega à emoção do espetáculo, a preocupação é ´em deixar rastro` nas redes sociais” ― conforme observação da diretora Gabriela Gastal, que dirigia o DVD do show que o artista fazia naquela noite. Mais adiante o artigo menciona o ocorrido no último show que realizou no Circo Voador, Rio de Janeiro, em fevereiro deste ano, o músico norte-americano Mayer Hawthorne (neo soul music), que pediu encarecidamente à plateia que desligasse os telefones e prestasse atenção à apresentação.
Está cada vez mais difícil não ter a experiência de assistir-se a um show sem ser perturbado por usuários de smartphones e tablets: eles estão obcecados em registrar tudo o que veem para guardar ou compartilhar em redes sociais. E o fenômeno é mundial, conforme ilustrado por comportamento semelhante na citação de shows realizados em países tão dessemelhantes como os Estado Unidos, o Japão e a Polônia. Em abril deste ano, em Nova York, a banda (de Rock) americana Yeah Yeah Yeahs colou um cartaz na entrada de uma sala de concertos: “Por favor, não assista ao show através da tela do seu smartphone. Larguem esta m----, como um gesto de cortesia com a pessoa que está atrás e conosco. Muito amor e muito obrigado.” Na Polônia, os organizadores de um festival de música (Unsound), na Cracóvia, tomaram a decisão radical de proibir o público de registrar os shows, com a justificativa oficial de que “as pessoas estão cada vez mais interessadas em exteriorizar a experiência, não em interiorizá-la.” É importante frisar que os três espetáculos citados ―o festival Unsound e os shows de Hawthorne e da banda Yeah Yeah Yeahs― foram protagonizados por artistas jovens, executando música para plateias jovens, e, que, mesmo num ambiente descontraído, exigiram concentração para o seu trabalho. Sintonizado com o problema, o fotógrafo carioca Rafael Lopes, 27 anos, especializado em espetáculos, desabafa: “As fotos e vídeos ficam ruins, a luz da câmera incomoda quem está em volta, o flash perturba o artista no palco. Além disso, as pessoas vão apagar as imagens na primeira oportunidade, ao perceber que a memória do telefone está cheia. Muitos nem olham as fotos depois, E ainda atrapalha quem está fazendo os registros profissionalmente.”
Mas, ao contrário, há quem defenda a prática. A matéria da Revista apresenta argumentos daqueles que defendem a importância de se ter um registro dos shows, mesmo que de forma amadora, para a criação de uma memória. E a diretora de seus vídeos e shows Priscila Brasil é citada como uma entusiasta da prática. Ela considera que “quando alguém puxa o celular para filmar o show é porque algo o moveu. Vejo como um ato de amor ao artista (...) É engraçado pensar que elas simplesmente não estão prestando atenção como deveriam. Eu acho simplesmente o contrário."
É curiosa essa argumentação. É lícito afirmar que sacar um celular para filmar o show, ou momentos do show, é um ato de amor ao artista? Primeiramente, é certo, que essa prática envolve um ato de desamor ao próximo, o espectador que sente-se perturbado, distraído em sua atenção. Ele pagou para estar ali e gozar o espetáculo ao vivo, uma experiência real, presencial, única, irreprodutível. Se alguém prefere diferir esse gozo para assistir ao espetáculo a posteriori, filmado, deve fazê-lo comprando uma gravação (e o show, gravado, será um outro show, já não é o mesmo rio) feita por um profissional qualificado e devidamente autorizado pela produção. Não tem o direito de perturbar terceiros. E certamente também será um completo desrespeito ao artista sempre que sua performance exigir concentração, entrega, atenção plena, como na ópera, no drama, no balé, na música clássica, e em tantas outras manifestações de arte ― erudita ou popular.
Finalmente, a reportagem apresenta um terceiro posicionamento em relação ao tema. É o daqueles que, embora reconhecendo que o barulho e os flashes de smartphones de fato atrapalham a concentração do artista, argumentam na linha do “não se pode frear a tecnologia” ou “não dá para fugir do futuro”. Ou seja, devemos aceitar deterministicamente os efeitos colaterais do avanço tecnológico, por piores que sejam. Nega-se ao homem o poder da liberdade de aperfeiçoar suas relações com a técnica e seus objetos.
O abuso do celular vem causando grande desconforto também em salas de cinema, de teatro, academias de ginástica e de fisioterapia, e em outros lugares públicos, como elevadores, bares e restaurantes, veículos de transporte coletivo etc. (pode-se imaginar o horror que será estar confinado por onze, doze horas dentro de um avião se algum dia a proibição do uso de celular vier a ser revogada). Os inconformados com tal abuso já começam a reagir de forma indignada quando sua atenção é desviada da tela de um cinema pelo ronco ou pelo flash de um celular não desligado, em desobediência ao aviso que precede cada exibição de um filme: “desliguem os celulares”. A sala de aula é outro candente exemplo da invasão do celular, os alunos sempre de prontidão a atender telefonemas e a checar suas caixas postais eletrônicas, em detrimento da atenção necessária à apreensão do conteúdo didático que os professores tentam lhes transmitir. O celular, o smartphone, o tablet tornam-se uma extensão do corpo humano, cria-se uma dependência que em estados mais avançados pode tornar-se uma verdadeira compulsão.
Foi longa a campanha de proibição de fumar em ambientes fechados. Apesar das incontestáveis
evidências de graves malefícios a fumantes, ativos e passivos, levou muito tempo para que o fumo viesse a ser, por lei, terminantemente proibido em lugares fechados, e que a lei “pegasse”. Pelo visto, ainda há um longo caminho de confrontações entre aqueles que não desgrudam de seus celulares e aqueles que querem simplesmente ser deixados em paz.
Outubro/2013
José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-52486749516657506952021-09-21T16:22:00.006-03:002021-09-24T10:33:20.437-03:00RECORDAÇÕES
Aqui, sozinho, em meu apartamento, um tempo muito feio, chuvoso e cinzento, volto-me para dentro de mim mesmo, para o meu passado. O que o futuro me reserva de novas experiências? Ao completar 76 anos, durante a longa Peste do COVID-19, escrevi crônica sobre isso (“Eis que a idade chegou”), senti o peso do passar dos anos. No físico, pela interrupção do meu programa de exercícios, e psiquicamente, pelo ambiente em que todos estamos mergulhados. Ao ler a tal crônica, uma querida amiga disse que eu estava pronto para escrever a minha biografia. Aqui, dou algumas ligeiras pinceladas. Sou aquilo que alguns vêm como “nostálgico”. Se é pelo fato de continuar curtindo os grandes mestres da música norte-americana como Frank Sinatra, Nat King Cole, Louis Armstrong, Tony Bennett (inacreditavelmente ainda vivo no momento em que escrevo, aos 95 anos, cantando para grandes audiências) ou executada por grandes instrumentistas, aceito o rótulo. Se é ainda pelo fato de eu curtir o cinema clássico de Hollywood em filmes produzidos por mestres como Chaplin, Hitchcock, Billy Wilder, dentre muitos outros, aceito o rótulo. Se é por curtir Tom Jobim (permanece vivo em dezenas de países, influenciando sua música (no Brasil - seu país! - já quase esquecido), então aceito o rótulo. Quanto a curtir muitos temas da música clássica produzidos por Beethoven, Tchaikovsky, Puccini, Chopin etc., assim como gigantes da literatura universal como Tolstoi, Dostoievsky, Kafka, Allan Poe, Garcia Márquez e tantos mais creio que não serei rotulado “nostálgico”, não ousariam. [PARÁGRAFO]
O fato é que, desde muito criança eu, muito tímido e criado entre tios mais velhos, na grande chácara onde morava minha avó paterna e seus 12 filhos, o mais próximo de mim era 4 anos mais velho, chegava a causar uma certa preocupação em meu pai sobre o que eu viria a ser, e ele certa feita me disse: “Você só se sente à vontade na casa da sua avó”. Essa preocupação não durou muito tempo, por volta dos 9 anos de idade ele já me compreendia, nos tornamos amigos, e assim fomos enquanto ele viveu, sempre muito ligados. Eu voltava-me para a leitura. Aprendi a ler aos 6 anos de idade e não parei mais. A minha primeira grande gratificação literária veio em torno dos 8 anos de idade, com a coleção completa da obra de Monteiro Lobato para crianças. Até hoje guardo na memória episódios dos livros e informações relevantes sobre grandes culturas do passado (“História do Mundo para Crianças” e “os 12 Trabalhos de Hércules”), e que vieram expressivamente à tona em minhas viagens a países como o Egito, a Grécia, a Itália. Minha irmã, 4 anos mais velha do que eu, dizia que eu já tinha “nascido velho”. Muto mais tarde alguém aplicou a mim a qualificação de “Espírito Velho” O que seria isso? Pode ser interpretado à luz de diversas religiões e filosofias. No Budismo, sobre o qual eu viria a me interessar na vida adulta, através de leitura e algumas práticas, seria assim:[PARÁGRAFO]
“A Vida após a morte no Budismo
Os praticantes do budismo acreditam na reencarnação semelhante aos espíritas, a única diferença é que essa reencarnação de vida após a morte pode surgir de forma um pouco diferente. Para os budistas, a pessoa que teve uma má conduta em vida pode ter sua alma reencarnada em uma barata ou até mesmo em uma pulga.
Já aqueles que tiveram boas obras podem reencarnar no corpo de um príncipe ou uma águia. Para eles, o ciclo de reencarnação permanece até o espirito se libertar do carma, quando isso finalmente acontece, a pessoa reencarna de forma definitiva, podendo surgir em 6 mundos diferentes:
• Celestial; Humano; Animal; Guerreiro; Insaciável; Infernal.” (1) [PARÁGRAFO]
Assim sendo, eu, um “Espírito Velho”, estaria cumprindo etapas do ciclo de reencarnação, agora na condição de Humano. Circunstâncias absolutamente casuais, como veremos a seguir, me trouxeram essas recordações dos ensinamentos budistas.[PARÁGRAFO]
Por uma grande coincidência (terá sido coincidência?) uma querida amiga hoje me enviou mensagem elogiando um cantor inglês, Robbie Williams, que ela acabara de ver cantando “My Way’, e eu logo enviei a ela o link da grandiosa apresentação que ele fez no Royal Albert Hall, em Londres, em 2001, na qual homenageava Frank Sinatra (já então falecido, em 1998), principalmente, e sua clã, como era conhecido o grupo de seus amigos mais chegados. Robbie Williams, além de “My Way”, emocionado cantava “It Was a Very Good Year”, quando de uma tela surgia o próprio Sinatra cantando esta canção que ele fizera famosa. Foi um frisson na plateia, lotada. E do que falava a letra? Vou aqui reproduzi-la, no original em inglês e com tradução em português (2), assim como um link (3) em que o Frank canta a canção. É enternecedora, e fala de uma vida bem vivida, sem expectativas futuras, agora feita apenas de recordações. [PARÁGRAFO]
“It Was A Very Good Year
When I was seventeen / It was a very good year
It was a very good year for small town girls/ And soft summer nights
We'd hide from the lights/ On the village green/ When I was seventeen
When I was twenty-one/ It was a very good year/ It was a very good year for city girls
Who lived up the stair/ With all that perfumed hair
And it came undone/ When I was twenty-one
When I was thirty-five/ It was a very good year
It was a very good year for blue-blooded girls/ Of independent means
We'd ride in limousines/ Their chauffeurs would drive
When I was thirty-five
But now the days grow short/ I'm in the autumn of the year
And now I think of my life as vintage wine/ From fine old kegs
From the brim to the dregs/ And it poured sweet and clear
It was a very good year/ It was a mess of good Years” [PARÁGRAFO]
“Foi Um Ano Muito Bom
Quando eu tinha dezessete anos/ Foi um ano muito bom
Foi um ano muito bom para as meninas de cidades pequenas/ E suaves noites de verão
Nos escondíamos das luzes/ No campo da cidade/ Quando eu tinha dezessete anos
Quando eu tinha 21 anos/ Foi um ano muito bom
Foi um ano muito bom para as meninas da cidade/ Que viviam no andar de cima
Com cabelos perfumados/ E isso foi desfeito
Quando eu tinha 21 anos
Quando eu tinha 35 anos/ Foi um ano muito bom
Foi um ano muito bom para as meninas de sangue azul/ De meios independentes
Passeávamos em limousines/ Seus motoristas dirigiam
Quando eu tinha 35 anos
Mas agora os dias passam rápido/ Estou no outono do ano
Agora penso em minha vida como um vinho vintage/ De bons e velhos barris
Cheios até as bordas/ E ela se derramou nítida e docemente
Foi um ano muito bom/ Foi uma confusão de bons anos” [PARÁGRAFO]
Atentem: para o autor da letra (Ervin Drake), três idades na vida do personagem da canção mereceram específica citação – 17, 21 e 35 anos. Retornemos ao Budismo. Novamente por coincidência (para Jung, psiquiatra e psicoterapeuta, não existe coincidência, pura e simplesmente, mas “Coincidência Significativa”, ou Sincronicidade), eu havia revirado o meu baú de cartas e fotos bem antigas, basicamente de meados dos anos da década de 1960, e nelas encontrara escritos de companheiros muito próximos, a maioria afastados por circunstancias da vida ou pelo falecimento. Lá estavam também cartas de namoradas, meninas de família de inocentes namoros de mão dadas, beijinhos e conversas triviais. Mas, uma daquelas cartas destoava por completo das outras. É datada de novembro 1966. Eu tinha justos 21 anos, It was a very good year, ano em que me graduaria pela prestigiosa Escola Nacional de Química, e igualmente It was a very good year quando eu tinha 17 anos e nela ingressara. Por razões diferentes, as idades de 17 e 21 anos foram, assim como na letra da canção, muito marcantes para mim.[PARÁGRAFO]
A moça, com quem eu mantivera um namoro durante poucos anos, e com encontros esparsos, morava longe, ao norte do Estado do Rio de Janeiro. Por duas vezes eu a visitei, a primeira com um grupo de amigos, a segunda, sozinho, outras vezes ela ia a Niterói, onde morava uma prima, e nos encontrávamos. Um namoro, para mim, sem um significado maior. Acabei explicando a ela, por carta, que não havia mais razão para continuar aquela relação. Então, não me recordo quanto tempo depois, recebi a tal carta. Seu conteúdo era absolutamente surpreendente, e por uma razão que não consigo agora atinar, não me causou impacto ao recebe-la. Estava impregnada de conceitos do Budismo, sobre os quais, na época, eu não tinha qualquer conhecimento, daí, provavelmente, não ter captado seu profundo significado. Alguns trechos: (...) sei que nossas relações vêm de vidas anteriores. Não se pode sentir um amor tão grande, uma amizade tão imorredoura em um momento apenas, o que é uma vida diante da eternidade? (...) É preciso que nossa união se faça para nosso mútuo aperfeiçoamento, para que se cumpram os desígnios do Espírito Superior e para que sejamos felizes aqui e além. Nossa eternidade depende do nosso momento terrestre juntos. Você tem nesta existência muitas missões a cumprir,
muitas obras a realizar (...). Você não me ama agora, porém espero, chegará a hora em que não poderá mais seguir sozinho. E, então...[PARÁGRAFO]
Foi a última notícia que tive dela, não faço a menor ideia do que as intervenções do Destino, e de como ela exerceu o seu Livre Arbítrio frente a elas. Ficaria muito feliz em saber que ela acabou por encontrar outra motivação para viver que não a união com este que a respeitava, mas não a amava.[PARÁGRAFO]
Ao final de 1968, por um encontro absolutamente casual, conheci aquela que viria a ser minha namorada, esposa e mãe da minha filha e do meu filho. No baú de recordações encontro uma série de cartas de amor recebidas dela a partir de 1969, durante o período em que estávamos geograficamente distantes. Nos casamos, ela veio morar no Rio. Em mais uma alusão, a última, à letra da música, “quando eu tinha 35 anos”, It was a very good year, pois foi naquela idade em que eu me tornei pai pela primeira vez, com o nascimento da filha querida. E logo em seguida, aos 36 anos, idade já não evocada pelo autor da canção, também digo It was a very good year, pois nasceu o nosso não menos querido filho. E também muitos outros anos de nossas vidas viriam a merecer essa classificação.[PARÁGRAFO]--------------------------------------
(1) https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/almanaque/como-diferentes-religioes-enxergam-a-vida-apos-morte.phtml Acesso em 14/09/2021------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
(2) https://www.letras.mus.br/frank-sinatra/36444/traducao.html Acesso em 14/09/2021---------------------------------------------------------------------------------------------
(3) https://www.youtube.com/watch?v=rPQ0NLkfC0U Acesso em 14/09/2021----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
José Antonio C. Silva
14/09/2021
José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-90540823743142252092021-08-07T11:44:00.003-03:002021-08-07T11:44:46.390-03:00Está me ouvindo?<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Está me ouvindo?<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Muitas coisas o incomodavam
tremendamente no admirável mundo virtual. A agressividade com que temas
políticos eram debatidos: “Você tem que entender que...”, uma expressão típica
daquele que quer convencer à força o seu interlocutor de <i>sua verdade</i> no
tema política, ou daquele que, a despeito da enorme incerteza reinante sobre
como proteger-se ou como tratar-se do vírus COVID-19, uma vez contraído, formou
sua própria <i>certeza</i>. Não há certezas com relação ao vírus. Agora surge
uma nova mutação, a variante Delta, aterrorizando o mundo. Será ela sucedida
pela variante Épsilon e de outras nomeadas segundo o alfabeto grego? Dentre os enormes
disparates que circulam nas redes sociais encontram-se: a crença de que Bill
Gates colocou um microchip na vacina que poderá controlar o cérebro de quem se
vacinar; a afirmação de que a aplicação da vacina irá causar um desequilíbrio
na conjugação planetária, e no próprio universo; o vírus, a despeito dos
altíssimos registros de infectados e de mortes por eles causadas (mesmo que
imprecisos, não podem simplesmente ser descartados como inteiramente forjados),
é mera invenção de espertalhões etc. São as famigeradas fake news, que podem
divulgar mentiras sabe-se lá com que intenção. Um exemplo muito recente é a
mensagem que alerta: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">“Hoje a Globo estava falando sobre o
Whatsapp Gold e é verdade. Existe um vídeo que será lançado amanhã no Whatsapp
e se chama Gambarelli. Não abra!!. O vírus vai para o seu telefone, sua conta
bancaria será zerada e seu telefone bloqueado para sempre! Avisem os seus
contatos, amigos e colegas!! Se você receber uma mensagem para atualizar o
Whatsapp Gold * Não abra! Eles acabaram de anunciar que o vírus é sério. Envie
para todos.” </span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Absolutamente
fake, qual será o objetivo do imbecil que concebeu esse “alerta” alarmista? <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Bem antes do surgimento da internet Martin Heidegger, um dos filósofos
mais marcantes do Século XX, já se posicionara como um contundente crítico à
subjugação do homem pela técnica, mas apresentava uma singela solução para
lidar com ela: “Podemos dizer ‘Sim` à inevitável utilização dos objetos
técnicos e podemos dizer ‘Não`, impedindo que nos absorvam e, desse modo,
verguem, confundam e, por fim, esgotem a nossa própria natureza” (1). <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ele estudara bastante o que Heidegger
escrevera sobre a questão da técnica. Igualmente conhecia a opinião de outros importantes
pensadores da nova era, como o filósofo e escritor italiano Umberto Eco (2),
severo crítico da internet no tocante a dar voz a todo tipo de opinião
desqualificada. O escritor indiano Salman Rushdie foi categórico ao afirmar que
“A maldição da descrença começou com a internet” (3). Ele sabia que a questão
não era a internet em si, mas o ser humano por trás de sua criação, tão
frequentemente fazendo uso abusivo ou absolutamente perverso de uma ferramenta
excepcionalmente útil, mas que, assim como outras conquistas tecnológicas da
humanidade, pode também apresentar uma faceta bastante cruel ou, simplesmente,
tola. Isso o entristecia, pois as redes seriam uma alternativa à mídia
tradicional, sensacionalista, e que há muito abandonara o seu papel
investigativo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Mas o que passou a atormentá-lo ao
extremo foi a proliferação das tentativas de golpes. Aproveitando-se do
estresse causado pelo vírus e pelo uso cada vez mais abusivo dos meios
virtuais, até mesmo pelas restrições aos contatos presenciais, bandidos
desenvolvem e aperfeiçoam métodos para capturar suas vítimas, através do
celular – chamadas de voz, via WhatsApp e SMS, e-mail – e do computador. Também
o velho telefone fixo serve para as tentativas de golpe. A antiga ligação
avisando sobre ter um ente querido em cativeiro e solicitando resgate para a
soltura por incrível que pareça continua fazendo vítimas. Bastante atual é a
clonagem de um número do celular juntamente com a captura da foto e dos
contatos de seu dono. A partir daí, o bandido dispara mensagens a contatos que
ele identifica como próximos, criando um enredo de um imprevisto de necessidade
financeira e solicitando uma transferência de emergência para uma determinada
conta. Ele sabia de muitos casos de pessoas que haviam sido vítimas desses
golpes. Por WhatsApp, por SMS e por e-mail recebia falsos alertas da urgente
necessidade de ativar a Chave Pix de Bancos com os quais ele sequer tinha
conta; falsos comunicados de seu Banco solicitando confirmação sobre uma
indevida utilização de seu cartão de crédito, ou transferência de sua conta, e
fornecendo um número telefônico para um bloqueio, caso a operação não seja
reconhecida. O número é falso e, mesmo que verdadeiro, o correntista deve ligar
para a sua agência pelo número que tem agendado e, por outro telefone, pois
aquele pelo qual recebeu a ligação está grampeado. Trata-se de uma categoria de
golpe denominada <i>phishing </i>(4), ele aprendera o significado do termo.
Decidiu mudar de Banco, aquele com o qual sempre mantivera excelente
relacionamento, mas se fazia necessário apagar todos os rastros possíveis.
Desinstalou o App de seu antigo Banco e não instalou o aplicativo para o novo.
Suas relações bancárias a partir de então seriam tão somente presenciais. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Em meio a tanta imundície, surge mais
um golpe, que particularmente o deixava indignado. O telefone toca, diversas vezes
ao dia, de diversos números, ele atende, e escuta a pergunta: “Está me
ouvindo?” – a voz é bem clara e a vítima, ao responder “Sim”, terá essa
concordância gravada e utilizada para fechar operações fraudulentas em seu
nome. Parece inverossímil essa possibilidade, mas com uma justiça que não
costuma fazer Justiça para os inocentes, tudo é possível. Houve dias em que ele
recebeu três, quatro vezes, essa infame tentativa de golpe. Tinha vontade de
xingar, de responder com palavrões do mais baixo calão, mas sabia que de nada
adiantaria. Pensou em não mais atender números não identificados em sua agenda,
mas com isso deixaria de receber importantes ligações de confirmação de
consultas e de exames médicos, do andamento de tratativas com prestadores de
serviços etc. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Leu, com atenção, o texto sobre a existência
de uma bizarra categoria de pessoas no Japão. “<i>Denominada <b>johatsu</b>,
ou os "<b>evaporados</b>", milhares de cidadãos japoneses buscam
ajuda de empresas clandestinas para desaparecer do mapa e deixar suas identidades
para trás. Estes, saem de circulação para buscar refúgio no anonimato. O <b>governo
japonês</b> não disponibiliza números oficiais sobre os johatsu,
porém, estima-se que entre 100.000 a 185.000 japoneses recorram ao método
anualmente. Essa fuga é de certa forma muito fácil no país, já que as<b> leis
de privacidade</b> japonesa dão aos cidadãos liberdade para manter seus
dados em segredo. Apenas em casos onde houve crime é que a polícia do país
investiga os movimentos. Pessoas desaparecidas podem sacar dinheiro em caixas
eletrônicos e não serem descobertas, assim como membros da família não podem
acessar vídeos de câmeras de segurança, para tentar descobrir o paradeiro ou o
dia e a hora em que seu ente fugiu. Aos familiares fica a dúvida se foi um caso
voluntário ou não, assim como o sentimento de abandono.” </i>(5)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Mas isso era “coisa de japonês”, não seria
praticável para ele, que a cada dia se sentia mais esmagado pelo cotidiano de
violência e burrice disseminadas pelos instrumentos da internet. Decidiu que
sua sobrevivência psíquica dependia de uma desconexão máxima possível dos
diabólicos instrumentos da informática. O ideal seria uma desconexão completa,
principalmente do telefone celular e até mesmo do computador. Ficaria tão
somente com o cada vez mais obsoleto telefone fixo. E assim preparou-se para se
tornar um <b>johatsu </b>na medida do possível. Começou por mudança de
operadora e de número de seu telefone fixo, ao qual acoplou um identificador de
chamadas. Manteve a televisão, mas o seu uso de há muito estava restrito, por
sua decisão. Nada de noticiários. Chegou a vez do computador. Efetuou drástica
redução em suas funções. Ficaria apenas com os aplicativos Word e Excell. Facebook?
