Ninguém
mais lê e-mails
Há
muitos anos minha atenção vem sendo despertada para um fenômeno que constato no
dia a dia das relações sociais: ninguém mais lê e-mails. Isto não significa
necessariamente que eles, pura e simplesmente, não sejam mais lidos pelos
destinatários, embora isso possa de fato ocorrer. Mas o sentido da minha
afirmação é o de que com uma alarmante frequência as pessoas não fazem mais uma
leitura linear de textos na forma em que a humanidade o fazia até o advento da
internet. A leitura atenta dos textos vem sendo rapidamente substituída por uma
leitura salteada, sôfrega, um garimpo de palavras capturadas aqui e ali por um
olhar lançado de relance sobre a tela dos celulares, laptops, desktops tablets,
Kindles e congêneres. Como resultado, tem-se, frequentemente, uma distorcida
captação do conteúdo da mensagem, levando a respostas equivocadas,
desentendimentos, estresse nas relações, desperdício de energia, tempo,
dinheiro etc. E essa leitura salteada e desatenta nem de longe se limita a
e-mails; ela se aplica a qualquer tipo de texto eletrônico.
O
que estará acontecendo? Uma resposta muito bem estruturada eu a encontrei no
livro do escritor norte-americano Nicholas Carr “O que a internet está fazendo
com os nossos cérebros – A geração superficial” (AGIR, Rio de Janeiro, 2011);
todas as citações ao longo deste artigo, salvo expressa identificação de outro
modo, estão contidas nesse livro. O subtítulo é enganador, poderá levar à
precipitada crença de que o autor seja um ludita, um rabugento em relação à
internet e um preconceituoso quanto à juventude. Nada mais errôneo. Carr é um
homem absolutamente afinado com o desenvolvimento da informática, um ativo
usuário das mais atualizadas ferramentas que ela coloca à disposição da
sociedade. O que sucedeu, e o levou a escrever o livro, foi o fato de ele ter
se dado conta de que a internet passara a exercer sobre si uma influência que
em muito superava aquela experimentada com o seu velho PC. E não se tratava tão
somente de que ele estava passando muito mais tempo diante de seu computador,
nem tampouco a circunstância de que muitos de seus hábitos e rotinas haviam
mudado porque ele se acostumara e se tornara dependente de sites e serviços
visuais. O que mais o surpreendeu foi a constatação de que o próprio
funcionamento de seu cérebro parecia estar mudando. Carr começou então a se
preocupar com a sua incapacidade de prestar atenção a uma coisa por mais do que
alguns minutos.
A princípio, Carr imaginou que a razão do que lhe
acontecia seria atribuível a um sintoma de deterioração mental da meia idade.
Mas, logo percebeu, ocorria que o seu cérebro não estava apenas se distraindo,
ele estava faminto. E exigia ser alimentado da forma como a internet o fazia e,
insaciável, quanto mais alimentado mais faminto se tornava. Quando longe de seu
computador, Carr ansiava por checar seus e-mails, clicar em links, pesquisar no
Google. Ele queria estar conectado.
Vivendo
conectado
A
necessidade de estar conectado torna-se uma febre: jovens e grandes aficionados
da internet de todas as idades têm um profundo interesse em estar informados
sobre o que acontece aqui e agora na vida de seus contatos, manifestando enorme
ansiedade em participar de forma permanente da roda de amigos nas redes
sociais. Parar de enviar e responder mensagens os tornaria invisíveis.
Introduzo uma inversão de um conhecido chiste psicanalítico para ilustrar bem
essa preocupação. Na piada clássica, um paciente está deitado no sofá do
analista e, aflito, confidencia: “Doutor, sinto que estou sendo seguido”. E
automaticamente se capacita a ser enquadrado como alguém que sofre de complexo
de perseguição. Na versão atualizada, o paciente, igualmente aflito, queixa-se
ao analista: “O problema, doutor, é que às vezes sinto que não estou sendo
seguido”.
As
conseqüências da adição à internet são analisadas em profundidade por Nicholas
Carr em seu mencionado livro. Suas afirmações são suportadas na auto-avaliação,
em conversas com amigos e, sobretudo, em uma vasta coletânea de resultados de
pesquisas e de reflexões efetuadas por neurologistas, psicólogos, matemáticos,
especialistas em informática e em outros ramos da ciência, filósofos, poetas
etc. As conclusões são surpreendentes. Das ultramodernas técnicas de
escaneamento cerebral e de cuidadosas pesquisas efetuadas com seres humanos e animais
ficou demonstrado aquilo que já havia sido afirmado por pensadores e filósofos
como Martin Heidegger e Marshall McLuhan: a técnica e seus objetos modificam o
nosso modo de ser. McLuhann tornou-se bastante famoso na década de 1960 com
seus estudos sobre os meios de comunicação. Sua máxima “o meio é a mensagem”
tornou-se célebre. O que significa isso? Conforme pontua Carr, os meios não são
meros canais de informação, eles fornecem o material para o pensamento, mas
também moldam o processo do pensamento. Ele constata que a net parece estar
desbastando sua capacidade de contemplação, e quer esteja contatado ou não, sua
configuração mental agora espera receber informação do modo como a net a
distribui, ou seja, um fluxo de partículas em movimento veloz.
