Uma questão de Ética
O professor Ben Dupré, em seu livro
“50 ideias de filosofia que você precisa aprender” (Planeta, 2007) coloca a
seguinte situação:
“O sr. Quelch não sabia se tubarões tinham lábios e, se
tinham, se podiam lambê-los; mas sabia que, se tivessem e pudessem, era
exatamente isso que estavam fazendo agora. O balão caía cada vez mais rápido na
direção do mar, e ele podia ver claramente, descrevendo círculos na água, as
muitas barbatanas dos tubarões reunidos para jantar (...) O sr. Quelch sabia que nos próximos dois minutos
ele e os melhores alunos de Greyfriars [uma escola fictícia britânica] virariam
isca de tubarão ― a menos que se livrassem de mais lastro. Mas tudo já havia
sido jogado fora do cesto ― tudo o que restava eram os seis meninos e ele. Era
óbvio que só Bunter tinha peso suficiente para salvar o dia. Uma situação
difícil para o Corujão Gordo, mas não havia outra saída... [está implícito que
o sr. Quelch, o único capaz de manejar o balão, não seria uma opção de alívio
de lastro].”
Só existem
mesmo duas opções: os seis meninos, incluindo Bunter, caem no mar e são devorados
pelos tubarões, ou apenas Bunter é jogado no mar e comido. Para Bunter, o
desfecho seria o mesmo, iria morrer de qualquer forma, mas, no caso dele ser
atirado fora do balão, os demais se salvariam. É o que se chamaria uma “Escolha
de Sofia”. Dupré provoca: é valido sacrificar Bunter? O fim (salvar várias
vidas inocentes) justifica o meio (tirar uma vida inocente)? O que você faria?
Está em jogo uma importante linha divisória de ética ― a linha que separa as
teorias baseadas no dever (deontológicas) e as baseadas nas consequências
(consequencialistas).
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