Deletar. Pesquisar no Google, nem pensar, o algoritmo estava atento às suas
pesquisas e traçando seus costumes, seus hábitos, seu perfil, o próprio “<i>Big
Brother is watching you</i>”, descrito por George Orwell em seu premonitório
“1984”. Seu uso ficaria restrito ao acesso a sites rigorosamente obrigatórios,
como o da SRF – Secretaria da Receita Federal, por exigência do Grande Irmão. Youtube?
Uma pena, mas também deletar esse bisbilhoteiro.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Considerou cancelar também o e-mail, mas
decidiu correr o risco de mantê-lo em quarentena, a despeito de ele também ter
se constituído em um poderoso canal de ameaças virtuais, de disseminação de
burrice e de promessas mirabolantes. No passado, ele e colegas de trabalho se
divertiram muito particularmente com um e-mail que prometia: “enlarge your penis
up to 5 inches [12,7 cm!!!]”, através de um determinado procedimento. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Para minimizar o risco de rastreamento também
mudou de servidor e de endereço de e-mail.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">E chegou o momento supremo de livrar-se do
celular, aquele aparelhinho incialmente concebido para transmitir apenas a voz,
um telefone ambulante, e agora transformado em poderosa droga entorpecente.
Decidiu que deveria revestir o ato de alguma solenidade. Como que a desafiar os
ladrões obcecados em roubar celulares dos transeuntes, saiu para dar uma longa
caminhada ao longo da qual fez diversas ligações, assim como recebeu e emitiu
mensagens pelo mais viciante dos aplicativos, o WhatsApp, este com a agravante
de estar, mais e mais, se transformando num meio robótico e como única opção
para comunicação com empresas. E então, ao chegar à borda de um canal de águas
putrefactas, despediu-se do aparelhinho e lançou-o naquela cloaca,
certificando-se de sua completa e irreversível submersão. Teve um fim merecido,
respirou aliviado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Retornou à sua residência. Sentou-se diante da
TV e assistia um programa cultural quando o telefone tocou. Levantou-se e
atendeu. “Está me ouvindo?”, perguntava aquela voz que tanto o atormentava, enquanto
o Bina registra a proveniência da ligação: do seu celular, aquele mergulhado na
podridão profunda, mas o numero havia sido clonado antes daquele mergulho
final. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Na última vez em que foi visto por um
conhecido, ele rondava o Consulado Japonês.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">----------------------------------------------------------------------------------------------------------<i><o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(1)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">HEIDEGGER. Serenidade. Lisboa:
Instituto Piaget, 1959<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(2)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">VEJA, 01/07/2015, pag. 15<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(3)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O GLOBO, 01/05/2021<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(4)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><a href="https://canaltech.com.br/seguranca/O-que-e-Phishing/"><i><span style="color: windowtext; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Phishin</span></i><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">g</span></i></a><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> é um termo originado do inglês
(<i>fishing</i>) que em computação se trata de um tipo de roubo de identidade
online. Essa ação fraudulenta é caracterizada por tentativas de adquirir
ilicitamente dados pessoais de outra pessoa, sejam senhas, dados financeiros,
dados bancários, números de cartões de crédito ou simplesmente dados pessoais.
O Brasil foi líder mundial em golpes de <i>phishing </i>em 2020.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(5)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><a href="https://exame.com/mundo/as-empresas-que-evaporam-pessoas-no-japao-entenda/"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">https://exame.com/mundo/as-empresas-que-evaporam-pessoas-no-japao-entenda/</span></a><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"> Acesso em 04/07/2021<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">José Antonio C. Silva<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">07/08/2021<o:p></o:p></span></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-22531153058484576132021-06-10T08:01:00.000-03:002021-06-10T08:01:41.103-03:00Eis que a idade chegou<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Eis que a idade chegou<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Ela chegou para mim. Não aos 40 anos,
idade num passado distante associada à velhice, os quarentões (para as
mulheres, chegava ainda antes, aos trinta, como no célebre romance de Balzac).
Nem aos 60, lembro-me perfeitamente de ter viajado a São Paulo tentando vender
um serviço a algumas empresas, retornado no mesmo dia e jantado com a minha
esposa e os queridos filhos. Também não chegou aos 70, idade inimaginável de se
atingir quando eu era uma criança. Teria chegado aos 75? Também não, foi um
aniversário meio esquisito, em meio a pandemia, em quarentena, só com a
família. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Quando chegou, então? Agora, quando
completo 76 anos. Continuamos na pandemia, a peste sobre a qual pouco podemos
fazer, e não sabemos quando acabará. Por que será que agora sinto o passar do
tempo? Ainda confinado, não poderei contar com a companhia de todos aqueles com
quem eu costumava desfrutar os meus aniversários. Particularmente, lembro-me do
“Grande Baile dos Quarent’annos”, uma caprichada festa comemorativa com os
convidados – familiares e amigos -em trajes de época ou passeio completo, para
dar o clima, embalada por grandes clássicos da música norte-americana cantados
por Frank Sinatra, Nat King Cole e outros, ou executados pelas orquestras de
Glenn Miller, Tommy Dorsey, Harry James. A música brasileira também compareceu
cantada por Ataulfo Alves e Maria Betânia. E teve até mesmo mambo, na orquestra
de Perez Prado. Noite inesquecível.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Aniversários na casa dos 60 foram
marcados por bailes em nossa casa de Camboinhas, geralmente festas temáticas,
como o inesquecível “Baile dos Horrores”, as “Noites Latinas” e as aulas de
dança. Uma alegria que nem mesmo o infarto que sofri aos 65 anos, e a consequente
cirurgia cardíaca, lançou qualquer sombra sobre o meu futuro. Na casa dos 70
nenhuma comemoração me deixou particular recordação. Eis que chego aos 76. O
que aconteceu de importante nesses 6 anos já transcorridos? Algo
extraordinário, o nascimento dos queridíssimos netinhos Rafael, agora com 5 anos,
e o Felipe, com 2 anos. A graça das festas foi naturalmente transferida para as
celebrações dos aniversários deles.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Curioso, como o nascimento dessas
adoráveis criaturas me trás frequentemente de volta ao passado, quando meus
próprios filhos, Juliana e Cristiano eram crianças, e sou invadido por uma
imensa saudade, um enorme desejo de visitar aqueles tempos. Impossível, não
existe (existirá algum dia?) “A Máquina do Tempo” imaginada pelo escritor H. G.
Wells em um célebre livro cuja primeira versão em filme (1960) tive o prazer de
assistir ao lado do Rafael, super curioso ao meu lado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Mas, criar filhos está muito longe de
ser missão fácil. Há poucos dias assistimos, eu e Edna, “Como Estrelas na
Terra”, um filme indiano. O protagonista é um menino de 9 anos, apresentando
sintomas de dislexia, caracterizados por distúrbios de aprendizagem pela
dificuldade de leitura. O menino sofria muito com isso, isolava-se do mundo,
seu pai não o compreendia, o tratava com agressividade. A mãe era mais
tolerante, mas também sofria com aquela condição para ela completamente
incompreensível. Na escola sofria assédio dos colegas e professores. Foi
transferido para uma escola de crianças excepcionais. Não fazia qualquer
progresso até que um professor de artes se interessou por ele e fez brotar uma faculdade
submersa naquela criança: o enorme talento para o desenho e para a pintura. Com
isso, aos poucos, a paralisante dificuldade com as letras também foi
desaparecendo, aquele menino transformou-se por completo, um artista precoce, admirado
por todos, amado pelos pais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Olho para trás e recordo que tive um
problema de natureza semelhante, felizmente com intensidade incomparavelmente
menor, com o meu filho Cristiano. Eu fui bastante precoce com as letras.
Lembro-me que com 5 anos já sabia ler e escrever perfeitamente. E que, ao ser
informado disto, meu avô, um sisudo senhor de aproximadamente 60 anos (nos
parecia muito velho!) me submeteu a um rápido teste de leitura da primeira
página de um jornal. Li sem qualquer dificuldade, e aos 6 anos ingressava no
que então era chamado Curso Primário. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Por conta dessa facilidade com as
letras, eu não conseguia compreender que o meu filho não fosse igual a mim
nesse aspecto, e por vezes fui agressivo. Estúpido, eu não via que cada pessoa
tem talentos próprios. No caso do Cristiano, tal qual o menino do filme, uma
grande facilidade em desenhar, pintar, colorir, aliada a uma visão espacial
apurada. Em contrapartida, eu nunca fui capaz de desenhar coisa alguma, e sou
portador de visão espacial muito limitada. Cristiano foi em frente, cursou
Arquitetura, o que seria bem de se esperar, é um profissional que nos enche de
orgulho, respeitado em todos os ambientes por onde transitou, além, é claro, de
ser um filho muito querido. E, obviamente, há muito superou suas dificuldades
com as letras, adotou, inclusive, o hábito da leitura, nas poucas horas vagas
que o trabalho lhe permite. Está feliz, no que em muito contribui a presença de
sua querida companheira, Priscilla. Ah, e tem ainda dois gatos. Adoro gatos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Com Juliana lembro-me de alguns
atritos quando ela estava na adolescência. Gênio forte, em fase de construção
de uma firme personalidade. Certa feita, já adulta, fiquei muito bravo com ela em
uma discussão por pura falta de compreensão de nossa parte, e deixei de falar
com ela durante algumas semanas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sofri
muito aquele afastamento. Ela não tinha dificuldade com as letras, também
gostava de desenhar, colorir, pintar. Até hoje guardo, emocionado, alguns
desenhos e mensagens carinhosas para mim, pelo meu aniversário ou pelo Dia dos
Pais. Assim como o seu irmão, também se formou em Arquitetura. Não sei como
consegue dar conta de trabalhar tanto e cuidar dos filhos, meus netinhos,
cheios de energia e incansáveis. Juliana é, sobretudo, um caráter a toda a
prova.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Meus filhos são agora a minha grande
razão de viver. Estar sempre disposto a ajudá-los no que for necessário,
particularmente a Juliana com os netinhos. Nessa ajuda, Edna tem se superado. Fui
muito precoce no aprendizado de muitas disciplinas, notadamente letras, como já
disse, matemática e diversos ramos das ciências. Minha irmã dizia que eu “já
nasci velho”, no sentido em que eu me interessava muito por assuntos que não
eram tão comuns a crianças da minha idade, além de ter sido criado em contato
com tios mais velhos, que de certa forma me viam como iguais. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Por essa razão, vejo na curiosidade do
Rafael, em seus 5 aninhos, por assuntos científicos diversos, um amigo com quem
compartilhar filmes, leituras e conversas “de adulto”. Com Felipe, em seus 2
aninhos, ainda tenho dificuldade em estabelecer uma comunicação, na qual a avó
Edna é extremamente bem sucedida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Que marca eu deixarei nos meus
filhos? Do meu pai, o saudoso Seu Carvalho, herdei muitas coisas. O amor pela
leitura, pela música, pelos filmes, o interesse pelas ciências, as brincadeiras
e as piadas. E a determinação de construir uma carreira profissional honrada,
sem máculas. E até mesmo a aparência física, uma semelhança que vai se
acentuando com a idade, a ponto da Juliana, ao me ver sentado numa poltrona, de
bermuda, na mesma posição em que Seu Carvalho gostava de ficar, disse: “Pai,
você está cada vez mais parecido com o vovô!” Importante ressaltar que aquele
avô amava muito seus netinhos, meus filhos queridos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Claro, não sei quantos anos me
restam. Qual o meu sonho? Que meus filhos e netos sejam muito felizes e, se o
Papai do Céu deixar, fazer uma viagem com eles para reviver momentos encantadores
que tivemos juntos em tantas viagens, tantos países, começando pela Disney,
quando meus filhos eram crianças, o Natal mágico em New York, passando pela
inesquecível estada na Toscana e o fim de ano em Casarano, na casa da minha
sobrinha Anna Paula, e a última delas, há 6 anos, novamente em New York, onde
estávamos eu, Edna, Juliana com o Rafael na barriga, e o Carlos, que logo teria
a ventura de ser pai daquele ser encantador. E, ademais, muito, muito lindo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Carinhoso abraço a todos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">10 de junho de 2021.<o:p></o:p></span></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-82969592087928226842021-06-01T11:09:00.000-03:002021-06-01T11:09:27.782-03:00O certo e o complexo<p> </p><p class="MsoNormal">EXCESSO DE CERTEZAS<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O certo e o complexo (*)<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Por Eurípedes Alcântara<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">29/05/2021 (*)<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Parece cada vez mais difícil para mais gente admitir que não
sabe o bastante sobre alguma coisa a ponto de ter uma opinião. As conversas
sobre qualquer assunto estão ficando insuportáveis pelo excesso de certezas
absolutas, antes só permitidas aos muito jovens.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Certeza é um dos sintomas da imaturidade. Ser adulto é
aprender a conviver com incertezas. “Não sou jovem o suficiente para saber
tudo”, diz o sábio ditado ora atribuído ao poeta irlandês Oscar Wilde, ora ao
primeiro-ministro britânico da Era Vitoriana Benjamin Disraeli.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Por essa régua, vivemos numa sociedade de imaturos,
inseguros, buscando muletas para se apoiar. Esse ambiente favorece duas
situações indesejáveis. A primeira é a tentação de delegar decisões da vida
pessoal a uma ideologia, a um partido ou até a um governo. A segunda é o
recolhimento ao conforto do pensamento binário simplório, com o consequente
pavor da complexidade.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Delegar o destino a um ente imaginário coletivo provedor,
todo-poderoso, é uma das superstições mais acalentadas atualmente. Assustador é
essa ilusão ser cultivada por jovens, principalmente das grandes cidades do
Ocidente. Jovens americanos dos movimentos Antifa e Black Lives Matter, embora
tenham recentemente começado a trocar sopapos entre si, costumam definir-se
como socialistas ou mesmo comunistas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">“Esses moços, pobre moços (...)/ Saibam que deixam o céu/
Por ser escuro/ E vão ao inferno/ À procura de luz.”<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Dizem os versos de Lupicínio Rodrigues. Acabei de ouvi-los
na linda voz de Adriana Calcanhotto. É um convite lírico a pensar nas lutas dos
jovens militantes. Uma lei histórica mostra que ninguém milita com o objetivo
de continuar oprimido quando sua causa triunfar: o militante se imagina sempre
dirigente na nova ordem. É uma lei incontrastável.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Quando o objetivo da luta é obter a igualdade plena entre
todos, caso a insurreição triunfe, o militante logo se arvora a ser “mais
igual” que os outros, na exata observação de George Orwell no livro “A
Revolução dos Bichos”. Cuidado com o que pedem, pois podem conseguir e
descobrirão muito tarde não ser o coletivismo igualitário o resultado, mas a
ditadura.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">A segunda situação indesejável trazida pelo excesso de
certeza é o medo do pensamento complexo. O mundo real não é preto e branco. A
complexidade é um fato da vida. O pensamento complexo é aberto à crítica,
condição obrigatória a toda formulação merecedora de atenção. É atento à sua
própria obsolescência, sensível ao novo, ao desconhecido, ao estranho.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Admitir a complexidade de certos assuntos e reconhecer não
ter opinião válida sobre eles é uma opção adulta, madura, em qualquer idade.
Viva a complexidade! O pensamento complexo é sempre receptivo à incerteza, à
contradição, à ambivalência. Como nos ensina o sábio francês Edgar Morin, são
essas as qualidades de quem se propõe a escapar da arrogância e do dogmatismo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Essas reflexões, acredito, valem para oprimidos e
opressores. O espírito do nosso tempo comanda que “tudo é política”. Essa é a
premissa do livro mais recente de Paul Krugman, ganhador do Prêmio Nobel de
Economia em 2008 e hoje o economista com maior influência sobre o governo do
presidente americano, Joe Biden. O título do livro de Krugman em português é
“Discutindo com zumbis: economia, política e a luta por um futuro melhor”.
Conheci Krugman quando ele ainda dava aulas no Massachusetts Institute of
Technology (MIT) e era um zeloso fiscalista. Agora ele incentiva Biden a
imprimir dólares para impedir a recessão contratada pela pandemia de Covid-19.
As certezas numéricas da juventude deram lugar à aventureira complexidade da
política. Ele está certo? Não sei. Não conheço bastante a política monetária
americana para dar uma opinião.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Por Eurípedes Alcântara<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">(*) Publicado em </p>O GLOBO - 29/05/2021José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-35310031142290703132021-04-14T12:52:00.001-03:002021-04-14T12:57:37.313-03:00JUSTIÇA PARA TODOS<p> </p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.0pt; margin-left: 106.2pt; margin-right: 2.0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 2cm 8pt 106.2pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium;">JUSTIÇA PARA TODOS<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 106.2pt; text-indent: 35.4pt;"><o:p><span style="font-size: medium;"> </span></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium; line-height: 107%;">“PONTO:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; line-height: 107%;">Compulsando o processo, percorrendo
cuidadosamente cada uma de suas páginas, o que ressalta é a inequívoca
culpabilidade do acusado. É tamanha a massa de provas contra ele, tão sólidas
as evidências do cometimento de todos os crimes que lhes são imputados, que não
resta outra sentença a prolatar: sentencio o réu à liberdade perpétua.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium; line-height: 107%;">CONTRAPONTO:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; line-height: 107%;">Estamos insofismavelmente
confrontados com um caso de inequívoca culpabilidade do acusado. A sua retidão,
o seu caráter incorruptível, a sua obsessiva e intransigente defesa da verdade,
todas essas características representando grave ameaça à ordem constituída,
conduzem, de forma inelutável, à única sentença possível: condeno o réu, pelo
crime da honestidade, à prisão perpétua.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; line-height: 107%;">Volto a postar esse texto [no
Facebook, 2017], por considerá-lo mais do que oportuno face à recentes
acontecimentos”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; line-height: 107%;">A memória do texto acima, escrito por
mim após uma troca de ideias com meu irmão Paulo de Carvalho, e postado pela
segunda vez em minha página do Facebook em 2017, trouxe à minha recordação uma
fala muito mais antiga, de ninguém menos que Ruy Barbosa (1849 - 1923), há
cerca de um século, e que já tratava da devassidão dos costumes em nosso país.
Ruy, o ¨Águia de Haia”, pela sua brilhante participação na<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Segunda Conferência Internacional da Paz de
Haia, em 1917, sabia do que estava falando, intelectual, político, advogado,
jornalista, diplomata orador e escritor que era.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; line-height: 107%;">¨De tanto ver triunfar as nulidades;
de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto
ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se
da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; line-height: 107%;">O meu texto sob PONTO, a absolvição
de um comprovadamente culpado, pode ser tomado como uma alegoria à fala de Ruy
Barbosa, repito, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">há cerca de um século!</b>
A corrupção e seu acobertamento pela justiça vem de longe, muito longe. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; line-height: 107%;">Já aquele texto sob CONTRAPONTO seria
uma alegoria ao sucedido ao personagem central do livro “O Processo”, de Franz
Kafka, um dos escritores mais relevantes do Século XX. O que acontece no conto?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; line-height: 107%;">Joseph K, funcionário de um banco,
recebe, ao acordar, a visita na pensão onde morava de dois agentes policiais
para lhe comunicar que ele está sofrendo um grave processo judicial. Joseph K,
homem de ilibada conduta, estranha, não atina para a causa do processo, alega
ser inocente, não ter praticado crime algum. Os policiais o conduzem à presença
do oficial que os comandava, e que, julgava ele, esclareceria as razões de sua
detenção. Mas o oficial limitou-se a adverti-lo que ele continuaria em
liberdade provisória, até se apresentar ao Tribunal, em data previamente
marcada, para o interrogatório. A data chegou, e perante o juiz do Tribunal, K.
reiterou sua alegação de inocência. Terminada a audiência, sem que ele fosse
informado do teor das acusações, o acusado retira-se e fica a aguardar o
desenrolar do processo. Decide contratar um advogado, um homem doente e
assistido por uma enfermeira. O advogado lhe diz que “a hierarquia da Justiça
compreende graus infinitos, entre os quais se se perdem os próprios iniciados”.
K. desiste do advogado. E assim o personagem segue uma angustiante e frustrante
busca em diversas instancias até que um dia dois homens vêm leva-lo de sua
morada. Chegados a um local ermo, os homens, sem pronunciarem palavra,
agarram-no e o esfaqueiam até a morte. Joseph K, um inocente, era executado sem
sequer saber qual a acusação que pesava sobre ele,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: medium; line-height: 107%;">Assim como Joseph K, muitos inocentes
são injustamente condenados por falta de astúcia ou por não terem tido
condições financeiras para contratar um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">bom
</i>advogado, entendido por <i style="mso-bidi-font-style: normal;">bom </i>aquele
profissional hábil e profundo conhecedor, dos bastidores dos tribunais e dos
inextrincáveis meandros da lei. Em suma, aquele que, diferentemente do advogado
contratado por Joseph K., compreende os graus infinitos da hierarquia da
Justiça, e a quem não importa se o cliente é culpado ou não, o que importa é
conseguir a sua absolvição a qualquer custo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium; line-height: 107%;">José Antonio C. Silva<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-size: medium;">!2/04/2021</span><o:p style="font-size: 12pt;"></o:p></span></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-75546928995964195792021-03-21T17:28:00.003-03:002021-03-21T17:28:30.152-03:00O Vírus. Até quando?<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O Vírus. Até quando?<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">E ele voltou, mais uma vez. Sua
atuação começou a ser sentida no início do ano de 2020. Ele já fizera
incontáveis outras excursões entre os humanos, com maior ou menor severidade,
ora como vírus, ora como bactéria. A História registra sua trágica passagem em
episódios particularmente macabros como aqueles que ficaram conhecidos como a
Peste de Justiniano (ocorrida no reinado do imperador bizantino Justiniano,
entre os anos 541 e 544), a Peste Negra, que assolou a Idade Média, e a Gripe
Espanhola, nos anos 1917 e 1918. Os números de vítimas são absolutamente
apavorantes, principalmente se tomados em proporção à população nas épocas das
pandemias. E ele voltou, desta vez na forma de uma semente de mamona, uma
bolinha recoberta de algo como espinhos. Recebeu o nome científico de COVID-19.
