sábado, 13 de abril de 2019

Meu amigo Edmundo


Meu amigo Edmundo

Conheci Carlos Edmundo, ou, simplesmente, Edmundo, creio que no ano de 1980. Eu trabalhava em uma grande empresa do ramo petroquímico, no Centro da Cidade do Rio de Janeiro, e por algum tempo ele, que trabalhava em uma outra empresa do mesmo ramo, ficou provisoriamente instalado em uma sala contígua à minha, juntamente com o seu chefe, este já de há muito meu amigo. Não demorou muito eles mudaram-se para um escritório próprio da empresa para a qual trabalhavam, igualmente no Centro. Enquanto vizinhos não tenho lembrança de ter mantido um contato próximo com aquele que viria a ser um dos meus mais caros amigos.
Nunca trabalhamos na mesma empresa, mas sempre naquelas com atividades no ramo petroquímico. Essa circunstância, aliada ao fato de exercermos nossa atividade na área econômico – financeira e a proximidade física de nossos escritórios, em muito contribuíram para o estreitamento de nossas relações.  E havia ainda outra proximidade geográfica relevante. Edmundo morava em Niterói e eu, durante os primeiros anos de nosso convívio, também. Mas todos esses eram fatores objetivos. Além disso, rapidamente estabeleceu-se uma química (curiosamente éramos químicos de formação) entre nós, baseada no compartilhamento de uma série de interesses. Leitura, música, cinema e artes em geral, viagens, boa comida, bons vinhos, boa conversa e tantas outras coisas.
Ao longo dos vinte e quatro anos subsequentes ao nosso primeiro encontro – todo o período em que continuei trabalhando no Centro -, praticamente não havia uma semana em que não almoçássemos juntos, uma, às vezes duas vezes. Era um grande prazer para nós, um momento de pausa no estresse de nossas atividades profissionais. A escolha do restaurante não era aleatória. Tínhamos uma vasta gama deles à nossa disposição: O Caçarola; Santa Fé; Bar Luiz; Yashiro; Miako, Manon; Penafiel; Rio Minho; Bucksky, Confeitaria Colombo; Giuseppe; Tarantino; Yankee do Brasil; O Garoto das Flores; Cedro do Líbano; O Navegante,  e muitos outros, a maioria dos citados já encerraram suas atividades, permanecem apenas na lembrança de seus frequentadores. Riamos muito, entre goles de cerveja ou de vinho conversávamos sobre os mais diversos assuntos, de coisa séria ao mais puro besteirol. Exercíamos o nosso senso crítico com uma divertida ironia e humor negro sempre que necessário. Edmundo era um mestre nessa arte.
Meu amigo, a par de seu fino senso de humor, era um excelente caráter, um competente profissional, amigo fiel e, acima de tudo, mais um traço que nos aproximava, de uma carinhosa dedicação à família. Esposa e filhos estavam sempre presentes em nossas conversas. À medida em que seus filhos trilhavam seus próprios caminhos na vida, esses caminhos os levaram geograficamente para longe, até para muito longe, mas permaneciam presentes no coração do pai, que, sempre que podia, viajava para encontrá-los. Tinha muito orgulho de cada um deles.
Edmundo tinha problemas de saúde, notadamente diabetes. Acontecia de, durante um nosso almoço, ele pedir rápido um copo de suco de laranja para restabelecer seu nível de carboidrato que subitamente ficara demasiado baixo. Mas jamais o vi queixar-se ou vitimizar-se por essa condição. Ultimamente, eu o sentia fisicamente fragilizado. Outro problema era com a sua próstata, muito comum a homens da idade dele, e da minha, eu mesmo já sofri uma cirurgia há cerca de dois anos. No dia 26 de março, uma terça feira, comentei pelo WhatsApp um vídeo que ele me enviara. Respondeu aos meus comentários e terminou subitamente escrevendo: - Aliás, amanhã vou cortar a próstata. – Já não tínhamos os contatos presenciais de outrora, eu há muito me aposentara, escassearam os almoços, nos encontrávamos em festas que eu promovia e em encontros culturais dos meus irmãos – literários, de um deles, ou de artes plásticas, de um outro irmão ou de Ângela, esposa de Edmundo. Nos comunicávamos mais por WhatsApp e por e-mail. Embora sabedor de seu problema, não pude deixar de me surpreender pela proximidade da data da cirurgia. Liguei para ele, encontrei-o tranquilo, absolutamente confiante em que tudo daria certo. Dia 27 faria a cirurgia e ficaria uns dois dias numa unidade semi intensiva do hospital. Eu lhe disse que dia 29, sexta feira, eu estaria subindo a Serra de Itaipava para as comemorações do aniversário do meu genro, na casa da mãe dele; voltaria domingo à noite, dia 31, e que gostaria de visita-lo logo no dia seguinte.
As comemorações no sábado foram bastante animadas. Chegou o domingo. O sinal da minha operadora de celular é bastante ruim na serra, eventualmente recebo de um só impulso dezenas de mensagens de WhatsApp e de e-mails. E foi ao abrir uma dessas mensagens pelo número do Whats App do meu amigo que eu recebi a surpreendente e tristíssima notícia: Edmundo falecera na véspera, após três paradas cardíacas. Posteriormente soube que a cirurgia da próstata correra bem, mas que dois dias depois começara a passar mal, vindo a falecer no sábado, por ironia justamente quando apresentara aparente melhora. Foi uma tristeza muito grande eu perder tão caro amigo com quem jamais tive a mais leve rusga, e justamente numa fase de vida em que as amizades escasseiam, levadas pelo inexorável destino, por contingências diversas ou pelo exercício da minha livre escolha. Minha total solidariedade na dor da viúva, Ângela, suas filhas Maira e Julia, seu filho André e aos demais parente e amigos desse ser humano especial que nos deixa. Adeus, amigo.
José Antonio C. Silva
Abril/2019

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