A
REVOLUÇÃO DAS MÁQUINAS (uma fábula moderna)
“As criaturas de fora [da
sala] olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um
porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem,
quem era porco”.― constatavam os demais bichos que os porcos, tendo assumido
ditatorialmente o poder após a revolução dos bichos que expulsara os donos da
fazenda, seus exploradores, agora adotavam os vícios dos humanos e confraternizavam
com eles num festim de falsidades, jogatina e bebedeira (George Orwell, em sua
fábula política A Revolução dos Bichos).
“Se o seu problema é
isto, disque 1; se é isso, disque 2; se é aquilo, disque 3, se é mais aquilo,
disque 4; se é... disque 7; para repetir o menu de opções, disque 8; se quiser
falar com um de nossos operadores, disque 9”. Continua a voz gravada: “Um
momento, que estaremos transferindo sua ligação". ― ouve-se uma
musiquinha. A ligação cai. Nova tentativa: “Se o seu problema...”. ― cai, outra
vez. Mais uma tentativa, escuta-se o menu eletronicamente fornecido. Atende,
finalmente, uma voz humana, ao vivo: “SENHOR, em que posso ajuda-lo”? ― o
suplicante explica claramente o seu problema. A atendente não entende. O
suplicante repete uma, duas, três vezes, e a atendente: “SENHOR..., SENHOR...,
SENHOR...” ― ela não se conecta com a pergunta. “Já expliquei três vezes qual é
o meu problema” ― se enfurece o suplicante. “SENHOR, um momento que estaremos
transferindo a sua ligação para outra atendente”. ― a outra atendente: “Um
momento que estaremos verificando a sua reclamação”. “SENHOR, o seu problema
somente poderá estar sendo tratado pelo nosso site”. “Mas eu já entrei no site,
e lá está dito que esse problema só pode ser atendido pela Central de
Atendimento”! ― “SENHOR, um momento que estaremos gerundizando o protocolo de
sua reclamação”. ― uma espera. “Queira anotar o número do seu protocolo:
6666666666; a Operadora Demoníaca agradece a sua ligação e lhe deseja uma boa
tarde”. ― ligação encerrada. Ao ter sido passado do atendimento automático para
a voz humana, da voz humana para a máquina, da máquina outra vez para a voz
humana, para o suplicante já era impossível distinguir quem era homem, quem era
máquina. (fábula a partir de uma reflexão do meu irmão Paulo Sergio).
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