A pandemia por ele causada foi de uma severidade descomunal, afetando em maior
ou menor grau, a praticamente todos os países. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Mas, afinal, que vírus era esse, de
onde surgira, como se transmitia, como precaver-se do contágio, como tratar-se,
uma vez contaminado? Foram perguntas para as quais os mais renomados cientistas
e pesquisadores jamais chegaram a um consenso. Diariamente as redes sociais
eram inundadas com pronunciamentos de autoridades de diversos ramos da área de
saúde, muito frequentemente em franca contradição uns com os outros.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Igualmente não chegaram a um consenso os
políticos encarregados de administrar seus municípios, suas cidades, seus
países. Uns pregavam o <i>lockdown</i> (confinamento), enquanto outros adotavam
uma postura oposta. Não havia consenso nem mesmo em relação a adoção de medidas
consideradas básicas na prevenção: o uso de máscaras, a higiene das mãos e o
distanciamento social. A política invadiu o pensamento científico para contribuir
para a desinformação. A mídia tradicional parecia se comprazer em dar destaque
ao noticiário fúnebre e disseminar o pavor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">No mês de agosto do ano da irrupção
da peste, a quarentena completara cerca de 5 meses de sua implantação no país.
Embora houvesse quem, de início, resistisse, muitos outros a acataram,
especialmente os idosos e/ou portadores de outros fatores de risco. E foram
muitas as razões para tal isolamento. Na contramão dos que minimizavam a ameaça
do vírus estavam aqueles que reconheciam o risco e tomavam suas cautelas, e
também aqueles que são tomados pelo pânico, vendo o fantasma do vírus
espreitando em toda parte. Escrevem protocolos para entrada e saída de casa. As
ruas, as calçadas, os bancos das praças estão contaminados. Os elevadores e as
escadas dos edifícios ocultam o vírus da Peste. Os sapatos e as roupas são
transmissores, ao chegar da rua, para onde não deveriam ter ousado ir, devem
separar e providenciar a pronta esterilização dessas peças de vestuário. Os
pneus do carro, ao rolar sobre as ruas infectadas, e a própria chave de
ignição, são outros solertes introdutores da peste em nossas moradias. Os
alimentos e outros itens que adquirimos nos mercados estão igualmente contaminados.
Nem pensar em sacar dinheiro para fazer pagamentos, deve-se usar o cartão de
débito ou de crédito, e desinfetá-los imediatamente após o uso, e não receber o
comprovante de pagamento emitido pela maquininha sinistra. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">A peste igualmente penetra em nossa
toca através dos correios, do entregador do jornal, dos serviços de <i>delivery</i>.
Dentro de nossas casas é essencial estarmos atentos a cada esconderijo do
vírus. Ele está em nossos celulares, em nossos computadores, em nossos
aparelhos de telefonia fixa. Nos aparelhos eletroeletrônicos, na fiação e em
seus controles, nos interruptores de luz. Na louça e nos utensílios de cozinha.
Nas maçanetas das portas e em suas chaves, nas torneiras, nas tampas dos
sanitários. Em nossas roupas, em nossa pele, em nossos cabelos. Ele é
onipresente. A cada instante temos que lavar as mãos com sabão, com álcool gel.
O contágio se faz pelo ar. Dentro deste quadro seria praticamente impossível
escapar. Na angústia de saber se está contaminada, sem apresentar ainda os sinistros
sinais da doença, muitas pessoas recorrem aos testes, cuja confiabilidade está
longe de ser absoluta. Assim sendo um teste pode apresentar um resultado falso
positivo ou falso negativo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Circula nas
redes, inclusive, um vídeo de uma intitulada autoridade médica afirmando
categoricamente a inutilidade dos testes. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Contrariamente a essa histeria viria
mais tarde pronunciar-se uma autoridade médica afirmando, entre outras coisas
que: 1. Talvez tenhamos que morar com o COVID 19 por meses ou anos. <b>*Não*</b>
vamos negar ou entrar em pânico. <b>*Não*</b> vamos tornar nossas vidas
inúteis. *Vamos aprender a conviver com esse fato.* (...); 3. <b>*Lavar as mãos
é o melhor método*</b> para sua proteção; 4. Se você <b>*não tem*</b> um
paciente COVID19 em casa, <b>*não há necessidade*</b> de desinfetar as
superfícies da sua casa; 5. Cargas embaladas, bombas de gás, carrinhos de
compras e caixas eletrônicos não causam infecção. *Lave as mãos,* viva sua vida
como sempre. (...); 8. Uma vez em casa, você <b>*não precisa*</b> trocar de
roupa com urgência e tomar banho! Pureza é uma virtude, *paranoia não é!* ; 9.
O vírus COVID19 <b>*não está*</b> no ar. Esta é uma infecção respiratória por
gotículas que requer *contato próximo.*; 10. O ar está limpo, você <b>*pode
caminhar*</b> pelos jardins, pelos parques, apenas *evite aglomerações; 11. É
suficiente usar <b>*sabão normal*</b> contra COVID19, não sabão antibacteriano.
Este é um <b>*vírus, não uma bactéria*</b>(...); 12. Você <b>*não precisa*</b>
se preocupar com seus pedidos de comida. Mas você pode aquecer tudo no micro
ondas, se desejar; 13. As <b>*chances*</b> de levar o COVID19 <b>*para casa*</b>
com os <b>*sapatos*</b> são <b>*como ser atingido*</b> por um raio duas vezes
por dia. Trabalho contra vírus há 20 anos - as <b>*infecções*</b> por gota <b>*não*</b>
se espalham assim! (...) 17. A <b>*imunidade*</b> é muito enfraquecida ao <b>*permanecer
sempre*</b> em um ambiente estéril. Mesmo se você comer alimentos que aumentam
a imunidade, <b>*saia regularmente*</b> de sua casa para qualquer parque /
praia. A <b>*imunidade é aumentada*</b> pela exposição a patógenos, não por
ficar em casa e consumir alimentos fritos / condimentados / açucarados e
bebidas gaseificadas, e não praticar atividades físicas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Agora, a questão das vacinas.
Desesperadas, as pessoas anseiam pela vacina que as colocará a salvo da peste.
Não obstante a eficácia daquelas apresentadas até o momento não ser absoluta, e
o fato de que há evidências de que o vírus apresenta mutações, as apostas estão
sendo colocadas. E logo surgem notícias assustadoras. A vacina “B”, produzida
por um prestigioso laboratório, resultou na morte de 33 idosos que receberam
uma primeira dose da vacina, na Noruega, um país escandinavo de invejáveis
padrões socioeconômicos e avesso a teorias conspiratórias. Justamente idosos,
componentes de grupos de alto risco. Mas logo vem um desmentido, todos os dias
morrem cerca de 45 pessoas em lares de idosos naquele país, e que não há
qualquer comprovação de que aquelas mortes seriam decorrentes do COVID-19. Em
outra postagem, essa vacina conteria em seu memorando, uma espécie de bula, um alerta,
em inglês: “Para proteger a fertilidade alguns homens talvez queiram considerar
o congelamento de seu esperma antes da vacinação.”<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A vacina seria capaz de causar mutações
genéticas, e causaria riscos à gravidez. O laboratório desmentiu categoricamente
essas afirmações contidas em postagens que já contavam com muitos milhares de
compartilhamentos. E quanto às demais vacinas? A aplicação da vacina “C”
colocaria em sérios riscos os idosos acima de 65 anos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A vacina “D” estaria sendo rejeitada em seu próprio
país de origem. A vacina “E” ainda não teria cumprido os protocolos necessários
para a sua liberação. Por fim, as vacinas terão “microchips” ´para colher a
identidade biométrica da população. Tudo isso já foi desmentido, mas é
aconselhável, por sua vez, analisar com atenção os desmentidos para
certificar-se de sua fundamentação. A despeito de tudo, as pessoas, em sua
imensa maioria, correm a vacinar-se, é a grande esperança. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O Vírus se divertia muito com o
pânico que causava. Ele escolhia a quem contaminar, sem qualquer critério
perceptível aos cientistas, às pessoas em geral. Jovens trancados em quarentena
juntamente com idosos portadores de comorbidades contraiam a doença, que poupava
os idosos; comunidades super povoadas, sem saneamento básico e sem qualquer
possibilidade de isolamento social para os sues moradores, pareciam exibir
números de contaminados e de mortes estranhamente baixos quando comparados aos
de outras localidades em condições sociais bastante superiores; rebeldes às
recomendações de uso de máscara e distanciamento social levavam suas vidas como
se nada estivesse acontecendo, e muitos deles não contraiam o Vírus; países
desenvolvidos sob os aspectos econômico, social, cultural e tecnológico estavam
estranhamente entre os mais atingidos pela peste. Em suas fases mais agudas da
peste, as unidades de atendimento hospitalares ficaram superlotadas, e muitos
morreram por falta dos cuidados necessários.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Separara famílias, grupos de amigos,
condenara os mais temerosos de contágio à encontros virtuais, as <i>Lives, </i>toscos
arremedos<i> </i>dos encontros presenciais, com abraços, beijos, carinhos, olho
no olho. Até mesmo grupos de moradores em um mesmo condomínio faziam reuniões
virtuais com vizinhos literalmente de porta. Viagens se tornaram um sério risco
de contágio, entes queridos separados por grandes distancias físicas estavam
condenados a se contentarem com esses arremedos de encontros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Um dia, no ano 202 -, finalmente, o
Vírus, assim como em tantas outras vezes, se cansou. Zombara do cientificismo, se
transmutara por insondáveis desígnios, tripudiando sobre a arrogância humana. Deixara
muitos milhões de pessoas infectadas, uma parte delas mortas, outras
sequeladas, muitas sabe-se lá porquê, rapidamente restabelecidas e inteiramente
recuperadas. As estatísticas eram pouquíssimo confiáveis, propositalmente ou
pela própria dificuldade em levantamentos de tal ordem, notadamente em regiões
de grande concentração humana e dificuldade de acesso por variadas razões, e
onde a coleta de dados era por demais precária. Mais difícil ainda seria
ter-se, mesmo que muito impreciso, o número de pessoas mentalmente abaladas. A
moral e os costumes da sociedade foram relaxados. A economia fora tremendamente
atingida, a recuperação iria levar um tempo imprevisível. <o:p></o:p></span></p>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1.0pt 0cm;">
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O Vírus é eterno, veio do infinito, recolhera-se
a um ponto qualquer do Universo, do qual é parte constitutiva, podia ser como uma
única semente de mamona ou uma infinidade delas, como as estrelas no
firmamento. Gostava de ser imprevisível para si próprio, e assim não traçava
planos para um retorno que certamente viria. Em 10 anos, 25 anos, 200 anos?
Ainda existiria a humanidade sobre o planeta Terra em tão longo prazo? <o:p></o:p></span></p>
</div>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 35.4pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Nota: a autoridade médica a que o
texto se refere no quinto parágrafo é a Chefe da Clínica de Doenças Infecciosas
da Universidade de Maryland, EUA. </span><a href="https://www.impala.pt/noticias/atualidade/covid-19"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">https://www.impala.pt/noticias/atualidade/covid-19</span></a><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">José Antonio C. Silva<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 35.4pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">20/03/2021<o:p></o:p></span></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-57932907805758246852021-02-28T21:28:00.000-03:002021-02-28T21:28:48.813-03:00O Livre Arbítrio e o Destino
Ano 1967, em um dia qualquer após 12 de agosto, data de minha admissão na unidade químico-farmacêutica de uma prestigiosa multinacional operando em diversos ramos industriais, e situada na cidade de Rezende/RJ. Eu me encontrava a bordo de um ônibus saído do Rio de Janeiro com destino àquela cidade. A meu lado estava o meu chefe, responsável direto pela minha contratação. Era o Gerente da Produção Farmacêutica, um engenheiro corpulento, tipo socado, um tanto ríspido no trato, ia sempre direto ao ponto. Eu, um jovem de 22 anos de idade, sensível, com preocupações existenciais, muito chegado à literatura. E foi justamente este amor aos livros que, além da relação profissional, de confiança mútua, construiu uma relação de amizade entre nós. Acontece que aquele homem, que intimidava as pessoas, conhecido pela alcunha de Paçoca, pelo seu tipo físico e pelo trato, era também um amante da literatura e dos grandes clássicos. Foi dele que ouvi pela primeira vez menção ao livro “Almas Mortas”, do genial escritor russo Nikolai Gogol, obra que eu viria a degustar poucos anos mais tarde. Naquela conversa falei do que eu considerava a grande questão existencial: Destino x Livre Arbítrio. Ele, com muita tranquilidade me respondeu que conciliava as duas coisas. Há eventos que em determinados e imprevisíveis momentos nos acometem. É o Destino. Mas, entre esses eventos somos capazes de conduzir as nossas vidas, através do exercício do Livre Arbítrio. Jamais esqueci aquela fala,<div><br /></div><div> Recuemos ao ano de 1967. A carta, da PETROBRAS, e que ainda tenho em mãos, datada de 06 de dezembro de 1966, chegou, levada diretamente por um portador à residência dos meus pais, com quem eu residia, em Niterói. Eu não estava lá, no momento da entrega, cheguei mais tarde e fui recebido com imensa alegria por eles. E o que dizia a carta? Que eu, “entre 1.212 candidatos, havia sido aprovado e classificado para ingresso naquela empresa como ‘técnico estagiário’, durante o período de Pós-Graduação em Engenharia de Processamento, a iniciar-se em fevereiro próximo vindouro.”</div><div><br /></div><div> Era a glória. Eu mal completara a minha graduação em Química Industrial pela prestigiosa Escola Nacional de Química da Universidade do Brasil, então sediada na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, e já tinha em mãos o mais cobiçado emprego que um profissional desejaria ter, numa época em que a industrialização do Brasil ainda era um tanto incipiente. O processo classificatório fora bastante duro. Embora facultado a qualquer profissional de nível superior da Química, o que o concurso visava era muito primordialmente aqueles com base em Engenharia Química. Eu, Químico Industrial (não confundir com Técnico Químico, um profissional de nível médio), tivera dois anos de disciplinas compartilhadas com os Engenheiros Químicos. A partir daí se deveria optar por um dos dois cursos, e a convergência entre ambos se daria em apenas algumas disciplinas. Eu não gostava de engenharia, daí a minha opção.</div><div><br /></div><div> O concurso constou de uma prova de conhecimentos técnicos, com uma duração de 4 horas. Houve um intervalo para almoço, ao qual seguiu-se uma bateria de testes psicotécnicos. Mas não parou por aí. Após selecionados, deveriam todos ainda submeter-se a consultas individuais com dois diferentes profissionais: um Psiquiatra e um Oftalmologista. Atendi às duas consultas. Com o oftalmologista, num teste para diferenciação de cores, ficou constatado que eu era daltônico (*), condição que eu mesmo desconhecia. Perguntei ao médico se isso poderia ser um problema, ao que ele respondeu que poderia ser eliminatório. Estranhamente não dei muita importância ao fato. Antes mesmo da emissão dos laudos, iniciou-se o curso de Pós Graduação, com carga horária de 8 horas por dia, durante um ano. Era uma turma de cerca de 30 alunos. Começaram as aulas, eu já vendo o direcionamento das matérias para a área da engenharia, e um desconforto ao me imaginar trabalhando em uma refinaria, quando, cerca de duas semanas após, fomos, eu e um outro colega de turma, chamados à Secretaria do curso, onde nos informaram que seríamos desligados, ambos por problemas oftalmológicos. Eu por ser portador de daltonismo, o colega por outra razão qualquer. Perguntei qual o problema em ser daltônico, ao que me foi respondido que, em uma situação de emergência na refinaria, eu poderia não saber identificar as tubulações, diferenciadas por cores, e por onde corriam líquidos e gases, a serem abertas ou fechadas. A explicação não me convenceu muito (**). Ao candidatar-me ao emprego na PETROBRAS eu exercera o meu Livre Arbítrio. Ao desligar-me, a empresa exerceu o seu, que recaiu sobre mim como um golpe do Destino.</div><div><br /></div><div> O fato é que eu, no íntimo, já me sentira imensamente gratificado por ter sido aprovado em um concurso tão rigoroso, ao qual concorreram profissionais de todo o país. Provara a mim mesmo, e aos colegas de turma, que eu aprendera o que fora ensinado, que eu era bom. Fui muito cumprimentado. Realmente, trabalhar em uma unidade industrial do que quer que fosse não me seduzia, ainda mais em uma refinaria, minha vontade mesmo era aprofundar os estudos teóricos em alguma pós graduação. E essa oportunidade logo me foi oferecida com a montagem de uma nova pós graduação, tecnológica, no Instituto de Química, também sediado na Praia Vermelha. Junto com três diletos amigos nos inscrevemos e começamos a frequentar as aulas, com muita alegria. Mas, ao longo de alguns meses fomos percebendo que aquele curso não se consolidaria. O responsável por sua implantação estava tendo grandes dificuldades na obtenção de fundos do exterior, indispensáveis para a cobertura dos gastos. Foi então que através de um tio foi marcada uma entrevista com o Superintendente daquela fábrica mencionada no início deste texto. A não consolidação do curso foi um golpe do Destino, ao qual respondi, no uso do meu Livre Arbítrio, com o meu desligamento e com a aceitação da entrevista na fábrica. O Destino me aprontara duas peças, mas, como pregava Sartre, o importante não é o que fazem conosco, mas aquilo que fazemos com o que fazem conosco.</div><div><br /></div><div>Tomei o ônibus e para lá segui. A entrevista com o Superintendente foi curta, logo me encaminhou para entrevistas com alguns gerentes, dentre os quais o Paçoca, a mais curta de todas. Mais tarde, perguntei a ele o porquê, ao que me respondeu que viu logo que eu era um cara sério, e que iria se revoltar contra a cambada. Por cambada ele se referia a um grupo que tramava contra o Superintendente, começando por tramar contra ele próprio, Paçoca, Gerente da Produção Farmacêutica, um profissional dedicado e muto competente. Terminadas as entrevistas, o Superintendente decidiu pela minha contratação. Foi então que, por Livre Arbítrio de ambas as partes, da minha e da empresa, no dia 12 de agosto de 1967, comecei formalmente a trabalhar na fábrica, na função de Analista de Processo.</div><div><br /></div><div> Lá fui ficando, e retornando quase todos os finais de semana à casa dos meus pais, em Niterói. Não havia a Ponte, era uma jornada de quase 4 horas. Um belo dia, no início do ano de 1969, surgiram na fábrica para cumprimento de um estágio precedente ao quinto e ultimo ano do seu curso de Engenharia Química, dois estudantes vindos de Belo Horizonte, um homem e uma mulher, aquela que viria a ser minha esposa e mãe dos meus filhos. O nosso enamoramento, posterior casamento e os dois engravidamentos dela, dos quais nasceram nossa amada filha e nosso amado filho, foram fruto de nosso Livre Arbítrio.</div><div><br /></div><div> Hoje, olhando para os meus dois netinhos, fico rememorando todos esses fatos. A decisão de ter filhos foi fruto do Livre Arbítrio da minha filha e de seu marido, mas, nem ela nem seus amados filhos existiriam, assim como não existiria meu filho, se a sequência de eventos acima, compostos por intervenções do Destino e pelo exercício do Livre Arbítrio tivesse sido diferente.</div><div><br /></div><div> ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ </div><div>(*) Diferentemente do que muitos pensam, daltonismo, ou discromatopsia, não é necessariamente uma incapacidade de distinguir entre o verde e o vermelho. Existem daltônicos e daltônicos. No meu caso, por exemplo, geralmente não tenho dificuldade em distinguir quando as cores são bem marcantes. O problema surge nos entretons. Tanto no referido exame com o oftalmologista, como nas inúmeras vezes em que fui submetido a exame de vista no DETRAN, por conta da Carteira de Habilitação, me é apresentado um livro onde, em cada página, aparece uma diferente composição de bolinhas em nuances de cores. Um não portador de discromatopsia enxergará um número formado por uma sequência de bolinhas de tonalidades muito próximas. Eu consigo enxergar os números em algumas páginas, em outras, não. Nos exames do DETRAN já declaro que sou daltônico, ao que o oftalmologista acende sinais de trânsito, cujas lâmpadas emitem, de posições variáveis, luminosidade nas cores verde, vermelho e amarelo, e que são identificadas por mim, e assim sou sempre aprovado. Ademais, a Física nos ensina que a cor não é uma característica dos objetos, depende da luz que os ilumina. Um objeto associado a uma determinada cor pode ser visto como de uma cor completamente diferente dependendo da luz que o ilumina.
(**) Justificativa completamente despropositada, sem levar em consideração o disposto acima. De qualquer forma, vale recorrer ao jargão popular “Deus escreve certo por linhas tortas”. Minha filha, meus netinhos, meu filho, existem, dentre uma série de outras circunstancias, porque sou daltônico!!! </div><div>José Antonio C. Silva
27/02/2021
</div>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-26178026929069377952021-02-05T18:05:00.005-03:002021-02-05T18:12:55.642-03:00Os Sábios, os Filósofos e o COVID-19<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Os Sábios, os filósofos e o COVID-19<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 212.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 212.4pt; mso-add-space: auto; text-indent: 35.4pt;">Os sábios e os
filósofos mais ilustres<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 212.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 212.4pt; mso-add-space: auto; text-indent: 35.4pt;">Caminharam nas
trevas da ignorância<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 212.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 212.4pt; mso-add-space: auto; text-indent: 35.4pt;">E eram os luzeiros
do seu tempo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 212.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 212.4pt; mso-add-space: auto; text-indent: 35.4pt;">E o que fizeram,
enfim?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 212.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 212.4pt; mso-add-space: auto; text-indent: 35.4pt;">Pronunciaram algumas
frases confusas<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 212.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 212.4pt; mso-add-space: auto; text-indent: 35.4pt;">E adormeceram
fatigados <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 212.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 212.4pt; mso-add-space: auto; text-indent: 35.4pt;">(Rubaiyat, de Omar Kháyyám)
(*)<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 177.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 0cm 177pt; mso-add-space: auto; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">A quadra transcrita no prólogo desta crônica foi escrita há
cerca de mil anos. O que, sobre a atual pandemia, estão falando os sábios e os
filósofos mais ilustres?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Muitos parecem completamente perdidos em relação à atual
pandemia do diabólico vírus COVID-19. Não há um consenso sobre o que fazer em
termos de cuidados preventivos – distanciamento social, desinfecção, uso de
mascaras, medicação preventiva e vacinas (sobre as quais comentaremos ainda
neste texto), ou de tratamento, uma vez contraída a doença. Uma parte é insofismável
e sinceramente favorável a essas medidas, largamente predominante na maioria
dos países, enquanto outra parte faz chacota desses conselhos. Quando os <i>sábios</i>
são os políticos, a coisa é bem mais complicada. Por mero ativismo partidário
em muito contribuem para disseminar a dúvida e, aqueles em cargos executivos, também
por insegurança, oscilam em movimento pendular entre a decretação de <i>lockdown</i>
e a de abertura quase irrestrita nas entidades federativas sob sua
administração.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como consequência, as
pessoas reagem das mais variadas maneiras, desde um quase paranoico cuidado preventivo
até um total desafio às regras que prescrevem aqueles cuidados. Essas parecem que
se cansaram da longa temporada em que mantiveram alguma prudência e partem para
um comportamento por vezes orgiástico. O antigo conceito “a virtude está no
meio”, apregoado na Roma Antiga, não é reconhecido em nosso país, onde a
disciplina não é propriamente uma característica mesmo quando ela se faz
necessária.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Das redes sociais jorram mensagens de toda sorte, emitidas
por profissionais identificados e supostamente qualificados para emitir opinião
equilibrada sobre o tema, mas o que se vê frequentemente são declarações de
certezas messiânicas. E mensagens através de vídeos, áudios ou textos nas quais
se identificam claramente a falsidade das afirmações, as clássicas fakenews e
os enredos baseados em teorias da conspiração, muitas absolutamente mirabolantes,
toscos arremedos da ficção criada nos célebres romances distópicos: “A Máquina
do Tempo” (H.G. Wells), “1984” (George Orwell), “Fahrenheit 451” (Ray
Bradbury), “Admirável Mundo Novo” (Aldous Huxley), dentre outros. Uma Nova
Ordem Mundial, um governo mundial totalitário estaria sendo construído por uma
poderosa elite secreta para governar o mundo por meio de um governo mundial
autoritário que iria substituir os Estados-nação soberanos. A pandemia teria
sido criada com esse objetivo. Muitas pessoas tomam essas manifestações como
verdades insofismáveis, e saem compartilhando seus credos; outras são dominadas
por uma crescente descrença na informação e no saber científico. Claro, o mundo
certamente não será o mesmo quando (?) a peste for controlada. Países oportunisticamente
se aproveitarão da pandemia e sairão fortalecidos, outros sairão enfraquecidos,
mas tudo ocorrerá dentro de um planejamento de uma poderosa elite secreta,
cientificamente bem concebido e executado? Neste ponto é muito oportuno lermos as
considerações do renomado cientista britânico Martin Rees, ex- Presidente da Associação
Britânica para o Desenvolvimento da Ciência. (**) <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Mas, diferentemente de manifestações que, embora messiânicas,
possam refletir uma sincera crença da parte de quem as faz, existem aquelas
movidas e completamente contaminadas por um puro e simples facciosismo político
ou por interesses comerciais. É um cínico e despudorado aproveitamento de uma
tragédia que flagela a humanidade em prol de objetivos torpes. E valem-se da
poderosíssima ferramenta das redes sociais, recurso daqueles que não têm acesso
à mídia tradicional, de resto bastante conspurcada. Lamentável é que tantos
usuários das redes se prestem a esse papel de difusores desse tipo de coisa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Agora, a questão das vacinas. Desesperadas, as pessoas
anseiam pela vacina que as colocará a salvo da peste. Não obstante a eficácia
daquelas apresentadas até o momento não ser absoluta, e o fato de que há
evidências de que o vírus apresenta mutações, as apostas estão sendo colocadas.
