domingo, 18 de junho de 2017

A Revolução das Máquinas (Uma fábula moderna)


A REVOLUÇÃO DAS MÁQUINAS (uma fábula moderna)
“As criaturas de fora [da sala] olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco”.― constatavam os demais bichos que os porcos, tendo assumido ditatorialmente o poder após a revolução dos bichos que expulsara os donos da fazenda, seus exploradores, agora adotavam os vícios dos humanos e confraternizavam com eles num festim de falsidades, jogatina e bebedeira (George Orwell, em sua fábula política A Revolução dos Bichos).

“Se o seu problema é isto, disque 1; se é isso, disque 2; se é aquilo, disque 3, se é mais aquilo, disque 4; se é... disque 7; para repetir o menu de opções, disque 8; se quiser falar com um de nossos operadores, disque 9”. Continua a voz gravada: “Um momento, que estaremos transferindo sua ligação". ― ouve-se uma musiquinha. A ligação cai. Nova tentativa: “Se o seu problema...”. ― cai, outra vez. Mais uma tentativa, escuta-se o menu eletronicamente fornecido. Atende, finalmente, uma voz humana, ao vivo: “SENHOR, em que posso ajuda-lo”? ― o suplicante explica claramente o seu problema. A atendente não entende. O suplicante repete uma, duas, três vezes, e a atendente: “SENHOR..., SENHOR..., SENHOR...” ― ela não se conecta com a pergunta. “Já expliquei três vezes qual é o meu problema” ― se enfurece o suplicante. “SENHOR, um momento que estaremos transferindo a sua ligação para outra atendente”. ― a outra atendente: “Um momento que estaremos verificando a sua reclamação”. “SENHOR, o seu problema somente poderá estar sendo tratado pelo nosso site”. “Mas eu já entrei no site, e lá está dito que esse problema só pode ser atendido pela Central de Atendimento”! ― “SENHOR, um momento que estaremos gerundizando o protocolo de sua reclamação”. ― uma espera. “Queira anotar o número do seu protocolo: 6666666666; a Operadora Demoníaca agradece a sua ligação e lhe deseja uma boa tarde”. ― ligação encerrada. Ao ter sido passado do atendimento automático para a voz humana, da voz humana para a máquina, da máquina outra vez para a voz humana, para o suplicante já era impossível distinguir quem era homem, quem era máquina. (fábula a partir de uma reflexão do meu irmão Paulo Sergio).

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