E logo surgem notícias assustadoras. A vacina “B”, produzida por um prestigioso
laboratório, resultou na morte de 33 idosos que receberam uma primeira dose da
vacina, na Noruega, um país escandinavo de invejáveis padrões sócio-econômicos
e avesso a teorias conspiratórias. Justamente idosos, componentes de grupos de
alto risco. Mas logo vem um desmentido, todos os dias morrem cerca de 45
pessoas em lares de idosos naquele país, e que não há qualquer comprovação de
que aquelas mortes seriam decorrentes do COVID-19. Em outra postagem,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>essa vacina conteria em seu memorando, uma
espécie de bula, um alerta, em inglês: “Para proteger a fertilidade alguns
homens talvez queiram considerar o congelamento de seu esperma antes da
vacinação.”<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A vacina seria capaz de
causar mutações genéticas, e causaria riscos à gravidez. O laboratório
desmentiu categoricamente essas afirmações contidas em postagens que já
contavam com muitos milhares de compartilhamentos. E quanto às demais vacinas?
A aplicação da vacina “C” colocaria em sério riscos os idosos acima de 65 anos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A vacina “D” estaria sendo rejeitada em seu
próprio país de origem. A vacina “E” ainda não teria cumprido os protocolos
necessários para a sua liberação. Por fim, as vacinas terão “microchips” ´para
colher a identidade biométrica da população. Tudo isso já foi desmentido, mas é
aconselhável, por sua vez, analisar com atenção os desmentidos para
certificar-se de sua fundamentação. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Que mentes doentias estariam por trás dessas criações? Apenas
perversidade mórbida? Ou, quem sabe, outros componentes? Política,
naturalmente. E também comercial. É sabido que laboratórios estão competindo em
um mercado de muitos, muitos, bilhões de dólares. É de se perguntar se não
existiria algum componente de guerra comercial por trás dessas notícias. Não
afirmo coisa alguma, apenas especulo, é mais uma teoria da conspiração. Cabe a
cada um tirar suas próprias conclusões. E idealmente cada um seria livre para
decidir quando e qual vacina tomar, naquela em que acredita, mas sabemos que
esse não será o caso. Na data em que escrevo, existem duas vacinas já sendo
aplicadas em nosso país, e são divulgados calendários para vacinação segundo
critérios de prioridade como faixa etária, maior exposição a risco pela
atividade exercida etc. É justo. O número de vacinados começa a aumentar de
forma expressiva. E quanto àqueles que se recusarem a vacinar-se, terão seus
direitos civis cerceados de diversas formas, como já foi aventado?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">O fato é que não existem certezas sobre ponto algum da
discussão. Propaga-se que as vacinas são seguras, podem apresentar poucos
efeitos colaterais, sem gravidade, mas não garantem 100 % de imunidade. A
primeira dose não garante proteção, é necessário tomar a segunda para atingir o
percentual de imunidade associado à cada vacina. Aconselha-se mesmo àqueles que
contraíram, e se recuperaram do vírus, a vacinarem-se. Existem outros que por
alguma condição particular de saúde devem consultar o seu médico sobre a
conveniência de vacinar-se. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Além da descoberta de que o vírus é mutante, pode atacar sob
outras variantes, o que é motivo de inquietação entre os que já contraíram a
doença e os já vacinados, surge agora o “Long Covid”, ainda sem tradução em
português. Refere-se a um fenômeno que revela impactos de longo prazo da
doença. Ou seja, mesmo os recuperados poderão ainda sofrer uma série de
sintomas debilitantes semanas após a alta, incluindo efeitos psiquiátricos e
físicos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 107%;">Por fim, exalte-se o comportamento dos profissionais da área
de saúde – médicos, enfermeiros, assistentes sociais, fisioterapeutas,
psicólogos, pessoal de apoio em geral – que arriscam suas vidas atuando
silenciosamente nas frentes de batalha nos hospitais e em outros postos </span><span style="color: black; font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">dedicados a salvar aqueles acometidos por essa
peste implacável. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">___________________________________________________________________________________<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">(*)
Omar Kháyyám (1040-1125) nasceu na então Pérsia, atual Irã. Além de poeta, foi
um grande matemático e astrônomo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Rubayát
é o plural da palavra persa Rubai e que quer dizer “quartetos”. O texto na epígrafe
desta crônica é um dos poemas da coletânea “Rubayát” (Livraria Editora José
Olympio, 1967).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">(**)
Uma publicação no site intitulado LONG BETS (Apostas de Longo Prazo), <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>feitas no período entre 2017 e 2020 (Acesso em
04/02/2021) contém diversas previsões. A Aposta 9 é encabeçada com a espantosa previsão
do cientista Martin Rees: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“A
bioterror or bioerror will lead to one million casualties in a single event
within a six month period starting no later than Dec 31 02020”<b>. </b>Em livre
tradução: “Um ato [no campo da Biotecnologia] deliberado ou não causará um
milhão de mortes em um único evento num período de seis meses começando até 31
de Dezembro de 2020”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ainda
em livre tradução, seguem as reflexões do cientista: A Biotecnologia está
claramente avançando rapidamente, em torno de 2020 haverá milhares – mesmo
centenas de milhares - de pessoas capazes de causar um catastrófico desastre
biológico. Minha preocupação não é apenas em relação a grupos terroristas
organizados, mas com indivíduos bizarros com o mesmo tipo de mentalidade daqueles
que presentemente engendram os vírus de computador. Mesmo que todas as nações
imponham efetiva regulamentação sobre tecnologias potencialmente perigosas, a
chance de sua real aplicação me parece tão pequena quanto no caso das leis
sobre drogas. Por “bioerror” eu implico algo que tenha o mesmo efeito de um
ataque terrorista, mas surgido inadvertidamente e, não, de uma intenção
maligna”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Terminando,
merece ainda ser citado o matemático John Casti, ph.D, especialista nos estudos
das teorias dos sistemas e da complexidade. Em seu livro “O Colapso de Tudo”,
Editora Intrínseca Ltda, 2012, ele relaciona (e detalha suas razões) a
insurgência de uma pandemia global como um dos doze eventos extremos que podem
destruir a civilização a qualquer momento. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Martin
Rees e John Casti: nenhum deles é um internauta qualquer a inventar teorias da
conspiração completamente desprovidas de fundamento. É preocupante o que dizem.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">José
Antonio C. Silva<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Neuton",serif; font-size: 12pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">04
de Fevereiro de 2021<o:p></o:p></span></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-48306900151126893312020-12-27T17:26:00.003-03:002020-12-27T17:26:47.650-03:00Não há beleza sem o pensamento da beleza<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">“Não há beleza sem o
pensamento da beleza”<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">Esta é a frase final do texto
escrito por Christophe Clavé (*) <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>encontrado no link abaixo (acesso em 22/12/2020),
em língua italiana, assim como em sua tradução para a língua portuguesa. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><a href="https://libplus.it/non-ce-liberta-senza-necessita-non-ce-bellezza-senza-il-pensiero-della-bellezza/?fbclid=IwAR1xQuQHGZxBAIjf4mzGdIRrARBkbtr3aj4trB_7gWSr7zj2DuudqaXa3Lo"><b><i>https://libplus.it/non-ce-liberta-senza-necessita-non-ce-bellezza-senza-il-pensiero-della-bellezza/?fbclid=IwAR1xQuQHGZxBAIjf4mzGdIRrARBkbtr3aj4trB_7gWSr7zj2DuudqaXa3Lo</i></b></a><b><i><u><span style="color: #0563c1; mso-themecolor: hyperlink;"><o:p></o:p></span></u></i></b></p>
<p class="MsoNormal"><b><i>por Christophe Clavé.</i></b><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O Efeito Flynn - batizado em homenagem ao cientista que
estudou esse fenômeno - afirma que o quociente de inteligência médio (QI) da
população mundial está aumentando constantemente. Isso pelo menos desde o
segundo pós-guerra até o final dos anos 90. Desde então, o QI vem
diminuindo. É a inversão do Efeito Flynn.<br />
A tese ainda é debatida e muitos estudos estão em andamento há anos sem
conseguir acalmar o debate. Parece que o nível de inteligência medido
pelos testes diminui nos países mais desenvolvidos. Pode haver muitas
causas para esse fenômeno.<br />
Um deles pode ser o empobrecimento da linguagem. Na verdade, muitos
estudos mostram a diminuição do conhecimento lexical e o empobrecimento da
linguagem. Não se trata apenas da redução do vocabulário utilizado, mas
também das sutilezas linguísticas que nos permitem elaborar e formular um
pensamento complexo. O desaparecimento gradual dos tempos (subjuntivo,
imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado) dá origem a um
pensamento quase sempre no presente, limitado ao momento, incapaz de projeções
no tempo. A simplificação dos tutoriais, o desaparecimento da
capitalização e da pontuação são exemplos de golpes mortais na precisão e
variedade de expressão. Apenas um exemplo: eliminar a agora obsoleta
palavra "Signorina" [no original em língua italiana. Senhorita, em
português] não significa apenas abrir mão da estética de uma palavra, mas
também promovendo involuntariamente a ideia de que não existem fases
intermediárias entre uma menina e uma mulher. <u>Menos palavras e menos
verbos conjugados significam menos <a name="_Hlk59653810">capacidade de
expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento </a>(o grifo é
meu)</u>. Muitos estudos têm mostrado como parte da violência nas esferas
pública e privada decorre diretamente da incapacidade de descrever as emoções
em palavras. Sem palavras para construir um argumento, o pensamento
complexo torna-se impossível. Quanto mais pobre a linguagem, mais o
pensamento desaparece. A história está cheia de exemplos e muitos livros -
de Georges Orwell em 1984 a Ray Bradbury em Fahrenheit 451 - contam como todos
os regimes totalitários sempre atrapalharam o pensamento, por meio de uma
redução no número e no significado das palavras. Se não houver
pensamentos, não há pensamentos críticos. E não há pensamento sem
palavras. Como construir um pensamento hipotético-dedutivo sem o
condicional? Como pensar o futuro sem uma conjugação com o
futuro? Como é possível captar uma temporalidade, uma sucessão de
elementos no tempo, passado ou futuro, e sua duração relativa, sem uma
linguagem que distinga o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderia
ser, e o que será depois do que pode ter acontecido, realmente
aconteceu? Quero me dirigir a pais e professores: fazemos nossos filhos,
nossos alunos falar, ler e escrever. Ensinar e praticar o idioma em suas
mais diversas formas. Mesmo que pareça complicado. Principalmente se
for complicado. Porque nesse esforço existe liberdade.<br />
Não há liberdade sem necessidade.<br />
Não há beleza sem o pensamento da beleza.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">(*) Christophe Clavé. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Diplomado em Ciências pelo Instituto de
Estudos Políticos de Paris. Detentor de um MBA, <i>coach</i> (treinador)
profissional, passou 25 anos em empresas, como Diretor de RH e como Diretor
Geral. Foi ainda encarregado do curso de Estratégia e Políticas de Empresas na
Escola de Altos Estudos Comerciais de Paris durante 5 anos. Atualmente é
Presidente de uma sociedade de investimentos e treinador de dirigentes. Autor
do livro "Les Voies de la Stratégie" – “Caminhos da Estratégia”.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p><b>Meus comentários:</b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Tenho escrito
exaustivamente, e continuarei escrevendo, sobre a superficialidade dos contatos
e os desentendimentos entre as pessoas no mundo atual, sejam presencias ou
virtuais, e a decisiva influência da internet, poderoso e extremamente útil
meio de informação (não sendo de forma alguma um substituto para o livro) e
comunicação entre as pessoas, mas cujo uso abusivo acaba por em muito
contribuir para aquele fenômeno.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Aquele que deveria escutar a fala do outro
como que constrói em sua mente um discurso que não reflete aquilo que está
realmente sendo dito, mas, sim, o que ele espera que o outro fale, valendo-se
de uma espécie de um algoritmo em seu cérebro. Um exemplo: alguém expressa a
sua revolta quanto ao ostensivo descumprimento, por parte da população, da recomendação
do distanciamento social para medida de redução do risco de contágio pelo COVID-19.
E lamenta a indisciplina de nosso povo: “Nós não somos japoneses.” Ao o outro
prontamente retruca: “Ainda bem que não somos japoneses!”, ampliando um desejo expressado
tão somente quanto a uma específica característica dos japoneses. Trata-se de
alguém que, por essa reação, denota sua desaprovação à regra do distanciamento
social, um direito seu, naturalmente, mas manifestado por uma distorção da fala
de seu interlocutor, escutada como um desejo de que, para todos os efeitos,
fossemos japoneses.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E a comunicação fica ainda mais prejudicada
quando se considera a menor capacidade, da parte de quem fala, de expressar
emoções e de processar um pensamento, o que deixa lacunas nas conversações, ensejando
àquele que escuta preencher essas lacunas com significados que ele próprio
cria. Como resultado, desentendimentos, incompreensão, agressões. O texto do Professor
Clavé é perfeito nessa abordagem quando relaciona o empobrecimento da linguagem
com a dificuldade na comunicação, e coloca em discussão esse fenômeno como
possível causa para a redução do quociente de inteligência médio da população
mundial (QI) observado nos últimos 20 anos, em contraposição à constante
elevação constatada desde o pós guerra em 1945. Não se trata, como já escrevi
em outros textos, de que as pessoas devam ter uma erudição vernacular de um
Machado de Assis, de um Carlos Drummond de Andrade, ou, ainda, a precisão de um
Millôr Fernandes, mas, sim, que falem ou escrevam com um mínimo de
consistência, para se fazer entender corretamente pelo interlocutor, admitido ainda
que este não tenha conceitos pré-estabelecidos por um algoritmo sobre aquele que
fala.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Não há beleza
sem o pensamento da beleza. E, na contenção da Novilíngua, imaginada por George
Orwell em seu “1984”, e nos exageros do politicamente correto, não há espaço
para obras artísticas, especialmente aquelas expressas na forma dos grandes
romances, da poesia, dos enredos de peças teatrais e de filmes, nas letras de
grandes canções. À arte restará ser engajada, à serviço do sistema político
dominante. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Tudo o que
dissemos até o momento pressupõe que os desentendimentos sejam apenas fruto de
um empobrecimento da linguagem e, consequentemente do pensamento, e, não, fruto
de uma deliberada intenção de uma, ou de ambas as partes, de vencer o debate a
qualquer custo, mesmo sem ter qualquer razão, o que, infelizmente, parece ser muito
frequente nos polarizados debates dos tempos atuais. Estamos falando da
Dialética Erística, do filósofo Schopenhauer, que a define justamente como a
arte de discutir, e mais especificamente, de discutir de modo a ter razão, seja
por meios lícitos ou ilícitos. Schopenhauer aponta que é possível ter razão <i>objetiva</i>
em relação ao assunto em si e, ainda assim, aos olhos dos observadores, e aos
próprios, não ter razão. O livro do qual retiramos os conceitos intitula-se “38
estratégias para vencer qualquer debate – A arte de ter razão” (FARO EDITORIAL,
2014). Nesse livro, o filósofo descreve cada uma das 38 estratégias, dentre as
quais, como exemplo, citamos: Use as premissas de seu oponente contra ele; Mude
as palavras do oponente para confundi-lo; Faça seu oponente concordar de forma
indireta; Provoque o oponente; Confunda e assuste o oponente com palavras
complicadas e por aí segue, até chegar à estratégia final: Como último recurso,
parta para o ataque pessoal. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Importante
assinalar que o propósito da exposição das estratégias não é o de fornecer aos
mal intencionados ferramentas para vencer os debates sem ter qualquer razão,
mas, sim, de alertar a todos sobre esses truques e subterfúgios dialéticos. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">José Antonio
C. Silva<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>26/12/2020<o:p></o:p></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-5719284177400501672020-12-15T11:20:00.003-03:002020-12-15T11:20:55.110-03:00Conversa com o Vírus<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Conversa com o Vírus<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Finalmente adormeceu, a madrugada de
uma noite tormentosa já era chegada. Um sono intranquilo, agitando-se na cama.
E começou uma sensação de uma leve ardência, uma sensação de formigamento
percorria seu corpo. Opressão no peito. Despertou. Silêncio e escuridão em seu
quarto. Salvo por um ponto luminoso postado sobre uma prateleira de sua estante,
onde repousava uma vasta coletânea de livros sobre os mais diversos assuntos.
Esfregou os olhos, concentrou sua atenção naquele ponto luminoso. Era algo em
forma de uma grande semente de mamona, de cujos espinhos emanavam filamentos de
luz. Estremeceu. Decerto era um pesadelo, um delírio, andava lendo demais sobre
aquilo. E aquilo era o Vírus, o vírus que assolava a humanidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Transtornado, pergunta: </span><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">- “Quem é você, sinistro ser que penetra a
minha alcova durante a madrugada e me causa arrepios?” – “Sou o Vírus,
responde, a semente.” – “Que vírus, o coronavírus?” – “Pode ser.” – “Como
assim? Ou é ou não é”, contesta. - “Vocês, humanos, têm muitas certezas, as
coisas têm que ser sempre muito definidas.” – “De onde você veio, para penetrar
em minha alcova, e estar aí postado, enchendo-me de terror?” – “Vim do infinito,
do eterno, faço parte da ordem natural das coisas.” - “Mas, quem é você?” –
repetiu, angustiado, o homem sobre sua cama. – “Novamente, a necessidade humana
de classificação. Não sou, estou sendo. No momento, um vírus; na Peste Bubônica
da Idade Média, uma bactéria. Naquilo que vocês chamam de Gripe Espanhola,
novamente um vírus. De quando em quando decido fazer uma visita ao seu mundo
para mostrar a fragilidade e a soberba da raça humana.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Ele delirava, com certeza delirava. Aquele
diálogo não podia estar existindo. Procurou acalmar-se. Do ponto luminoso
continuou a voz - “Veja. No momento em que eu estou assolando todos os recantos
do planeta, não existe um consenso em relação ao que fazer para proteger-se de
mim. Os seus mais ilustres cientistas divergem da maneira mais absoluta em sua
orientação à população.” - Prosseguiu: “As pessoas, salvo em pouquíssimas
sociedades, reagem de maneira desordenada, em total indisciplina, politizam uma
questão que deveria ter uma abordagem puramente técnica. E os políticos são
meus aliados. Isso facilita muito o meu trabalho de infectar.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">“Mas, já temos conhecimentos de sua forma de
atuação, temos remédios, logo teremos vacinas. Você será exterminado”. –
“Quanta tolice. Eu já disse: <i>não sou</i>, <i>estou sendo</i>. É puro
pensamento ilusório julgar que uma vez infectada, a pessoa estará automaticamente
imune para sempre. Posso transmutar-me, a vacina, ainda que funcione contra uma
das minhas formas, de nada valerá contra uma futura mutação. E tem mais,
prosseguiu a voz que vinha do brilho que emanava dos espinhos da semente de
mamona, que tal essa torrente de sandices que vocês espalham sobre as vacinas?
Elas fariam parte de um plano diabólico, vão causar alterações genéticas, vão
possibilitar o total controle sobre aqueles que a tomarem. Vocês adoram teorias
da conspiração, nelas o homem, mesmo que da forma mais perversa, é o arquiteto,
e está no controle. Não é nada disso, eu estou por aí, não estou a serviço de
vocês, pobres humanos.” <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">E a voz prosseguiu: “Eu decidirei quando darei
um tempo para vocês, em algum momento vou me cansar e colocar-me numa
retaguarda a espera de um novo momento de ataque, até mesmo para promover controle
populacional. Foi sempre assim, desde as pragas bíblicas. Vocês não aprendem,
não sou o único responsável pelos genocídios. Não se esqueçam das duas grandes
guerras mundiais, e das incontáveis outras guerras travadas ao longo de
séculos, milênios, da violência cotidiana, da miséria, coisas sobre as quais eu
não tive e nem tenho qualquer participação. A vocês foi dado o livre arbítrio,
podem usá-lo para o bem ou para o mal, e devem arcar com as consequências.
Mesmo diante de uma catástrofe não provocada pelo exercício de uma escolha
humana, o livre arbítrio será exercido na lida de seus efeitos. “<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Aquele discurso fazia sentido. O homem
prestara atenção em cada uma daquelas palavras. Perguntou: “Como você acha que
estamos lidando com esta pandemia?” – “Já respondi. De forma atabalhoada,
desconexa, vitimista. Confundem tudo, se tornam presa fácil para mim,
especialmente quando desprezam os conselhos mais básicos, como evitar
aglomerações e o uso de máscaras. Não é que um psiquiatra aparece falando que
as pessoas usando máscaras estão formando uma sociedade esotérica, e que
escondem seus rostos por vergonha? Pois eu lhe digo, humilde mortal, até porque
a sua voz não será ouvida: o uso da máscara é, sim, muito importante para a
prevenção, mesmo para aqueles que já receberam a minha visita. Atuarei,
preferencialmente, sobre os descuidados, os que me subestimam.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Continuou: “Vocês estão confusos, relacionam
uma vastíssima lista de sintomas que podem denunciar a contaminação. Acabará
que qualquer sinal emitido pelo corpo, e que passaria completamente
despercebido numa situação normal, os levará a ingerir uma batelada de fármacos
ou mesmo a uma ida a um hospital. Eu atuarei sobre cada um de vocês de uma
forma que eu decidirei, mais branda para uns, mais contundente para outros,
fatal para outros mais. Preocupação exagerada de nada adiantará, levará vocês à
depressão, à elevados níveis de estresse, à paranoia.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O homem já ouvira o suficiente. Armando-se de
coragem, perguntou: “E quanto a mim, você vai me contaminar?” – “Não sei, gosto
de ser imprevisível para mim mesmo”, foi a resposta final do Vírus. O homem levantou-se,
acendeu a luz, e já não havia qualquer sinal da semente de mamona e de sua luminescência
sobre a sua estante de livros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">José Antonio C. Silva <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">14/12/2020<o:p></o:p></span></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-2988031277228107932020-12-01T09:17:00.001-03:002020-12-01T09:17:43.938-03:00O Virus e o Corvo de Allan Poe<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">O Vírus e o Corvo de Allan Poe<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; text-indent: 35.4pt;"><i>Foi uma vez: eu
refletia, à meia-noite erma e sombria<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; text-indent: 35.4pt;"><i>a ler doutrinas
de outro tempo em curiosíssimos manuais,<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; text-indent: 35.4pt;"><i>e, exausto, quase
adormecido, ouvi de súbito um ruído, <o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; text-indent: 35.4pt;"><i>tal qual se
houvesse alguém batido à minha porta, devagar.<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; text-indent: 35.4pt;"><i>“É alguém –
fiquei a murmura – que bate à porta, devagar,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm;"><i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-tab-count: 4;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>sim, é só isso e nada mais.”<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Assim começa o fantástico, sob todos os aspectos, poema “O
Corvo” (<i>The Raven</i>, no original), de Edgar Allan Poe (1).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Não era um “alguém”, era a sinistra figura de um Corvo, conforme
se descobrirá na sequência do poema, e que viria<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a ser descrito como um ser do mal, uma ave
infernal, e que, pela janela, adentra o quarto e pousa, hierático, sobre uma
escultura, um busto da deusa Minerva. A cada questionamento, o Corvo repete
sempre: “Nunca mais” (“Nevermore”). Em total desespero, o sofrido personagem
implora à sinistra ave: “Volta de novo `a tempestade, aos negros antros
infernais”, ao que o Corvo responde mais uma vez, em definitivo: “Nunca mais”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E
lá ficou! Hirto, sóbrio, ainda hoje o vejo, horas a fio,<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sobre
o alto busto de Minerva, inerte, sempre em meus umbrais.<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 106.2pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>No seu olhar medonho e enorme o anjo do mal,
em sonhos dorme,<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>e à luz da
lâmpada, disforme, atira ao chão a sua sombra.<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Nela, que ondula
sobre a alfombra, está minha alma, e, presa à sombra <o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>não há de erguer-se, ai! Nunca mais!<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Lembrei-me dessa obra imortal, referência para poetas e
escritores em tantos idiomas, quando somos assolados pela segunda onda do
COVID-19, A Peste, em referência que faço ao livro de mesmo nome e escrito por
Albert Camus, já citado por mim em diversas crônicas. É como se na calada de
uma noite tormentosa a peste, na forma de uma semente de mamona, entrasse em
nosso lar e, tal qual o Corvo de Allan Poe, decidisse lá permanecer para sempre,
nos confundindo, nos adoecendo, nos enlouquecendo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Exausto, é como eu me
sinto, tal qual o sofrido personagem do poema, diante dessa pandemia que parece
não ter fim. As estatísticas sobre o número de contaminados e o de óbitos não
são confiáveis. Cada um acredita no que quer, as redes disseminam teorias da
conspiração e o pensamento ilusório – uma realidade projetada sobre um desejo,
por menos verossímil que seja.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Além das
indefectíveis fake news. Absolutamente cansado de ler tantas contradições
propaladas por especialistas das mais diversas áreas, doutrinando sobre o
vírus, os cuidados preventivos a serem tomados – assepsia, isolamento social,
ingestão de fármacos de toda sorte, etc. - e sobre como tratar a doença, caso contraída.
Mas, uma vez curada, aquela pessoa que contraíra a doença não estaria imunizada,
pois o vírus é mutante, afirmam alguns. Duvida-se da eficiência dos testes. E
agora temos a especulação em torno de uma vacina mágica, que finalmente nos
livraria desse horrível mal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Voltamos a um grau de isolamento social cujo rigor ainda não
está bem definido pelas autoridades competentes. As pessoas se cansam de se
sentirem privadas de sua livre circulação, dos encontros com os amigos, das
viagens, dos passeios, dos bares e restaurantes, das casas de espetáculo, dos
centros desportivos, das academias, enfim, de todos os lugares onde marcavam
presença. Confinadas em seus lares, apelam para o mundo virtual, dependentes da
tela de seu celular, de seu computador, de sua televisão. A ansiedade permeia,
à medida em que somos informados que o contaminado mais recente não é mais o
amigo de um amigo, mas, sim, um filho, um irmão, um outro parente, um vizinho ou
um amigo próximo. E nesse confinamento crescem o estresse, a ansiedade, a
depressão, a estática na comunicação perturbando a real escuta do outro, os
desentendimentos. O desenvolvimento de nossas crianças é prejudicado pelo
fechamento das escolas. E tudo isso envolto num ambiente de extrema polarização
política, alimentado pela mídia tradicional e pelas redes sociais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Sinto que na verdade estamos perdidos, sem uma orientação
segura sobre como proceder. O isolamento social foi relaxado, aqui e em muitos
países europeus, e como resultado temos a segunda onda. Tanto lá como cá a
abertura foi feita de forma descontrolada, agora há uma nova orientação para um
outro fechamento. Novamente recordo o livro de Camus. O escritor ambienta sua
narrativa na cidade de Orã, na Argélia. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Em
determinado momento, da mesma maneira com que o ciclo de mortes pela doença,
transmitida por ratos se iniciara, e rapidamente avançara, os óbitos
decresceram e praticamente cessaram, a ponto de a prefeitura, no dia 25 de
janeiro (ano?) considerá-la erradicada. Logo a população começou as
ruidosas comemorações. As portas da cidade se abriram. As famílias, então
separadas, começavam a se reunir.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Camus concluiu esse desesperado livro lembrando que o bacilo
da peste não morre e não desaparece. Avisou-nos que o bacilo da peste fica
“dezenas de anos a dormir nos móveis e nas roupas”. Ainda, advertiu que a peste
“espera com paciência nos quartos, nos porões, nas malas, nos papeis, nos
lenços”. E quando volta, “para nossa desgraça, manda os ratos morrerem numa
cidade feliz”. Trocando-se ratos e bacilos por outros vírus e pragas tem-se o
quadro aflitivo que eu e o leitor vivemos. E, com maior intensidade, os mais
fragilizados física e/ou emocionalmente. A leitura do livro é muito dura, mas
como tudo o que Camus escreveu é cheia de nuances e merecedora de profunda
reflexão. É uma alegoria da condição humana.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">É um alerta que nada valerá para a nossa população. Ruidosas
e despreocupadas comemorações ocorreram aos primeiros sinais de arrefecimento
do contágio. As máscaras caiam, estávamos livres do vírus <i>para sempre</i>. A
segunda onda chegou (haverá uma terceira, uma quarta?), invadiu as casas,
contaminou nossos entes queridos, causa enormes danos à economia dos países.
2020 entrará para a História como um ano sinistro. Ele já começou claudicante
para os habitantes da cidade do Rio de Janeiro e alguns municípios limítrofes
devido à poluição da água que chegava às nossas torneiras. Era uma contaminação
com a geosmina, uma substância química produzida por bactérias cujo crescimento
foi favorecido pelo aumento da concentração de matéria orgânica devido à
poluição por dejetos domésticos, industriais etc. despejados diretamente nas
bacias de captação de água a ser tratada e distribuída à população. Mas a
geosmina não era nada em comparação ao vírus que já rondava, sorrateiro, tal
qual o Corvo de Allan Poe, e começou a assombrar as nossas vidas no início do
mês de março. Quando irá embora, definitivamente? Nunca mais? Esperamos que
não!!!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 0cm; margin-top: 0cm; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">---------------------------------------------------------------------------------------------------------
<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-bottom: 8.0pt; mso-add-space: auto; mso-margin-bottom-alt: 8.0pt; mso-margin-top-alt: 0cm;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(1)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]-->Na tradução de Milton Amado (2), contida, entre
outras dez traduções – por mestres como Machado de Assis e Fernando Pessoa,
para a língua portuguesa, e Charles Baudelaire e Stéphane Mallarmé, para a
língua francesa - no livro “O Corvo” e suas traduções (Ivo Barroso, 2000,
Editora Nova Aguiar S/A), e também no link (2). O autor considera a tradução de
Milton Amado a melhor dentre todas apresentadas. Também presente está, é claro,
o original escrito na língua inglesa da magistral obra de Allan Poe. Mesmo para
quem não domina a língua inglesa, recomendo apreciar a interpretação (legendada)
e a ambientação do poema por Vincent Price (3), famoso por sua atuação em
tantos filmes de terror. Nessa performance, se poderá apreciar “a consistência,
o ritmo, a melodia, do original, obtidos por meio de uma conjugação especialíssima
de aliterações e assonâncias, rimas e repetições homófonas, que dão ao texto
uma cadência e um ‘clima’ sonoro do qual decorre o encantamento do verso”
(conforme Ivo Barroso).<o:p></o:p></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(2)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><a href="https://www.netmundi.org/home/2017/o-corvo-de-edgar-allan-poe-milton-amado/">https://www.netmundi.org/home/2017/o-corvo-de-edgar-allan-poe-milton-amado/</a>
Acesso em 28/11/2020<o:p></o:p></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(3)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><a href="https://www.youtube.com/watch?v=TcN84WZMzD4">https://www.youtube.com/watch?v=TcN84WZMzD4</a>
Acesso em 28/20/2020<o:p></o:p></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">José Antonio C. Silva<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">01/12/2020<o:p></o:p></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-28498314780264788352020-11-15T16:07:00.002-03:002020-11-23T11:53:28.981-03:00Mundo Virtual: Pensamento Ilusório e Teoria da Conspiração<p> </p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><span> </span><span> </span>Mundo virtual: Pensamento Ilusório e
Teoria da Conspiração</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Com a avassaladora torrente de
informações que nos são despejadas pelas redes sociais, especialmente em tempos
de extrema polarização política e da pandemia do COVID-19, identificamos três
fenômenos recorrentes em uma enorme quantidade de mensagens circulando pela
internet. Um deles é o famoso Fake, do qual temos tratado com frequência em
nossos escritos. O segundo é a Teoria da Conspiração. O terceiro é o<b> </b>Pensamento
Ilusório<b> - </b><i>Wishful thinking</i>. O que será isso? Vamos recorrer à
Wikipedia, que muito bem define o conceito (1):<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b><i><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">“Wishful thinking</span></i></b><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> é uma </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Express%C3%A3o_idiom%C3%A1tica" title="Expressão idiomática"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">expressão
idiomática</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_inglesa" title="Língua inglesa"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">inglesa</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">, às vezes traduzida como <b>pensamento
ilusório</b> ou <b>pensamento desejoso</b>, usada na </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_portuguesa" title="Língua portuguesa"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">língua
portuguesa</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">, que
certas pessoas pensam ser de difícil tradução. Significa tomar os </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Desejo" title="Desejo"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">desejos</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> por </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Realidade" title="Realidade"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">realidade</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> e tomar decisões ou seguir
raciocínios baseados nesses desejos, em vez de em </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Verdade" title="Verdade"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">fatos</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> ou na </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Racionalidade" title="Racionalidade"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">racionalidade</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">. Pode ser entendido também como a
formação de </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Cren%C3%A7as" title="Crenças"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">crenças</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> de acordo com o que é agradável
de se imaginar, ao invés de basear essas crenças na racionalidade. É um produto
da resolução de conflitos entre </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Cren%C3%A7a" title="Crença"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">crença</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> e desejo.</span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Wishful_thinking#cite_note-wishful_thinking:-1"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[1]</span></sup></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">. Em português a expressão,
"vontade de crer" reproduz com precisão a ideia de "wishful
thinking", como atesta a definição do dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa: "impulso que conduz o ser humano à crença em determinadas suposições,
tais como os princípios da religião ou do livre-arbítrio, cuja legitimidade não
depende de qualquer comprovação obtenível por meio de fatos ou dados objetivos,
mas de sua utilidade psicológica e dos benefícios vitais que as
acompanham." (...). Explicação simples e perfeita.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Wishful thinking </span></i><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">e Teoria da Conspiração são parentes
muito próximos no tocante à uma crença cega enquistada na mente das pessoas.
Uma teoria da conspiração é geralmente construída sobre meras possibilidades,
articula fatos com suposições ou mesmo com inverdades, fakes, para construir
algo que faça sentido para explicar porque as coisas estão acontecendo de uma
determinada forma.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Vamos novamente recorrer a <i>Wikipedia
</i>para a definição deste termo (2): <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">“Teoria da conspiração</span></b><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">, também chamada de <b>teoria
conspiratória</b> ou <b>conspiracionismo</b>, é uma </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%B3tese" title="Hipótese"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">hipótese</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> explicativa ou especulativa que
sugere que há duas ou mais pessoas ou até mesmo uma organização que têm “tramado”
para causar ou acobertar, por meio de planejamento secreto e de ação
deliberada, uma situação ou evento tipicamente considerado ilegal ou
prejudicial.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Desde meados dos anos 1960, o termo
se refere a explicações que mencionam </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Conspira%C3%A7%C3%A3o" title="Conspiração"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">conspirações</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> sem fundamento, muitas vezes
produzindo suposições que contrariam a compreensão predominante dos eventos
históricos ou de simples fatos.</span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-Twentieth_century_words-1"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[1]</span></sup></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-2"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[2]</span></sup></a><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-3"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[3]</span></sup></a><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-4"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[4]</span></sup></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Uma característica comum das teorias
conspiratórias é que elas evoluem para incluir provas contra si próprias, de
modo que se tornem </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Falseabilidade" title="Falseabilidade"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">infalseáveis</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>[impossível de serem demonstradas falsas]. Conceito importante na </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia" title="Filosofia"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">filosofia</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> da </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia" title="Ciência"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">ciência</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> (</span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Epistemologia" title="Epistemologia"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">epistemologia</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">), e, como afirma </span><a href="https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Michael_Barkun&action=edit&redlink=1" title="Michael Barkun (página não existe)"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Michael Barkun</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">, <i>"uma questão de </i></span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9" title="Fé"><i><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">fé</span></i></a><i><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> em vez de prova"</span></i><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">.</span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-Barkun2003p7-5"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[5]</span></sup></a><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-Barkun2011p10-6"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[6]</span></sup></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> O termo "teoria da conspiração"
adquiriu, portanto, um significado depreciativo e é muitas vezes usado para
rejeitar ou ridicularizar crenças impopulares.</span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-Twentieth_century_words-1"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[1]</span></sup></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Os indivíduos formulam teorias
conspiratórias para explicar, por exemplo, as </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Rela%C3%A7%C3%B5es_de_poder" title="Relações de poder"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">relações
de poder</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> em </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Grupos_sociais" title="Grupos sociais"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">grupos sociais</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> e a existência percebida de
forças malignas.</span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-Barkun2003p3-7"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[7]</span></sup></a><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-New_Internationalist_1_2004-8"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[8]</span></sup></a><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-Turkay_Nefes-9"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[9]</span></sup></a><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-Nefes-10"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[10]</span></sup></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> Teorias da conspiração têm
origens principalmente psicológicas ou sócio-políticas.<sup>[</sup></span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:Livro_de_estilo/Cite_as_fontes" title="Wikipédia:Livro de estilo/Cite as fontes"><i><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">carece de fontes</span></sup></i></a><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">]</span></sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> As origens psicológicas propostas incluem </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Proje%C3%A7%C3%A3o_(psicologia)" title="Projeção (psicologia)"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">projeção</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">; a necessidade pessoal de tentar
explicar "um evento significante [com] uma causa significante"; e o
resultado de vários tipos e estágios de transtornos de pensamento
(disposição </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Paranoia" title="Paranoia"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">paranoica</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">, por exemplo), que vão desde as </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Doen%C3%A7as_mentais" title="Doenças mentais"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">doenças
mentais</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> graves
até as diagnosticáveis. Algumas pessoas preferem explicações sócio-políticas
para não se sentirem inseguras ao se depararem com situações </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Aleatoriedade" title="Aleatoriedade"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">aleatórias</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">, imprevisíveis ou, de outra forma,
inexplicáveis.</span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-business.time.com-11"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[11]</span></sup></a><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-Goertzel_1994_733%E2%80%93744-12"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[12]</span></sup></a><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-Douglas_2008_210%E2%80%93222-13"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[13]</span></sup></a><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-harpers=1964-14"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[14]</span></sup></a><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-Hodapp_2008-15"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[15]</span></sup></a><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-Cohen-16"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[16]</span></sup></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> A crença em teorias da
conspiração pode ser racional, de acordo com alguns filósofos.</span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-17"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[17]</span></sup></a><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o#cite_note-18"><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[18]</span></sup></a><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">[</span></sup><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:Verificabilidade" title="Wikipédia:Verificabilidade"><i><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">necessário verificar</span></sup></i></a><sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">] <b>(...)</b></span></sup><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O <i>wishful
thinking</i>, pensamento ilusório, ou pensamento desejoso, até por definição, é
otimista, nem importa quão remota, ou até impossível seja a realização daquilo
que se deseja. É muito mais um produto da fé do que da razão. Aquele que o
contesta é imediatamente rotulado de pessimista. Pode ser passivo, servindo de
conforto para quem o cultiva. Ou não, quando o sonhador, ainda que bem
intencionado, consegue propalar a ideia para um grande número de pessoas e
causar grandes transformações, para o bem ou para o mal, em uma sociedade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Já uma teoria
da conspiração pode frequentemente embutir um componente paranoico, semear o
pavor, buscar engajar as pessoas a lutar contra a concretização de um enredo
sinistro construído na mente de seu criador.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Comum a
ambas está a presença das indefectíveis fake news que, mesmo quando óbvias, são
cada vez mais usadas, acreditadas e repassadas nas redes. Não há tempo para um
exercício crítico em tempos em que a reflexão fica relegada a um segundo, terceiro
plano. “Ninguém mais lê e-mails”, foi a resenha que fiz do livro “A geração
superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros?” (3), um dos
livros mais vendidos do ano em 2011 nos EUA, e sucesso em muitos países, e objeto
de algumas conferências que realizei e postada aqui neste blog. O autor, Nicholas
Carr (jornalista, colaborador do The New York Times, escrevendo sobre economia,
cultura e tecnologia), morando em Boston, uma das cidades mais conectadas do
mundo, decidiu dar um tempo. Desconectou-se da internet e passou seis meses nas
montanhas refletindo sobre o fenômeno. Tornou-se um troglodita? De modo algum!
Voltou a conectar-se, apenas seguiu o conselho do filósofo Heidegger,
frequentemente citado em meus ensaios, e também citado por Carr: aprendeu a
dizer “<u>sim</u> e <u>não </u>aos objetos da técnica.” Simples, não é? Usar a
técnica em nosso proveito e, não, nos tornarmos doentiamente dependentes dela.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Curioso é que já na época em que
escreveu seu livro, Carr em um dado momento lamenta que “ninguém mais lê Guerra
e Paz”, referindo-se ao monumental livro de Lev Tolstói, um dos expoentes
máximos da literatura universal. Ninguém, claro, salvo as exceções de sempre,
lê mais livro algum. Mergulhados em seus objetos da técnica, os já dependentes
dela mal dão atenção àqueles que estão fisicamente ao seu redor. Estranhamente
estão mais atentos às telas de seus aparelhos, checando/emitindo mensagens
através do WhatsApp, participando de <i>Lives</i> e em outras atividades que o
mundo virtual lhes oferece. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Sou contra as redes? De modo algum!
Até porque a mídia tradicional em geral, aqui e mundo afora, está tendenciosa, sensacionalista,
fomenta ódio e se se compraz com tragédias. As redes, se, como disse Umberto
Eco (escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano de fama
internacional) deram voz aos idiotas, também deram voz àqueles que, sufocados
pelo poder da mídia tradicional, encontraram nela um canal para expressar seus
pensamentos, suas ideias. É pelas redes que eu estou me comunicando, que faço
postagens no meu blog. Há muita coisa boa nas redes, mas temos que estar
atentos para não nos deixar engolir pela torrente de ódios e desinformação
circulando sobre virtualmente todos os temas importantes em nossa sociedade.
Podemos combater, sim, ideias com as quais não concordamos, mas com
honestidade, com seriedade, com fundamentação. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">(1) </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Wishful_thinkinghttps:/br.search.yahoo.com/search?fr=mcafee&type=E211BR105G0&p=wishful+thinking"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">https://pt.wikipedia.org/wiki/Wishful_thinkinghttps://br.search.yahoo.com/search?fr=mcafee&type=E211BR105G0&p=wishful+thinking</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> Acesso em 14/11/2020<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">(2)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_conspira%C3%A7%C3%A3o</span></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"> Acesso em 14/11/2020<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">(3) Carr, Nicholas. “O que a internet está fazendo com os
nossos cérebros.” AGIR, 2011.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">José Antonio C. Silva<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">15/11/2020<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">---------------------------------------------------------------------------------------------------<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Apêndice<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">O texto que postei neste blog em 15/06/2017, Atividade, tem
muito a ver com o que escrevi acima, por isso reproduzo como Apêndice.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">ATIVIDADE<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">Em tempos de sofreguidão, de
urgência, de submissão da reflexão à pronta reação no batucar frenético das
teclas de um computador ou de um celular, de necessidade de se estar sempre <i style="mso-bidi-font-style: normal;">realizando </i>algo, vale atentarmos para as
considerações, feitas há cerca de 60 anos, do psicanalista, filósofo e pensador
social alemão Erick Fromm sobre dois diametralmente opostos conceitos de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">atividade</i>. Ao final do texto, o
pensamento de Spinoza é brilhantemente trazido por Fromm para sublinhar a
diferenciação entre esses dois conceitos.<o:p></o:p></span></p>
<div style="border-bottom: solid windowtext 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 1pt;">
<p class="MsoNormal" style="border: none; mso-border-bottom-alt: solid windowtext .75pt; mso-padding-alt: 0cm 0cm 1.0pt 0cm; padding: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">“Por ´atividade´, no emprego moderno
do termo, queremos normalmente referir-nos a uma ação que produz mudança numa
situação existente, por meio de gasto de energia. Assim, um homem é considerado
ativo quando faz negócios, estuda medicina, trabalha numa usina, fabrica uma
mesa, ou dedica a esportes. Todas essas atividades têm sido em comum:
dirigem-se para um alvo exterior a ser alcançado. O que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">não</i> se leva em conta é a motivação da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">atividade</i>. Veja-se, por exemplo, um homem impelido a um incessante
trabalho por um sentimento de profunda insegurança e solidão; ou outro
impulsionado pela ambição, ou pela avidez por dinheiro. Em todos esses casos a
pessoa é escrava de uma paixão, e sua atividade é de fato uma ´passividade`,
porque ela é impelida; é o paciente, não o ´ator`. De outro lado, alguém que se
assente calmo e contemplativo, sem outro alvo que não o de experimentar-se e à
sua unidade com o mundo, é considerado como ´passivo`, porque não está
´fazendo` coisa alguma. E, na verdade, esta atitude de meditação concentrada é
a mais alta atividade que existe, uma atividade da alma, só possível sob
condições de independência e liberdade interiores. Um conceito de atividade, o
moderno, refere-se ao uso de energia para a consecução de metas externas; o
outro conceito de atividade refere-se ao uso dos poderes inerentes ao homem,
sem que importe a produção de qualquer mudança exterior. Este último conceito
de atividade foi formulado com muita clareza por Spinoza. Diferencia ele os
afetos entre ativos e passivos, ´ações` e ´paixões`; no exercício de um afeto
passivo, o homem é impelido, é objeto de motivações de que ele próprio não tem
consciência.”</span><span style="font-size: 14pt; text-indent: 35.4pt;"> </span></p>
</div>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;">O texto citado está na
pag. 44 do livro A Arte de Amar, de Erich Fromm, Editora Itatiaia, Belo
Horizonte, 1958. Trata-se da tradução para o português da edição em inglês do
livro “The Art of Loving”, lançado em 1956. </span></i><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><o:p></o:p></span></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-29438495468479761382020-09-23T16:13:00.000-03:002020-09-23T16:13:19.932-03:00O que é isso, Gabeira?<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">O que é isso, Gabeira?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">“Acabo de assistir ao documentário
sobre as redes “The Social Dilemma”. É assustador mesmo para mim, que tenho
tratado do tema, sobretudo pelo ângulo das fake news e teorias conspiratórias
que impulsionam o tecnopopulismo de direita.” Assim começa a crônica de
Fernando Gabeira publicada no jornal O Globo, de 21/09/2020 (veja na íntegra em
<a name="_Hlk51605715"></a><a href="https://oglobo.globo.com/opiniao/o-dilema-das-redes-sociais-24650084"><span style="mso-bookmark: _Hlk51605715;">https://oglobo.globo.com/opiniao/o-dilema-das-redes-sociais-24650084</span><span style="mso-bookmark: _Hlk51605715;"></span></a><span style="mso-bookmark: _Hlk51605715;">.</span>)
comentando o documentário em questão, disponível no Netflix: “O Dilema das
Redes.” - Especialistas em tecnologia e profissionais da área fazem um alerta:
as redes sociais podem ter um impacto devastador sobre a democracia e a
humanidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Meu comentário sobre o texto do
Gabeira:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Fake news e teorias conspiratórias
que inspiram o tecnopopulismo de direita? Só de direita, Gabeira? As redes
sociais, a internet em geral, há muito vêm se constituindo em um campo de
guerra suja entre os dois espectros extremo da política suja. Mas o imenso
risco trazido pelo uso abusivo da internet vai muito, muito além da manipulação
política, passa pelo feitiço que o seu uso abusivo lançou sobre as pessoas, a
nova geração e as nossas crianças. De minha parte, já escrevi muitos textos e
dei palestras sobre o tema. Não tenho um milésimo da visibilidade do Gabeira, a
quem aprecio, mas confesso que fiquei surpreso com aquela sua introdução ao
artigo que analisa o documentário, que também assisti, excelente, por sinal.
Sobre os perigos do enfeitiçamento do homem pela técnica creio que o primeiro e
mais fundamental alerta veio de Heidegger, em vários de seus textos,
notadamente “A questão da técnica”, e outros, muito antes da internet. De lá para
cá tenho lido muitos autores especialistas na área tratando do tema, alertando
sobre os terríveis, terríveis, sim, riscos para a humanidade embutidos no uso
abusivo de um instrumento que, usado com inteligência, sobriedade e caráter
propicia imensos benefícios à humanidade. Cabe ao homem fazer sua escola, é
livre para isso, como pregava o velho Sartre, citado pelo Gabeira.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Sobre o documentário:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Já na abertura surge a expressão
“Nada grandioso entra na vida dos mortais sem uma maldição” – Sófocles, dando o
tom do que virá a seguir, uma devastadora crítica apresentada por um grande
número de profissionais da área, extremamente preocupados com o que está
acontecendo com a transformação de uma utopia em trágica distopia. Outras
frases de efeito surgem ao longo do filme: “Qualquer tecnologia avançada é
indistinguível da mágica” – Arthur C. Clarke (1). “Existem apenas duas indústrias
que chamam seus clientes de usuários: a de drogas e a de software”- Edward Tufte
(2). Muito sintomático é ainda a voz ao fundo da cantora Nina Simone cantando
trechos da canção “Put a spell on you “ (Coloquei um feitiço em você). Não
lembra Heidegger? Enfim, o documentário deve ser visto com muita atenção ao
mostrar os terríveis efeitos que o feitiço lançado pela informática já causa em
tantas áreas – saúde física e mental, comprometimento de tempo, empobrecimento
cultural, robotização das pessoas, deterioração das relações etc.-, e pode
causar ainda efeitos muito mais poderosos se não houver uma urgente tomada de
consciência pelos humanos. Para finalizar, voltando ao Gabeira, dentre os
tantos danos potencializados pelas redes sociais o documentário fala da
polarização das sociedades, criando um fosso intransponível entre duas facções
que se odeiam de uma forma visceral. E textualmente se afirma que as coligações
de centro, que eram maioria, perderam essa maioria para os <u>populistas de
extrema direita e de esquerda</u> (o grifo é meu). Particularmente notável na
disseminação do ódio são as fake news, abomináveis, e as teorias da
conspiração, que de mera hipótese, ainda que bem engendradas, são logo tomadas
como verdades incontestáveis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(1)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Arthur Charles Clarke, mais conhecido
como Arthur C. Clarke foi um escritor e inventor britânico radicado no Sri
Lanka, autor de obras de divulgação científica e de ficção científica como o
conto The Sentinel, que deu origem ao filme 2001: Uma Odisseia no Espaço e o
premiado Encontro com Rama.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpMiddle" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-list: Ignore;">(2)<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";"> </span></span></span><!--[endif]--><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Edward Rolf Tufte é professor emérito
de estatística, design gráfico, e economia política na Universidade de Yale,
além de ser um dos mais importantes especialistas em infografia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">José Antonio C. Silva<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">23/09/2020<o:p></o:p></span></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-30558497340255009382020-08-21T17:34:00.001-03:002020-08-21T17:34:21.465-03:00O Celular em Tempos de Pandemia<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">O Celular em Tempos de Pandemia<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Um aparelhinho extremamente portátil,
minúsculo, leve, cabe facilmente no bolso de uma calça. O celular, também
referido como <i>smartphone</i>, assume enorme protagonismo nesse período da
quarentena causada pela Peste (como Albert Camus chamaria a atual pandemia
causada pelo<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>COVID-19). Originariamente
concebido para ser um telefone, tinha o formato de um tijolinho, envolto em uma
capinha que lhe permitia ser ajustado ao cinto de uma calça, e portado com toda
a visibilidade. Bons tempos, ninguém assaltava ou matava por um celular. Eram
os anos da década de 1990.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Com o tempo, o aparelhinho foi
evoluindo, em formato e, muito principalmente, em possibilidades tecnológicas.
De um simples transmissor/receptor de voz, outros recursos foram sendo
incorporados. Mensagens de texto – SMS, conhecidos como torpedos -, e na
sequência, a comunicação por textos ampliada extraordinariamente com a
incorporação do e-mail, do WhatsApp, do Facebook, do Messenger, do Instagram.
Junto aos textos também passou a ser possível o envio de fotos, vídeos, áudios.
Aplicativos são usados para orientação sobre o trânsito. O google, como
instrumento de recepção de notícias e de pesquisa sobre os mais diversos
assuntos, praticamente decretou a obsolescência dos dicionários impressos, enquanto
as volumosas enciclopédias foram substituídas pela Wikipédia. Pelo celular
passou a ser possível escutar música, ver filmes, escolhidos em aplicativos
como o Netflix e o Now, pelo Youtube, na própria telinha do aparelho ou
projetando na tela de um televisor. A combinação da voz com a imagem passou a
ser possível através das ligações por meio de vídeo, conectando duas ou mais
pessoas, como nas <i>Lives,</i> em locais distantes. Em tempos de quarentena,
esse recurso presta um enorme serviço à comunicação, o que, em contrapartida,
agravou um novo tipo de dependência, descrito pelo termo <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">nomofobia, </b>abreviação, do inglês, para <i>no-mobile-phone
phobia</i> criado para descrever o pavor de estar sem o telefone celular
disponível. E ele poderá se tornar indisponível por diversas razões: perda,
roubo, quebra, imersão em água, desconfiguração etc. Sobre outros riscos envolvidos
no abuso do celular comentaremos ainda neste texto. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Mas o aparelhinho tem ainda diversas
outras funções. Possui câmera fotográfica, calculadora eletrônica, agenda, calendário,
bloco de anotações, despertador, e outras facilidades mais. Dentre essas,
sobressai a possibilidade de acesso ilimitado às contas bancárias do usuário.
Através do celular, com o aplicativo <i>iToken </i>instalado, é possível
executar literalmente todas as operações financeiras, o que não seria possível
fazer mesmo através de um computador. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">É, então, o celular uma verdadeira
maravilha? Sim, e não, como todos os objetos da técnica, como já antecipava
Martin Heidegger, um dos filósofos essenciais do Século XX, notadamente em seu
texto “A questão da técnica” (escrito em 1959!), preocupava a Heidegger o feitiço
lançado pelos objetos da técnica sobre os seus próprios criadores. Já escrevi
diversas vezes sobre essa questão. A respeito do abuso do celular e a
progressiva dependência das pessoas ao seu uso, tratei particularmente em meu
texto, postado aqui neste blog em 08/06/19, denominado <a name="_Hlk48752546">“Eu
quero Mammy”</a>, com foco no uso abusivo do aplicativo WhatsApp, e do qual
reproduzo alguns trechos, por oportuno, na presente fase de confinamento ocasionado
por uma pandemia que aumentou exponencialmente aquele efeito sobre os usuários
de celular. Escrito bem antes da pandemia, centra-se muito especialmente numa
avaliação crítica do uso abusivo do celular. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">(...) “Basta lançarmos um olhar ao
redor e veremos que, em toda a parte, uma grande quantidade de pessoas está
lendo ou escrevendo mensagens via WhatsApp. No metrô, nos ônibus, nos
restaurantes, na plateia de cinemas, teatros e de shows, nas salas de aulas,
caminhando nas ruas, no interior dos lares, em qualquer lugar. Crescentes
alertas quanto a esse abuso parecem relegados ao total descaso. A postura
corporal exigida no uso do aplicativo causa problemas na coluna vertebral. O
desperdício de precioso tempo em consultar e responder mensagens tantas vezes
irrelevantes, redundantes, notadamente de extensos grupos de contatos. O
surgimento do estresse, da ansiedade. O risco incorrido ao dirigir teclando o
WhatsApp, uma postura ainda mais perigosa e irresponsável do que falar ao
celular. A atenção posta no aplicativo em locais públicos, notadamente nas
ruas, expõe o usuário à um ponderável risco de assalto, queda,
atropelamento.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E a escrita? Muito mais
do que no moribundo e-mail, a escrita no WhatsApp dolorosamente maltrata o
vernáculo. Não se trata aqui de pretender que seus usuários sejam um Machado de
Assis ou um Carlos Drummond de Andrade, mas, sim, que redijam com um mínimo de
consistência, para se fazer entender corretamente pelo interlocutor (...)”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">E a referida crônica aborda outras
questões:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">(...) <u>Desencontros presenciais<o:p></o:p></u></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">E há o problema do desencontro.
Curiosamente, os aplicativos feitos para aproximar as pessoas, utilíssimos para
aquelas fisicamente distantes, acaba por afastar as muito próximas, até mesmo
literalmente ao lado. Tente falar alguma coisa com um dependente do WhatsApp
enquanto ele checa ou digita suas mensagens. Você terá a nítida impressão de
estar falando para as paredes, de que suas palavras simplesmente não são
captadas, respostas “hum...hum... aham...aham...” ao seu pedido de confirmação
de escuta não lhe darão nenhuma garantia de recepção (...)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">(...) <u>Prejuízo ao armazenamento na
memória<o:p></o:p></u></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Para que se tenha a memória de um
momento é necessário que ele seja vivenciado, a pessoa precisa estar presente,
com seus sentidos em alerta. Como poderá alguém reter na memória aquilo que
sequer foi captado pelos sentidos, no caso ilustrado, pela audição? Como
escreve a psicóloga Linda Davidoff (MAKRON Books,1980), “perceber, estar
consciente, aprender, falar e resolver problemas, tudo isso requer aptidão para
armazenar informações...”. Ler mais em (*).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><u><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">(...) Dependência do telefone móvel<o:p></o:p></span></u></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Nomofobia</span></b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">: a
dependência do telefone celular. Este é o seu caso?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Cada vez mais as pessoas não
conseguem desgrudar do smartphone e esse hábito pode trazer consequências
físicas e psicológicas. Ler mais em (*).<b><o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">(...) <u>Riscos à saúde mental e
física<o:p></o:p></u></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">O texto referido no parágrafo acima informa
que “Em nível neurobiológico, sabemos que existe um “sistema de recompensa
cerebral” (SRC) que tem como função estimular comportamentos que colaboram com
a manutenção da vida (como sexo, alimentação e proteção). Quando o SRC é
ativado, com a liberação do neurotransmissor dopamina, isto proporciona
imediatas sensações de prazer e satisfação. Tal qual para as drogas de abuso,
as dependências comportamentais (incluindo a <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">nomofobia</b>), são capazes de levar a uma hiperatividade do constante
SRC, podendo causar alteração no funcionamento cerebral.” Ressalva-se que,
“Entretanto, as consequências de longo prazo do funcionamento alterado pelo
excesso do uso do celular ainda são incertas. Além disso, as pessoas que
apresentam<b> uso abusivo</b> do celular têm maior chance de
desenvolver transtornos psiquiátricos como ansiedade, depressão e sintomas de
impulsividade, embora a relação de causa-efeito nem sempre seja fácil de ser
estabelecida.” Problemas físicos frequentemente ocorrem, incluindo fadiga,
patologia ocular, dores musculares, tendinites, cefaleia, distúrbios do sono e
sedentarismo. Além disso, é evidente a maior propensão em se envolver em um
acidente automobilístico e de sofrerem quedas ao andar.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">(...) <u>Para filhos, pais ficam
muito tempo no celular<o:p></o:p></u></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Este é o título de mais um texto
sobre o tema. Como subtítulo temos: “Pesquisa aponta que quatro em cada dez
adolescentes consideram que responsáveis fazem uso excessivo dos celulares. E
28% dos adultos entrevistados avaliam que vício na telinha prejudica o
relacionamento familiar.” Ler mais em (*)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A simples
perda de um celular já é um grande transtorno. No caso de roubo, a implicação é
a de um enorme risco de uso criminoso das preciosas informações pessoais nele
contidas. Mesmo fora dessas situações extremas, o dono de um celular tem em
suas caixas de arquivos uma série de mensagens, vídeos etc. que ele não
gostaria que fossem visualizadas por ninguém mais, por mais íntimo que seja.
Sobre isso, há alguns dias assisti um filme francês, “Nada a esconder”, que de maneira
jocosa, e ao mesmo tempo dramática, aborda essa questão. Nove amigos – quatro
casais e um solteirão, se reúnem para jantar na casa de um deles. A mesa é
farta, comida sofisticada, como convém à mesa de uma refeição francesa, o vinho
é generoso e de muito boa qualidade. Estão todos alegres, se divertindo, até
que alguém sugere o que seria uma brincadeira, uma espécie de jogo da verdade.
Todos colocariam seus celulares sobre a mesa, continuariam a comer, beber e
conversar. Sempre que algum celular tocasse, o dono deveria atender viva-voz,
de modo a que todos pudessem escutar a conversa. Fora o solteirão, eram todos
casais, não haveria o que temer, argumentou-se. A relutância de um ou outro foi
vencida e o jogo começou. Foi uma sucessão de chamadas que deixaram a todos
chocados, revelando segredos mantidos no completo desconhecimento do parceiro
ou da parceira que atendia ao chamado. Lembrei-me de Nelson Rodrigues,
dramaturgo, romancista, cronista, dentre outras artes literárias, e que
afirmava: “Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém
cumprimentaria ninguém.” Nelson, um notável frasista, era um profundo
observador do comportamento das pessoas, notadamente no tocante aos hábitos
sexuais. Era bombástico, frequentemente exagerado, mas em geral havia sempre um
toque de verdade em suas colocações. Claro, a frase citada contém um evidente
exagero, mas há pensamentos e exteriorizações de pensamentos que melhor seria
permanecerem recônditos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Falamos na obsolescência dos
dicionários e das enciclopédias com o advento do google. É compreensível que
tal aconteça. Mas a dependência do celular, o enorme tempo gasto em sua
utilização descontrolada, o consumo de informações desenfreadas ofertadas para
um consumo rápido, como num <i>fastfood</i> virtual, tem um lado bastante
perverso. Juntamente com a obsolescência da leitura dos dicionários e das
enciclopédias no formato tradicional, também está sendo descartada a leitura de
<u>LIVROS</u>, impressos ou até mesmo e-books, especialmente aqueles que tratam
de questões mais profundas, que exigem tempo, concentração, reflexão, para
absorção de seu conteúdo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Qual será o futuro da internet e de
seus instrumentos, do nosso aparelhinho? Nada se pode afirmar. A falada<i>
nuvem</i> não existe. É apenas uma metáfora. Todo o sistema de transmissão
apoia-se numa rede de cabos submarinos em fibra óptica, e o armazenamento
ocorre em enormes prédios que abrigam os servidores, situados em diversos
países. São verdadeiras fortalezas, com vários níveis de segurança. Mas não
deixa de ser uma inquietante fragilidade para um sistema do qual passou, e
passa a depender cada vez mais, de forma acelerada, a humanidade. Com ou sem
pandemia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">(*) Postagem “Eu quero Mammy”, de
08/06/19<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">José Antonio C. Silva<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">21/08/20<o:p></o:p></span></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-52003933038930369812020-08-07T15:51:00.001-03:002020-08-07T15:51:28.521-03:00Só faltam duas semanas<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Só faltam duas semanas<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 177.0pt;"><i>Faltam duas semanas para que
nos digam que faltam duas semanas para nos dizerem que faltam duas semanas para
a quarentena acabar.<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">É minha
terceira crônica sobre a pandemia, a qual me refiro como A Peste, em homenagem
à Albert Camus, cujo livro com esse título foi abordado em minha crônica
anterior, “A Toca, de Franz Kafka, e o Covid-19”, da qual reproduzo alguns trechos.
O prólogo é um chiste que circula pelas redes e bem representa o momento em que
estamos mergulhados em incertezas. E quanto à duração da peste essa é uma das dúvidas
mais angustiantes.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A mídia em
geral – os jornais e os canais de televisão – parecem regozijar-se com
tragédias, sejam elas de que natureza for, e onde quer que elas ocorram. É
fastidioso acompanhar o macabro noticiário sobre as estatísticas dos
contaminados e dos óbitos. Recorremos, então, às redes sociais, que estão
excitadas como nunca. A peste é assunto onipresente. E, como não poderia
faltar, há uma avalanche de <i>fake news</i>, algumas tão óbvias que causa
espanto a intenção de sua criação. <i>Fake news</i> é um tema recorrente nos
meus escritos. Para citar apenas um, recente, percorre as redes um vídeo em que
uma voz feminina informa que médicos italianos descobriram, após exumação de
cadáveres e autópsia de vítimas do COVID-19, que a causa da morte não havia
sido um vírus, mas, sim, uma bactéria!!! E que aquelas pessoas poderiam ter
sido salvas simplesmente através de tratamento com aspirina e antibióticos.
Simples assim... Mesmo certo de que se tratava de uma notícia falsa, consultei
um médico italiano, casado com minha sobrinha, residentes na Itália, que
respondeu de imediato: <i>fake</i>. O grave nisso tudo é que divulgação de
falsas notícias pode induzir os crédulos a sérios erros. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Somos
soterrados por mensagens que vão desde a minimização do problema até a
paranoia. Cada um tem a sua verdade, quando de fato ninguém tem uma rigorosa
comprovação científica de coisa alguma. Recebemos uma enorme quantidade de
mensagens - textos e vídeos – de médicos e de outras autoridades na área da
saúde, cada um mais douto que o outro, atestando a eficácia de tratamentos os
mais variados, baseados na utilização de drogas há muito conhecidas e aplicadas
com diversas finalidades. Elas seriam muito efetivas no combate à infecção, e
até mesmo na prevenção da contaminação pelo vírus. Argumentos contrários à
essas indicações são refutados como tendenciosos: como são medicamentos de
baixo custo, a indústria farmacêutica não tem interesse na enorme ampliação de
seu uso, gananciosamente trabalham na pesquisa de alguma vacina que lhe
proporcionará um lucro em escala monumental. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A propósito da
vacina, a Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu (03/ 08/2020) que talvez
nunca exista uma "solução" contra o coronavírus, apesar da corrida
contra o tempo de laboratórios e países para obter uma vacina. "Não há
solução e talvez nunca exista", afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros
Adhanom Ghebreyesus, em uma entrevista coletiva virtual.... - Veja mais em (*).
Entretanto, a OMS tem sido habitual em mudar de posição a respeito da pandemia
com uma surpreendente velocidade, não creio que mereça credibilidade no tocante
ao tema. De qualquer modo, não faltam mensagens inquietantes afirmando que
mesmo aqueles que já contraíram e se curaram da doença não estarão
permanentemente imunizados, uma vez que o vírus é mutante, surgirá em novas
formas. Horror que angustiaria o nosso Camus.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Na data em que
começo a escrever estas linhas, 06/08/2020, a quarentena completa cerca de 5
meses de sua implantação em nosso país. Embora houvesse quem, de início, resistisse,
muitos outros a acataram, especialmente os idosos e/ou portadores de outros
fatores de risco. E foram muitas as razões para tal isolamento. Na contramão
dos que minimizavam a ameaça do vírus estavam aqueles que reconheciam o risco e
tomavam suas cautelas, e também aqueles que são tomados pelo pânico, vendo o
fantasma do vírus espreitando em toda parte. Escrevem protocolos para entrada e
saída de casa. As ruas, as calçadas, os bancos das praças estão contaminados. Os
elevadores e as escadas dos edifícios ocultam o vírus da Peste. Os sapatos e as
roupas são transmissores, ao chegar da rua, para onde não deveriam ter ousado
ir, devem separar e providenciar a pronta esterilização dessas peças de vestuário.
Os pneus do carro, ao rolar sobre as ruas infectadas, e a própria chave de
ignição, são outros solertes introdutores da peste em nossas moradias. Os
alimentos e outros itens que adquirimos nos mercados estão igualmente
contaminados. Nem pensar em sacar dinheiro para fazer pagamentos, deve-se usar
o cartão de débito ou de crédito, e desinfetá-los imediatamente após o uso, e
não receber o comprovante de pagamento emitido pela maquininha sinistra. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">A peste
igualmente penetra em nossa toca através dos correios, do entregador do jornal,
dos serviços de <i>delivery</i>. Dentro de nossas casas é essencial estarmos
atentos a cada esconderijo do vírus. Ele está em nossos celulares, em nossos
computadores, em nossos aparelhos de telefonia fixa. Nos aparelhos
eletroeletrônicos, na fiação e em seus controles, nos interruptores de luz. Na
louça e nos utensílios de cozinha. Nas maçanetas das portas e em suas chaves,
nas torneiras, nas tampas dos sanitários. Em nossas roupas, em nossa pele, em
nossos cabelos. Ele é onipresente. A cada instante temos que lavar as mãos com
sabão, com álcool gel. O contágio se faz pelo ar. Dentro deste quadro seria
praticamente impossível escapar. Na angústia de saber se está contaminada, sem
apresentar ainda os sinistros sinais da doença, muitas pessoas recorrem aos
testes, cuja confiabilidade está longe de ser absoluta. Assim sendo um teste
pode apresentar um resultado falso positivo ou falso negativo.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Circula nas redes, inclusive, um vídeo de uma
intitulada autoridade médica afirmando categoricamente a inutilidade dos
testes. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Trancafiados
em casa, mesmo que em ambientes confortáveis, o que não é, em absoluto, o
padrão residencial em nosso país, os confinados começam a imaginar outros
perigos à espreita. Risco de quedas com fraturas (acontecem, sou testemunha),
queimaduras graves, cortes profundos, insurgência de alguma doença que os
obriguem a recorrer a um atendimento emergencial que os exporiam ao risco do
contágio. Corre-se o risco de, na toca, contrair-se um vírus muito mais danoso
que o COVID-19: o vírus da loucura. Mas há aqueles que procuram banalizar as
condições de confinamento, dizendo ser uma boa ocasião para ler, escrever, escutar
música, etc. Tal argumentação a mim não se aplica, em absoluto. As mencionadas
atividades sempre encontraram espaço em minha vida; pelo prazer e pela
importância que a elas atribuo, não necessito estar confinado para exercê-las. Inversamente,
o estresse do confinamento tem efeito contrário à minha criatividade. Existe a
alternativa de assistir-se filmes, extensivamente utilizada, e as<i> Lives. </i>Juntar
pessoas diante de uma tela de televisão, de um computador, ou de um celular é,
inegavelmente, de grande valor quando elas estão fisicamente separadas por
grandes distancias, em cidades ou mesmo países distintos, e que, mesmo antes da
peste, raramente, ou nunca, teriam a oportunidade de um congraçamento
presencial. É igualmente muito útil para divulgação de conhecimentos sobre
temas variados, aulas, tele atendimento médico e psicológico (ambos com limitações),
reuniões de trabalho e tantas outras atividades. Entretanto, é um pobre
substituto para aqueles que têm por hábito encontrar-se fisicamente, curtir uma
ida ao cinema, a um show, a um bar, à praia, um passeio. Nada no mundo virtual
pode substituir o olho no olho, o toque, o aperto de mão, o abraço, o beijo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Mas, as
pessoas estão se cansando do isolamento. De fato, é muito chato suportar um
longo isolamento, interrompido apenas por saídas furtivas, por necessidade ou
meramente para quebrar a rotina do confinamento. Sem uma evidência insofismável
de que a ameaça do vírus se afasta, começaram a ser implementadas medidas de
abertura nos municípios, cada um deles seguindo critérios próprios. A
frequência às praias, shopping centers, clubes, academias, bares e muitos outros
locais vem sendo liberada, guardadas as restrições próprias a cada caso. Na
Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro e na Região Oceânica de Niterói, lugares
onde eu fisicamente posso constatar, as máscaras começam a cair, e as pessoas a
buscar maior socialização. Esperemos que seja um movimento sem volta, que
estejamos de fato em uma estabilização, ou mesmo decréscimo na curva que
demonstra a evolução da peste.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Seja lá
quando efetivamente a peste refluir de maneira insofismável, quando não ocorrer
qualquer movimento pendular de retração, e a figura do mascarado começar a ser apenas
uma lembrança incorporada ao imaginário de nossas cidades, assim como o uso do
alcoolgel.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">Finalizo
lamentando que a questão do vírus tenha sido contaminada pelo partidarismo
político. Na busca de bodes expiatórios travam-se acerbas discussões onde todos
se julgam donos da verdade. As estatísticas de contágio e de fatalidades
estariam falseadas, para mais ou para menos, com objetivos escusos, criminosos.
Teorias da conspiração são construídas para se ajustar à inclinação ideológica
de cada um. O vírus desconhece ideologias, ele contamina, faz adoecer e mata
seres humanos independentemente de raça, credo, cor ou convicção política. O
mais sensato seria usarmos o nosso discernimento para julgar com isenção o
turbilhão de mensagens que nos assola, cuidando de fazer com autenticidade as nossas
escolhas quanto a como proceder diante de tamanho quadro de incertezas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 35.4pt; text-align: justify;">(*) <a href="https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2020/08/03/oms-afirma-que-talvez-nunca-se-descubra-uma-solucao-contra-o-coronavirus.htm?cmpid=copiaecola">https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2020/08/03/oms-afirma-que-talvez-nunca-se-descubra-uma-solucao-contra-o-coronavirus.htm?cmpid=copiaecola</a><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 35.4pt; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 35.4pt; text-align: justify;">José Antonio
C. Silva<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 35.4pt; text-align: justify;">07/08/2020<o:p></o:p></p>José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-20799437698463258712020-05-09T11:25:00.000-03:002020-05-10T13:02:25.231-03:00A TOCA, de Frank Kafka, e o COVID-19<br />
<div class="MsoNormal">
<b>A TOCA, </b>de Franz Kafka, e o <b>COVID-19<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 106.2pt;">
<i>“Estou com medo, traumatizada
mesmo, de sair na rua”, diz moradora.<br />
“Com medo, moradores se impõem um toque de recolher.” As pessoas se
entrincheiram em prédios cercados por grades de metal e munidos de sistemas
eletrônicos de segurança. (do cotidiano de nossa cidade).</i><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 106.2pt;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
O
animal ― um texugo? Uma toupeira? Kafka não especifica ―
sentindo-se ameaçado, construiu a sua toca, uma obra astuciosa, ramificada em
um verdadeiro labirinto de caminhos subterrâneos com a finalidade de proteger o
seu construtor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A ligação da
toca com o exterior se faz por meio de muitos orifícios estreitos, tubos de
ventilação, com a finalidade de permitir a entrada do ar em seu interior.
Apenas uma entrada dá acesso ao sistema de caminhos subterrâneos. As demais
entradas são falsas, para ludibriar intrusos. Mas essa entrada verdadeira é um
ponto de vulnerabilidade da toca, um caminho por onde inimigos poderiam ter
acesso ao labirinto e atacar o animal entocado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Para corrigir
esse calcanhar de Aquiles em seu sistema defensivo, o animal disfarça essa
entrada cobrindo-a com uma camada de musgo e plantas e constrói para despistar
uma entrada falsa, a cerca de mil passos da verdadeira, e que não conduz a
parte alguma. Para certificar-se da eficiência do disfarce, o animal de tempos
em tempos sai de sua toca para o exterior e procura buscar alguma eventual
falha em seu sistema. Contudo, o medo de que essas suas saídas pudessem ser
observadas por inimigos que, dessa forma, identificariam a verdadeira entrada
para o labirinto, o animal vai reduzindo suas saídas, até quedar-se em
definitivo em seu abrigo. Por algum tempo ele experimenta momentos de
tranquilidade, propiciada pela constatação de que suas provisões são fartas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Mas essa
tranquilidade dura pouco, logo ele se entrega novamente à sua paranoica
preocupação com segurança ― conferência do sistema de defesa, a
disposição dos corredores e a localização das reservas de víveres. Ao imaginar
fraquezas, põe-se laboriosamente a mudar de lugar suas provisões, a alterar o
traçado de alguns corredores ou a ampliar o espaço da praça central do
esconderijo. É uma faina tão desesperada, a cavar com o focinho, que este até
sangra. Mas, todo esse trabalho não lhe traz segurança, permanece sentindo-se
em risco. E já então não teme apenas os inimigos externos à toca, pois escutou
que existiriam seres que vivem no interior da terra e que, a qualquer momento,
poderiam surgir das profundezas para ataca-lo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Eis que ouve
um ruído estranho, até então não percebido, e que com certa regularidade volta
a soar. Pensa que talvez seja o ruído próprio da circulação do ar pelas
galerias subterrâneas, ou, porventura, produzido pela movimentação de pequenos
animais, como insetos. Mas o desconhecimento da causa do estranho ruído tem um
efeito assustador sobre o animal, que passa, inclusive, a imaginar se ele não
seria o aviso da aproximação dos seres do interior da terra.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Finalmente
acaba se convencendo de que o ruído é proveniente da escavação de um outro
animal, e tenta confortar-se imaginando que poderia ser possível um
entendimento com o invasor: lhe ofereceria comida e ele então o deixaria em
paz. Desgraçadamente, no entanto, esse outro hipotético animal nunca aparece, o
que continua é o ruído misterioso, que não aumenta nem diminui de intensidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Qualquer semelhança do drama
vivido pelo animal kafkiano com o dos habitantes do Rio de Janeiro de hoje não
é mera coincidência.<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------</b><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="mso-tab-count: 8;"> </span><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 283.2pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i>Fiquem em casa!<o:p></o:p></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 283.2pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<b><i><br /></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A resenha que
escrevi do conto A Toca, do grande escritor Franz Kafka, foi por mim postada em
meu blog em 10/08/2017, e a semelhança ressaltada ao final do texto entre o
animal escondido em sua toca e os habitantes do Rio de Janeiro referia-se ao
medo da agressão física – pelos animais, no caso do texugo, e pelos humanos, no
caso dos habitantes do Rio de Janeiro. O texto que apresento em seguida mostra
um novo entrincheiramento das pessoas, desta vez não apenas no Rio de Janeiro,
mas no Brasil e em uma série enorme de países.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Em 1947, o
escritor franco-argelino Albert Camus (1913-1960) publicou <i>A peste</i>.
Versão romanceada da filosofia existencialista, <i>A peste</i> é um
livro que trata da solidariedade que a todos devemos, da liberdade de escolha e
da responsabilidade sobre nossas escolhas. Os tristes e preocupantes fatos dos
últimos meses reposicionaram esse livro no centro das atenções de quem às
respostas frívolas e não pensadas prefere uma reflexão mais séria sobre as
contingências da vida. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Em Oran, uma
cidade ao norte da Argélia, na manhã de um dia 16 de abril de 194.. (Camus não
precisa o ano), um médico encontrou um rato morto ao sair de seu consultório. Comunicou
ao porteiro do prédio, que considerou tratar-se de uma brincadeira de mau gosto
de uns safados. No dia seguinte, o porteiro mostrou ao médico três outros ratos
mortos nos corredores, cobertos de sangue, e novamente atribuiu o fato à ação
de moleques, mas que ele iria pegá-los. Foi o primeiro sinal da imensa tragédia
que se desenhava.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Logo a
tempestade foi ganhando força. No dia 25 a rádio informava que 6.231 ratos
haviam sido recolhidos e queimados, somente naquele dia. A população que, até
então apenas se queixava de um mal estar com o que começara a ocorrer, passou a
ficar assustada. E vieram as mortes de pessoas. Em quatro dias, os números
saltaram: 16, 24, 28, 32. E assim, sucessivamente, o número de mortos por dia
foi aumentando: 92, 107, 120. A rápida expansão da peste trouxe o colapso do
sistema de atendimento de saúde e do funerário. A situação chegou a um ponto em
que o prefeito decretou o “estado de peste”, e com ele, as portas da cidade
foram fechadas e iniciou-se uma quarentena sem previsão de término.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Famílias foram
separadas. Os mais doentes foram conduzidos para outros pontos da cidade. O
padre local fez um inflamado sermão dizendo tratar-se de um castigo divino e
que a cidade o merecia. Estavam sofrendo. Mas mereciam, dizia o padre. Prisioneiros
eram usados para movimentar e enterrar cadáveres, algo tão macabro que pouparei
os leitores de descrever os detalhes. Os corpos se amontoavam nas ruas.
Crianças morriam. O padre ainda achava que tudo decorria dos planos divinos.
Afirmava que os cristãos deveriam aceitar o destino. Por fim, ele próprio morreu.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Em determinado
momento, da mesma maneira com que o ciclo de mortes pela doença se iniciara, e
rapidamente avançara, os óbitos decresceram e praticamente cessaram, a ponto de
a prefeitura, no dia 25 de janeiro (ano?) considerá-la erradicada.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Logo a população começou as ruidosas
comemorações. As portas da cidade se abriram. As famílias, então separadas,
começavam a se reunir. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Camus concluiu
esse desesperado livro lembrando que o bacilo da peste não morre e não
desaparece. Avisou-nos que o bacilo da peste fica “dezenas de anos a dormir nos
móveis e nas roupas”. Ainda, advertiu que a peste “espera com paciência nos
quartos, nos porões, nas malas, nos papeis, nos lenços”. E quando volta, “para
nossa desgraça, manda os ratos morrerem numa cidade feliz”. Trocando-se ratos e
bacilos por outros vírus e pragas tem-se o quadro aflitivo que eu e o leitor
vivemos. E, com maior intensidade, os mais fragilizados física e/ou
emocionalmente. A leitura do livro é muito dura, mas como tudo o que Camus
escreveu é cheia de nuances e merecedora de profunda reflexão. É uma alegoria
da condição humana.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
As redes
sociais estão excitadas como nunca. A peste é assunto onipresente. E, como não
poderia faltar, há uma avalanche de <i>fake news</i>, algumas tão óbvias que
causa espanto a intenção de sua criação. Apesar disso, podem induzir os
crédulos a graves erros. Apenas como exemplo, um indivíduo que se define como
um químico autodidata surge afirmando, entre outras sandices, que álcool não
mata nada, álcool esteriliza! O que mata é vinagre, que <i>é</i> ácido acético
(se tivesse minimamente estudado veria que no vinagre existe apenas algo em
torno de 5% de ácido acético). A reação do CFQ- Conselho Federal de Química
veio em NOTA OFICIAL – PROPRIEDADES DO ÁLCOOL GEL, ratificando a eficácia do
álcool etílico como desinfetante e comunicando que o tal indivíduo incorria em infração
tipificada na Lei de Contravenções Penais: falso exercício da profissão. A NOTA
finaliza: “À sociedade, o Sistema CFQ/CRQs orienta pela busca de informações
válidas e de fontes confiáveis, com especial atenção àquelas oriundas das
autoridades de Saúde. <u>Tão importante quanto proteger a população no que
diz respeito ao contágio do novo vírus é evitar o alarmismo e a
viralização de conteúdos sem a devida verificação</u> <u>[</u>o grifo é meu<u>]</u>.”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Somos
soterrados por mensagens que vão desde a minimização do problema até a
paranoia. Seria exagero o que países tecnológica e culturalmente avançados como
Itália, França e Espanha, dentre outros, já implantaram para controle do vírus?
E que posteriormente começaram a ser adotadas em nosso país? A drástica
limitação imposta ao transporte público, à circulação das pessoas, a quarentena
- as pessoas recolhidas às suas casas- , o fechamento compulsório de locais de
aglomeração de pessoas como estádios desportivos, clubes, cinemas, teatros,
bares, restaurantes, o comércio em geral, salvo exceções muito específicas –
farmácias, supermercados -, e até a interdição das praias? Em grau extremamente
rigorosos foram medidas adotadas pelos referidos países, seu descumprimento
sendo passível de multa e de prisão. E, de início contestadas pela população,
acabaram, de um modo geral, tendo o seu apoio. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Na contramão dos
que minimizam a ameaça do vírus estão aqueles, hoje em grande maioria, que
reconhecem o risco e tomam suas cautelas, e também aqueles que são tomados pelo
pânico, vendo o fantasma do vírus espreitando em toda parte. Escrevem
protocolos para entrada e saída de casa. As ruas e as calçadas estão
contaminadas. Os sapatos e as roupas são transmissores, ao chegar da rua, para
onde não deveriam ter ousado ir, devem separar e providenciar a pronta
esterilização dessas peças de vestuário. Os pneus do carro, ao rolar sobre as
ruas infectadas, e a própria chave de ignição, são outros solertes introdutores
da peste em nossas moradias. Os alimentos e outros itens que adquirimos nos
mercados estão igualmente contaminados. Nem pensar em sacar dinheiro para fazer
pagamentos, deve-se usar o cartão de débito ou de crédito, e desinfetá-los
imediatamente após o uso, e não receber o comprovante de pagamento emitido pela
maquininha sinistra. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A peste
igualmente penetra em nossa toca através dos correios, do entregador do jornal,
dos serviços de <i>delivery</i>. Dentro de nossas casas é essencial estarmos
atentos a cada esconderijo do vírus. Ele está em nossos celulares, em nossos
computadores, em nossos aparelhos de telefonia fixa. Nos aparelhos eletroeletrônicos,
na fiação e em seus controles, nos interruptores de luz. Na louça e nos
utensílios de cozinha. Nas maçanetas das portas e em suas chaves, nas
torneiras, nas tampas dos sanitários. Em nossas roupas, em nossa pele, em
nossos cabelos. Ele é onipresente. A cada instante temos que lavar as mãos com
sabão, com álcool gel. Dentro deste quadro seria praticamente impossível
escapar do contágio. Corre-se o risco de, na toca, contrair-se um vírus muito
mais danoso que o COVID-19: o vírus da loucura. Curioso é que dentre as mensagens
vindas de um otimista, um daqueles que minimizam a malignidade do vírus, afirma-se
que esse vírus é mutante, que ele está em constante transformação, e que
contrair e se curar da doença não implica em imunização contra outras
variantes. E ele considera isso um fato positivo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
A verdade,
como diziam os romanos na Roma Clássica, deve estar no meio. Dinheiro e
celular, por exemplo, são obviamente fontes de contaminação. As pessoas devem
manter distância das outras, o toque, o aperto de mão está proibido. O beijo,
nem pensar. Recolher-se à toca é quase um consenso, embora haja defensores do
oposto, de que, salvo idosos e portadores de outros fatores de risco, todos
deveríamos nos expor, ficar na toca somente adiará o surto. E argumentam, aqui
com óbvia razão, que o recolhimento geral trará o caos na economia. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Finalmente
outros creem que, passado o surto da peste, a humanidade será mais
compreensiva, terá aprendido com o sofrimento. Será? Uma rápida análise do
processo histórico mostra que não há qualquer garantia de que isso ocorrerá. A
peste negra, transmitida por ratos, uma pandemia que grassou na Europa no
SÉCULO XIV, em plena Idade Média, ceifou muitas dezenas de milhões de vidas,
principalmente na Europa. No período de 1914-18, eclodiu aquela que ficou
conhecida como a Grande Guerra, aquela que, de tão destruidora, acabaria com
todas as guerras. Até que, com o advento de uma outra guerra, ainda mais destruidora,
entre 1939-45, passou-se a denominar a de 1914-18 como a PRIMEIRA GURERRA
MUNDIAL e a seguinte como A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. E foi em 1917, durante os
horrores do primeiro grande conflito mundial, que grassou uma nova peste,
conhecida como Gripe Espanhola, que, novamente, custou muitos milhões de vidas.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Mencionamos
apenas dois grandes conflitos bélicos e duas pestes especialmente virulentas.
Incontáveis outros conflitos armados e surtos de doenças se sucederam nos
intervalos entre aqueles episódios. A solidariedade entre os povos, entre as
pessoas, salvo as honrosas exceções de sempre, não foi um traço preponderante.
O aclamado professor de História Yuval Noah Harari afirma em seu livro
”Sapiens”: “A História nunca foi justa.” E agora, estamos aprendendo? Cada um
tire as suas conclusões.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
José Antonio
C. Silva<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
02/05/2020<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-77039948298402953902020-03-16T12:14:00.000-03:002020-03-16T12:14:14.459-03:00Coronavírus - a tempestade se avizinha<br />
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;">Coronavírus - a tempestade se
avizinha<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Começo a escrever hoje, dia 15 de
março de 2020, um domingo. Aqui no Brasil, a tomada de consciência da nova
praga, o coronavírus, cientificamente Covid-19, começou lentamente. Inicialmente
era um vírus surgido na China, possivelmente transmitido ao ser humano pelo
bizarro costume dos chineses em comer morcegos e outros seres que nos parecem
repulsivos. Não se sabia ao certo. Não tomamos qualquer providência concreta em
relação a uma possível chegada do vírus ao país. Os festejos carnavalescos
transcorreram normalmente, com a concentração de milhões de pessoas nas ruas,
notadamente no Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. Cinemas, teatros, casas de
shows, eventos esportivos em estádios, as escolas, academias de ginástica,
bares, restaurantes e inúmeros outros locais de aglomeração de pessoas não davam
maior importância ao que se passava no outro lado do planeta. Mesmo quando em
nossa querida Itália, um dos primeiríssimos destinos do turismo mundial, e para
onde tantos brasileiros viajam, os casos começaram a surgir e se multiplicar,
se deu uma atenção maior. No Rio de Janeiro a grande preocupação era com a
péssima qualidade da água fornecida pelo abastecimento público, subitamente
contaminada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Até que uma notícia chamou a atenção:
no dia 26/02, ainda durante os festejos carnavalescos em diversas cidades, um
brasileiro, residente em São Paulo, ao retornar de uma viagem da Itália fora
testado positivo para o coronavírus. Era o primeiro sinal de alerta. Não
demorou a surgir um segundo caso, agora no Rio de Janeiro. Sabia-se ser intenso
o fluxo de turistas entre os dois países, era hora de se pensar seriamente no
assunto. E junto com providências concretas que começavam a ser tomadas pelas
autoridades, iniciou-se o que hoje é uma histeria nas redes sociais. Mensagens
que vão desde a completa negação da malignidade do vírus, seria mais fraco do
que uma simples gripe, às alarmistas, geradoras de pânico, ambas como partidas
até mesmo de supostas autoridades médicas. Mal damos conta de abrir todas as
mensagens recebidas em nosso WhatsApp. Algumas são de uma estupidez tão
evidente que causaria pena não fosse o poder que tais mensagens podem causar
nos mais crédulos. Tempos perfeitos para o abominável exibicionismo das
fakenews. A grande mídia, que sempre se gratificou em noticiar tragédias,
também embarcou em uma obsessão com o tema. A televisão e os jornais exploram
ao máximo o tema. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">De um único caso diagnosticado, hoje,
decorridas<i> </i>pouco mais de duas semanas, o número de infectados subiu para
200.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Finalmente providências concretas
acabam de ser tomadas, como o fechamento de todos os espaços de aglomeração de
pessoas, para reduzir o risco de contágio. Todos? Não. Basta olhar os
superlotados vagões do metrô e dos trens, dos ônibus e de outros meios de
transporte público. E os supermercados, os shopping centers, fábricas, os
escritórios, os hospitais. É difícil. Aconselha-se às pessoas a não saírem de
casa, salvo em real necessidade. Há uma corrida para comprar toda espécie de mantimentos
que virão a necessitar durante a hibernação de sabe-se lá quanto tempo, o que
nos transforma no texugo, pequeno mamífero recolhido em sua toca, no conto de
Kafka (A Toca). E que mantimentos seriam esses? Desde alimentos e produtos de
limpeza em geral até aqueles demandados por uma preocupação com a higiene
pessoal. Alcoolgel, máscaras, luvas e outros itens normalmente utilizados por
profissionais da saúde começaram a desaparecer das prateleiras das farmácias.
Assim como uma variedade de fármacos, no pressuposto de fortalecimento do
organismo contra o contágio ou de mitigação do sofrimento quando já infectado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Afinal, o que concretamente devemos
fazer? Vou me ater a um conselho absolutamente básico, o de evitar toques entre
as pessoas, e lavar as mãos com frequência, para ilustrar as dificuldades na
prevenção. A todo momento estamos tocando em algum objeto potencialmente
infectado. Nossas roupas, utensílios de cozinha, maçanetas de portas,
interruptores de luz, corrimões de escadas, carrinhos de super mercados,
teclados e computador de controle remotos de equipamentos eletro - eletrônicos e,
dentre muitos outros, e principalmente, o indefectível celular, o dinheiro em
nossos bolsos e o cartão de crédito. E, particularmente os enamorados, seguirão
essa recomendação de evitar o toque? E o que dizer do doce beijo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Retornando à Itália, leio que “Autoridades
da Itália anunciaram dia 14, sábado, o maior aumento no número de infecções por
coronavírus desde o início da epidemia no país. Foram identificados 3.497 novos
casos nas últimas 24 horas, uma elevação de 20% em relação ao dia anterior. O
total de pessoas infectadas com o Covid-19 na Itália agora é de 21.157, com 175
mortes, no país europeu mais afetado pelo vírus. De acordo com o serviço
nacional de saúde italiano, pouco mais da metade dos novos casos foram
identificados na Lombardia, a populosa província no norte da Itália que é um
dos epicentros da epidemia no país. Fonte: Associated Press.” (*). Enquanto
escrevo este texto, ligo a televisão para ver o programa de abertura do novo
canal, a CNN. O número de mortos já se elevou enormemente em relação ao
mostrado no link acima. Somente hoje, 15 de março, 368 mortes. A tendência é de
aumentos sucessivos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Estas funestas estatísticas me
transportam de imediato ao livro “A peste” do Albert Camus, escrito em 1947 e
que, casualmente (ou não?) comprei há mais de um mês, antes do pânico. Nele, o
grande escritor descreve uma peste que ele situa na cidade de Orã, Argélia,
transmitida por ratos, e que vai dizimando a população sem que os esforços das
autoridades consigam controlá-la. Os hospitais não têm mais leitos para acolher
os enfermos. O exponencialmente crescente número de mortos é divulgado de forma
já quase burocrática, cerimonias fúnebres são proibidas (vou poupar aos leitores
a descrição da maneira como os mortos passaram a ser enterrados), as pessoas
são proibidas de sair e de entrar na cidade, ficam um tanto anestesiadas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>É tão terrível que estou no meio do livro,
avançando com dificuldade, não sei como vai terminar aquela terrível alegoria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Salvo pelo horrível sofrimento dos
infectados, e pela letalidade, quase absoluta na “peste” imaginada por Camus, a
Itália tem muitos pontos em comum com a Orã do romance. A drástica restrição da
circulação das pessoas em todo o país é o exemplo mais patente. Segue mensagem,
devidamente traduzida, que recebemos hoje, de uma cara amiga italiana residente
em Torino, norte da Itália:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">“Infelizmente a situação é muito
séria, estamos todos em casa, não podemos sair. Podemos sair somente para
comprar alimentos e tudo sob controle. Existe distancia de segurança nos
supermercados. Deve-se esperar fora, dentro não podemos estar mais que 3
pessoas. As cidades estão vazias, não há ninguém nas ruas. Torino fechou e logo
será Milão. Somos os que sofremos o maior golpe. A situação é dramática, esperando
que se tenha êxito em contê-la, se teme pelo centro da Itália e pelo sul, onde
a estrutura hospitalar é muito carente. Me desagrada, mas neste momento não
convém viajar. O meu voo previsto para 4 de abril para a Sicília foi cancelado.
No momento, tudo bem...”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Mesmo no sul do país, região até o
momento muito menos afetada pela doença, as pessoas devem permanecer em casa.
Sair, só em caso de justificada necessidade, devendo-se preencher um formulário
e mostrá-lo ao agente policial na rua, sob pena de pagamento de multa e
detenção pelo prazo de 3 meses. A informação é de minha sobrinha, italiana
naturalizada, e que vive com a família que lá constituiu. A Itália, que em
nossa fantasia é tão esculhambada como o Brasil, está dando um exemplo de como
conter a transmissão do vírus. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Aqui, no Brasil, a pandemia chega em
péssimo momento. A sociedade encontra-se polarizada, não são muitas as vozes
que clamam por um mínimo de respeito ao outro. A discussão sobre a doença já
está politizada. Voltando ao livro de Camus, o narrador lamenta que “a única
maneira de juntar as pessoas é mandar-lhes a peste”. O que os poderes constituídos
poderão fazer? Já estão tomando providências, ainda tímidas, comparadas àquelas
adotadas primeiramente pela China, que anuncia já ter controlado a propagação
do vírus, e agora por países europeus. Paralelamente, muitas teorias
conspiratórias abundam na busca do porquê esse vírus surgiu na China. Seria
proposital, no sentido de que a China se beneficiaria da crise econômica
mundial provocada pela epidemia e, com seus vastos recursos disponíveis,
compraria a baixo custo empresas em graves dificuldades financeiras? Seria uma
falha no desenvolvimento de uma arma biológica secreta? O vírus teria sido
levado por militares norte-americanos à cidade chinesa onde ele foi primeiramente
detectado? Ou, a causa foi realmente a transmissão do vírus de um animal, o morcego,
talvez, para o homem? Creio que, de fato, nunca saberemos, assim como não
sabemos a extensão do mal que nos aguarda. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">O fato é que a economia mundial já
está sofrendo tremendamente o impacto das medidas tomadas pelos diversos governos
para enfrentamento do problema. E os efeitos perdurarão por um longo tempo,
atingindo brutalmente países e as pessoas. Não somente a Itália, mas agora
também Espanha, França, Portugal e Estado Unidos, para citar alguns países,
estão restringindo viagens, comercio externo e muitas atividades que movimentam
a economia. Ou seja, algum dia (quando?) o vírus será controlado, como foi o da
célebre Gripe Espanhola que grassou ne época da Primeira Guerra Mundial e que,
estima-se, matou cerca de 5% da humanidade (algumas fontes registram um
percentual significativamente maior). Este de agora, felizmente, parece não
apresentar a mesma letalidade. Oremos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">(*) </span><a href="https://istoe.com.br/casos-de-infeccao-por-coronavirus-na-italia-ultrapassam-a-marca-de-21-mil/"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">https://istoe.com.br/casos-de-infeccao-por-coronavirus-na-italia-ultrapassam-a-marca-de-21-mil/</span></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Acesso em 15/03/2020 <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">José
Antonio C. Silva<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">15/03/2020<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-71212158998001509572020-03-08T11:54:00.000-03:002020-03-08T11:54:07.942-03:00Vaga para senhor de fino trato<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Vaga para senhor de fino trato<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Assim eram
publicados nos jornais da época, os anos da década de 1960, os anúncios
buscando inquilinos para aluguel de vaga em quartos de apartamentos. Atendendo
a um desses anúncios eu e dois inseparáveis amigos, Pacci (*) e Gilberto,
batemos à porta de um apartamento em Botafogo, Rio de Janeiro.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Corria o ano de 1967, éramos três
recém-formados, com idades entre 22 e 23 anos, matriculados em um curso de
mestrado em área tecnológica localizado na Praia Vermelha. O proprietário, Sr.
Walter, lá vivia com esposa e um filho de aproximadamente 2 anos de idade.
Rechonchudinho, era o orgulho do jovem casal de pais, que intencionava
inscrevê-lo no concurso “Bebê Johnson”. Seria bastante improvável que três
rapazes desconhecidos viessem a ser aceitos como inquilinos naquele lar,
afinal, buscava-se “um senhor de fino trato”. Porém, após uma não longa
conversa com o Sr. Walter, ele simpatizou conosco, disse que tinha algo
espírita que lhe dizia que podia confiar em nós. Creio que isso seria
absolutamente impensável nos dias de hoje. Compramos um beliche, uma cama de
solteiro, um pequeno armário e nos acomodamos em um dos quartos do apartamento.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Essa era a
segunda ocasião em que eu alugava uma vaga no Rio de Janeiro por conta de
estudar na Praia Vermelha. Na primeira, eu tinha 17 anos e ingressara, assim
como o Pacci e o Gilberto, em uma prestigiosa entidade de ensino superior da então
denominada Universidade do Brasil (futuramente Universidade Federal do Rio de
Janeiro, em sua nova localização, na ilha do Fundão). O ano era 1963. A
faculdade ficava no ecológico bairro da Praia Vermelha, muito próxima ao sopé
do Morro da Urca, de onde partiam os antigos bondinhos para o Pão de Açúcar. A
jornada de Niterói, onde morávamos, até chegar a ela era demorada, demandava
três conduções: um “trolley bus” (ônibus elétrico) para se chegar à estação das
barcas de Niterói, a barca para a travessia da Baía de Guanabara e, finalmente,
outro “trolley bus” à Praia Vermelha. Não raro podia durar duas horas.
Seguiam-se oito horas passadas em salas de aula e laboratórios, intermediadas
por duas horas de almoço. Acrescentando-se as duas horas gastas no regresso às
nossas residências, chegávamos a um comprometimento de 14 horas de nosso dia
útil. Era demais. Confabulamos e concluímos que o melhor seria “cruzarmos a
Baía”, ou seja, alugarmos um pouso próximo à Faculdade. Decidimos então, eu e o
Pacci, alugarmos a tal vaga para senhor de fino trato, daquela feita em um
apartamento na Praia de Botafogo. Fiquei lá por dois meses, e a surreal estória
daquele período foi narrada na minha crônica “Nos tempos de dona Ermelinda”,
postada aqui neste blog. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Os anos da
década de 1960 foram caracterizadas por um verdadeiro terremoto político e
social. Marxismo, Stalinismo, Maoísmo, Trotskismo. Fidel Castro e Che Guevara.
Crise dos mísseis em Cuba, em 1962, quase trazendo o confronto final EUA x
URSS. Assassinato do presidente John Kennedy. Ditaduras militares.
Contracultura, músicas de protesto, hippies, sexo, drogas e Rock and Roll.
Misticismo. Woodstock, Jimmy Hendrix e Janis Joplin. Beatles e Rolling Stones.
Fellini, Antonioni, Visconti, Bergman, Goddard, papo cabeça. Existencialismo,
Feminismo, pílula e minissaia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Sartre,
Simone de Beauvoir, Albert Camus, Bertrand Russel, Aldous Huxley, Herbert
Marcuse.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Guerra do Vietnam. Em 1968
ocorreriam os assassinatos de Robert Kennedy e de Martin Luther King, a revolta
dos estudantes em Paris e a passeata dos 100 mil no Brasil contra a ditadura
militar. Aquele ano ficaria ainda marcado pela edição do Ato Institucional No.
5. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
As discussões
no ambiente universitário entre os esquerdistas e direitistas (uma
categorização que até hoje me parece por demais simplista: ou se é comunista ou
fascista, não se admite qualquer posicionamento diferente, nem mesmo a social
democracia) eram fervorosas, apaixonadas, embora dificilmente causassem ruptura
entre os grupos. O rompimento de relações não era absolutamente uma
consequência natural de divergências políticas. O fundamental era participar,
se posicionar. Quem não o fizesse seria automaticamente rotulado de “alienado”.
Discutia-se presencialmente, não havia as redes sociais viralizando
informações, no cara a cara era bem mais difícil passar <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fake news</i>, e as divergências não impediam uma rodada conjunta de
cerveja, batida de limão e outros drinques nos botequins da vida. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Voltemos a
1967 e ao quarto alugado no apartamento do Sr. Walter. Amigos inseparáveis
desde o primeiro ano do curso ginasial, eu e meus amigos tínhamos muita coisa
em comum, mas em um ponto divergíamos completamente. Gilberto era teólogo,
profundamente católico, conhecedor da Bíblia e de textos sagrados. Estudava
religião e importava livros de autores católicos consagrados, como Henri de
Lubac, Teillard de Chardin, Jacques Maritain e outros. Já o Pacci era marxista,
debruçava-se sobre textos de Marx, Lenin, Proudhon e congêneres. Quanto a mim,
na falta de um enquadramento mais preciso, me consideravam “existencialista”,
sem de fato sabermos o que isso exatamente significava. O fato é que eu não me
alinhava nem com a religiosidade de um e nem com o marxismo de outro. Me
considerava um livre pensador que ia da leitura de grandes romancistas e
contistas – Kafka, Edgard Allan Poe, Herman Hesse etc. - a autores como
Bertrand Russel, Aldous Huxley, Erick Fromm, alguma coisa de Freud e de Sartre
e muitos outros textos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Curiosamente, a improvisada aplicação do termo
existencialista a mim revelou-se ter um fundamente, à medida em que, em minha
guinada tardia para a psicologia, pós graduei-me como especialista clínico, na abordagem
existencialista.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Li e estudei autores
dessa corrente filosófica, especialmente Sartre, anotando muitas de suas
máximas, como a afirmação de que o homem está condenado a ser livre, e dentro
dessa liberdade fazer suas escolhas. E ser responsável por elas. E que a
existência precede a essência, essência essa que vamos construindo ao nos
descobrirmos lançados no mundo. Muito longe do que o termo pode sugerir aos
leigos, existencialismo nada tem de uma doutrina hedonista. Bem ao contrário, é
uma filosofia de profundo comprometimento. Para defender o existencialismo de
críticas que então lhe eram dirigidas Sartre pronunciou, em 29/10/45, uma
conferência da qual resultou um opúsculo intitulado “O Existencialismo é um
Humanismo”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Ressalte-se
que todo aquele nosso envolvimento em assuntos extracurriculares não impedia
que nos dedicássemos com afinco às disciplinas do curso. Tenho gratas
recordações das inúmeras noites em que, recolhidos ao nosso quarto, debatíamos
as coisas da vida, cada um de seu ponto de vista. A conversa às vezes se
estendia até tarde, ao ponto de certa feita o nosso senhorio ter se interessado
em saber sobre o que tanto conversávamos. Não o fez em tom de admoestação,
apenas demonstrou curiosidade, não transpareceu que ficasse incomodado com
aquilo. Enfim, éramos três pessoas com perfis bastante diferenciados no tocante
à pontos de vista filosóficos. Mas nunca brigávamos, havia grande afinidade
entre nós. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Vida que
segue, cada um tomou seu destino, todos sem ter completado um mestrado ao qual
o coordenador não nos parecia empregar a dedicação necessária. Enveredei pelo
mundo empresarial, meus amigos pelo acadêmico, cumprindo brilhantes carreiras.
Eu e Gilberto, de uma forma de outra, sempre mantivemos uma forte vinculação
com Niterói, mesmo nos períodos em que exercemos nossas atividades
profissionais em outras cidades. E por isso continuamos mantendo um relacionamento
muito próximo. Já o Pacci, mudou-se definitivamente para outro estado, durante
muitos anos mantivemos contato por carta, depois por e-mail, quando essa
ferramenta se nos ofereceu, e nas esparsas vezes em que ele retornou à sua
cidade natal. Nesses contatos não aparecia o tema político. Por fim, perdemos o
contato. Desconheço seu atual posicionamento. Quanto ao Gilberto, há muito sofreu
uma radical transformação. De um religioso católico transformou-se em um
marxista convicto e dedicado a profundos estudos filosóficos e com História de
um modo geral. Por um longo tempo, além de incansavelmente nos divertirmos às
gargalhadas com recordações dos velhos tempos, mantivemos intermináveis
conversas sobre política, filosofia e ciência. Ele, marxista, e eu...
existencialista – vamos deixar assim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
(*) todos os
personagens são reais, mas os nomes são fictícios.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Fevereiro/2020<o:p></o:p></div>
<br />José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-8201842050131644332.post-46177263988188662722019-08-05T16:35:00.002-03:002019-08-07T19:09:39.242-03:00Dia dos Pais<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: red;">Dia dos Pais</span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="background-color: black;">Faz muito tempo. Estávamos na década </span>de <span style="background-color: black;">1950</span>. Eu e
minha irmã éramos crianças, tínhamos algo como 8 e 12 anos, respectivamente. Um
dia chegou uma caixa à casa de nossa avó paterna, mansão com muitas estórias
para contar, endereçada ao meu pai. Ele nos chamou e abriu a caixa em nossa
presença. Era a Coleção Infantil de Monteiro Lobato, 17 tomos bem encadernados
e contendo caprichadas ilustrações feitas a bico de pena. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>A edição era do longínquo ano de 1942. Lembro-me
perfeitamente daquele momento, intuí que tratava-se de algo muito
significativo. E realmente foi. Não demorou muito e começamos, eu e minha irmã,
a mergulhar na leitura daquelas páginas que eram pura magia. Foi a minha
introdução ao mundo das letras, da literatura. Os personagens habitavam o Sítio
do Pica Pau Amarelo, de propriedade da Dona Benta, a matriarca, e de lá partiam
em viagens através dos meios de transporte convencionais ou aspirando o pó de
pirlimpimpim, inventado por Emília, uma irrequieta boneca de pano falante que
lá habitava O pó tinha o poder de transportar fisicamente as pessoas inclusive
para o passado, assim como a famosa Máquina do Tempo idealizada pelo escritor
H.G. Wells, em livro de mesmo nome. Particularmente “História do Mundo para
Crianças” e “Os Doze Trabalhos de Hércules” me fascinaram. Quando, muitos e
muitos anos depois, visitei, primeiramente a Grécia, e muitos outros anos após,
o Egito, as lembranças daqueles textos lidos na minha tenra infância afloraram
à minha mente. Na Grécia, a Cultura, os Deuses, Semideuses, os Super-Heróis, a Mitologia,
as construções - em particular, o Parthenon – e todo aquele clima da
Antiguidade Clássica. No Egito, ao contemplar as pirâmides, a Esfinge, os túmulos
milenares contendo múmias de Faraós, sarcófagos, as relíquias no Museu do Cairo
e tantas outras preciosidades. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Meu pai continuou estimulando a minha sede
literária. Poucos anos após presenteou-me com uma coletânea de livros de Júlio
Verne, leitura quase obrigatória para os meninos a partir de sua
pré-adolescência. E novos clássicos da literatura universal me foram
apresentados em uma nova coletânea: David Copperfield, Robinson Crusoé, A Ilha
do Tesouro, Os Três Mosqueteiros etc. Uma festa. Meu pai, embora não tivesse
completado o ensino superior, possuía apreciável cultura, um amor ao vernáculo,
um dicionário sempre à mão. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas os
estímulos culturais não se limitaram somente à literatura. Foi ele quem me
apresentou, desde tenra idade, o mundo musical, especialmente os clássicos da
música norte-americana. Era fã dos grandes filmes musicais, das big-bands,
notadamente Glenn Miller, Harry James, Benny Goodman, Tommy Dorsey... e dos
grandes vocalistas – Bing Crosby, Ella Fitzgerald, Billy Eckstine..., que ele
escutava, já nos longínquos anos da década de 1940, de programas de rádio
transmitidos diretamente de Nova Iorque, cidade que ele amava só pelas
referências que tinha, pois só veio a conhece-la na década de 1980.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Frank
Sinatra fui eu quem “apresentou” a ele. Lembro-me do dia em que me presenteou
com o vinil, na época chamado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Long-Play</i>,
“Torna a Sorrento”, uma coletânea de grandes sucessos do cantor em sua fase na
gravadora Columbia. Eu, então um adolescente de 13 anos, ouvia encantado
aquelas canções compostas (salvo a faixa título e uma outra, “Luna Rossa”,
ambas napolitanas, uma homenagem do cantor à sua origem italiana) pela fina
flor do cancioneiro norte-americano, e cantadas por aquele que tinha como
alcunha ser o “The Voice”. Porém havia lugar na atenção do meu pai também para
artistas nacionais, dentre outros: Gonzagão, Dorival Caymmi, Chico Buarque, Ary
Barroso, Moreira da Silva e, sobretudo, Elias Regina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Mas vou contar agora um acontecimento singelo do
cuidado e da atenção com que ele, e também a minha mãe, dispensavam aos seus
filhos, então apenas dois. Os dois outros vieram alguns anos mais tarde.
Naquela época picolés eram vendidos por ambulantes empurrando suas carrocinhas
amarelas com o logotipo Kibon. Alguns ambulantes não se valiam da tradicional
carrocinha, carregavam seus picolés em uma caixa sustentada por tirantes presos
aos seus ombros. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Os picolés eram o Chicabon,
de chocolate, o Jajá de coco e o Tombon de limão. Fora do tamanho padrão,
menorzinho, foi lançado o Tombonete, voltado para as crianças (quem, dentre os
que viveram aquela época, se lembrará dele?). Morávamos em apartamento no
segundo andar de um sobrado, de cuja varanda eu e minha irmã a cada dia nos
despedíamos dos meus pais que saiam para mais uma jornada de trabalho.
Ficávamos um pouco tristes naqueles momentos da separação. Eis que um dia, de
forma totalmente inesperada, um daqueles ambulantes com uma caixa de picolés
pendentes dos ombros, da calçada olhou aquelas crianças e, sorridente, lhes
avisou que seus pais haviam passado por eles na rua e pagaram dois Tombonetes
para serem entregues a elas. Como pode um gesto tão simples marcar para sempre
a mim e a minha irmã?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Já faz vinte anos que o nosso pai nos deixou. Ao
aposentar-se, após uma longa e sempre digna carreira no Serviço Público, vivia
exclusivamente para os filhos, os netos e os amigos dos filhos. A casa sempre
cheia, pessoas entrando e saindo, minha mãe providenciando para que a mesa
acolhesse a todos. Tristeza pela sua partida? Sim, mas sem drama, havia chegado
a sua hora. Fomos nos preparando para aceitar essa hora. O que guardamos dele
são estórias que não cansamos de recordar, sem sofrimento algum. Seus
ensinamentos, suas brincadeiras, seu amor por nós. Este é o seu legado, e ele
nos acompanhará para sempre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Um dia chegou a minha vez. Uma criança, um bebê, era
algo absolutamente distante, salvo quando o seu choro me incomodava em
ambientes fechados. Isso até aquele momento mágico em que a enfermeira do
hospital me trouxe nos braços, diretamente da sala de parto, aquela que me
colocaria na condição de pai, com todas as suas implicações e imensas
responsabilidades. Fiquei deslumbrado diante da criaturinha ruiva que viria
transformar a minha vida. Só se aprende a ser pai, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sendo</i>, toda a leitura prévia se revela insuficiente para lidar com
essa condição. Cerca de um ano e meio depois a experiência de encantamento se
repetiu: novamente uma enfermeira me trouxe nos braços um novo bebê, desta vez
um menino. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">A cada ano, no segundo domingo de agosto, celebra-se
o Dia dos Pais. Neste ano de 2019 será no dia 11. Olho para trás e me pergunto:
Terei sido um bom pai? Como meus filhos vivenciam as lembranças de nossas relações?
Refaria alguma coisa se a vida nos concedesse uma segunda chance? Uma longa
estrada. Percorro o passado e incontáveis lembranças assomam à minha mente. O
que eles rememoram? Houve arestas, certamente, momentos em que fui
excessivamente duro, criar filhos é missão bastante difícil, conflito de
gerações. Eu e minha esposa, apesar de frequentes viagens a que éramos
obrigados a fazer por circunstâncias profissionais, sempre procuramos estar
muito presentes na vida deles. Nós os levávamos a toda parte. Praias, cinemas,
shows, restaurantes. Brincávamos com eles, riamos muito. Faze-los felizes era a
nossa maior recompensa. Particularmente memoráveis eram as festas, os passeios
e as viagens recreativas. Começaram a nos acompanhar em nossas viagens internacionais
ainda quando crianças, e não nos cansamos de recordar nossas experiências
conjuntas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Ficaria muito feliz se pudéssemos à minha simples
vontade fazer visitas presenciais ao passado para usufruir momentos sublimes vivenciados
com meus filhos. Na Máquina do Tempo, de Wells, ou por meio do inocente pó de
pirlimpimpim da Emília. Não se trata de saudosismo, de nostalgia, de se estar
“parado no tempo”, um preconceito tão comumente aplicado a referências do
passado quando visto sob uma ótica meramente cronológica. O grande escritor
José Saramago nos oferece em seu livro “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (uma
narrativa sob uma perspectiva bastante pessoal do autor) um singular exemplo do
desejo de perpetuação de cenas do passado. Saramago escreve que certos momentos
na vida deveriam “ficar fixados, protegidos do tempo, não apenas consignados
neste evangelho, ou em pintura, ou modernamente em foto, filme ou vídeo, o que
interessava mesmo era que o próprio que os viveu, ou tenha feito viver pudesse
permanecer para todo o sempre à vista dos seus vindouros...” E elege um momento
descrito na vida de Jesus, ainda uma criança, como o seu preferido para tal
fim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Quanto a mim,
confesso que não saberia eleger um momento especial na vida de meus filhos para
perpetuação. Mas, que coisa maravilhosa seria, por exemplo, reencontrar os meus
queridos filhos quando crianças, saborear ao vivo os tantos momentos mágicos de
nossa passada convivência. Hoje são adultos, casados e felizes, vivendo suas
vidas, têm sua profissão, mas eu minha esposa damos graças de tê-los sempre
perto de nós, constituindo uma família ampliada com genro e nora e,
extraordinariamente, fomos presenteados com dois netinhos maravilhosos através
dos quais, de certa forma, testemunhando o seu desenvolvimento, prestando
ajuda, realizamos a fantasia de reencontrar nossos filhos ainda crianças. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Lembro-me de uma frase que uma amiga disse ao saber
que minha esposa estava grávida pela primeira vez: “Ter filho é programa para a
vida toda”. Pura verdade. Continuo sendo pai, amo os meus filhos, me gratificam
cada vez que se dirigem a mim falando “pai”, e serei pai até o último dia de
minha vida. E agora, aprendendo a ser avô.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Feliz Dia dos Pais!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="color: red; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">01 de agosto de 2019<o:p></o:p></span></div>
<br />José Antoniohttp://www.blogger.com/profile/09341949313965634379noreply@blogger.com6