Carr
relembra que na década de 1980 muitos educadores estavam convencidos de que a
introdução de hiperlinks no texto exibido em telas de computador seria de
grande ajuda para o aprendizado: esse artifício facilitaria o pensamento
crítico dos estudantes, possibilitando que facilmente acessassem diferentes
pontos de vista. Ao final daquela década, o entusiasmo tinha começado a
esmorecer. As pesquisas estavam traçando um quadro mais completo, muito mais
amplo dos efeitos cognitivos do hipertexto. A avaliação dos links e a navegação
entre eles envolviam tarefas de resolução de problemas que eram estranhos ao
hábito da leitura em si. Decifrar hipertextos aumentava consideravelmente a
carga cognitiva dos leitores, enfraquecendo, dessa maneira, a sua capacidade de
compreender e reter o que estavam lendo. Os leitores frequentemente terminavam
clicando distraidamente “pelas páginas em vez de lê-las cuidadosamente”.
Constatou-se que grupos de leitores que realizavam pesquisas em documentos
eletrônicos tiveram desempenho inferior àqueles que fizeram a mesma pesquisa em
documentos impressos. Estudos realizados muitos anos depois, quando os leitores
já estavam bastante familiarizados com o hipertexto, levaram às mesmas conclusões.
Ocorre que, na apreciação de Carr, a necessidade de avaliar links e tomar as
decisões de navegação relacionadas, enquanto processa uma quantidade
impressionante de estímulos sensoriais, exige constante coordenação mental e
tomada de decisões, distraindo o cérebro do trabalho de interpretar textos e
outras informações. Sempre que os leitores se defrontam com um link, têm que
pausar, ao menos por uma fração de segundo, para permitir que o córtex
pré-frontal avalie se é o caso de se clicar ou não. O redirecionamento dos
recursos mentais, da leitura das palavras para a realização de julgamentos,
pode ser imperceptível para as pessoas, pois o cérebro é veloz, mas foi
demonstrado que ele impede a compreensão e a retenção. Particularmente quando este
redirecionamento é constantemente repetido.
Determinismo?
Nossos
modos de pensar, perceber e agir - agora se comprova pelos resultados de
estudos científicos - não são inteiramente determinados pelos nossos genes. Nem
são inteiramente determinados pelas experiências da nossa infância. Nós os
mudamos através do modo como vivemos e através dos instrumentos que usamos:
pesquisas demonstraram quão profundamente o cérebro pode ser influenciado pela
tecnologia. Isso ocorre devido a neuroplasticidade, a faculdade através da qual
o cérebro está constantemente se modificando em resposta às nossas experiências
e comportamentos, remodelando os seus circuitos a “cada estímulo sensorial,
ação motora, associação, sinal de recompensa, plano de ação ou [deslocamento]
da consciência”, conforme o pesquisador em neurologia Alvaro Pascual-Leone.
Segundo esse cientista, a neuroplasticidade ou, simplesmente, plasticidade, é
um dos mais importantes produtos da evolução, uma característica que permite
que o sistema nervoso “escape das restrições do nosso genoma e assim se adapte
a pressões ambientais, mudanças psicológicas e experiências”. A seleção
natural, de acordo com o filósofo David Buller, “não projetou um cérebro
constituído de numerosas adaptações pré-fabricadas”; ao contrário, ele é capaz
de “se adaptar às exigências ambientais locais ao longo da vida de um
indivíduo, e, algumas vezes, em um período de dias, formando estruturas
especializadas para lidar com essas exigências”. E, de forma bastante singular,
Pascual-Leone realizou um experimento utilizando uma técnica chamada
Estimulação Magnética Transcraniana, demonstrando que o cérebro muda não
somente em relação às ações humanas, mas, também, em relação a pensamentos. Ele
colocou dois grupos de pessoas sem experiência em tocar piano e lhes ensinou a
tocar uma melodia simples constituída de uma série de notas curtas. Aos membros
de um dos grupos foi solicitado que tocassem a melodia durante um determinado
tempo. Aos membros do outro grupo foi pedido que apenas imaginassem que tocassem
a música no mesmo período de tempo. O surpreendente resultado foi que o grupo
de pessoas que tão somente imaginara tocar as notas exibia, exatamente, as
mesmas alterações no cérebro que o grupo de pessoas que efetivamente tinham
tocado as mesmas notas. Ficava cientificamente comprovado que nossos
pensamentos podem exercer uma influência física em nossos cérebros.
Guerra e Paz
Ninguém
mais lê e-mails. E “ninguém lê Guerra e Paz”, a colossal obra de Liev Tolstói,
no entendimento de Clay Shirky, um estudioso de mídias digitais da Universidade
de Nova York, que faz idêntica consideração ao livro Em busca do tempo perdido,
de Proust. De fato, na opinião dele, estivemos “elogiando de um modo vazio”
escritores como Tolstói e Proust “todos esses anos”. Nossos velhos hábitos
literários “são apenas um efeito colateral de vivermos em um ambiente de acesso
empobrecido”. Prosseguindo, Shirky conclui que podemos finalmente nos livrar
desses hábitos desgastados (nessa mesma
linha, Shirk poderia igualmente condenar a obra dos grandes mestres da música:
ela seria tediosa, exigiria demasiado tempo para sua apreensão). Carr
considera tais afirmações teatrais demais para serem levadas a sério. Mas é
inegável que a introdução do e-book está transformando a maneira como os
leitores se posicionam diante de um livro. Steven Johnson, especialista em
semiótica (ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem
sistemas sígnicos, isto é, sistemas de significação – Wikipedia)
logo após começar a ler no seu novo Kindle, prognosticou que: “a migração do
livro ao reino digital não seria uma simples questão de trocar tinta por
pixels, mas provavelmente mudaria profundamente o modo como lemos, escrevemos e
vendemos livros”. Ele estava excitado com o potencial do Kindle para expandir
“o universo dos livros na ponta dos nossos dedos” e tornar os livros tão
buscáveis como web pages. Mas o serviço digital também deixou Johnson inseguro:
“Temo que um dos grandes prazeres da leitura dos livros – a total imersão em
outro mundo, ou no mundo das ideias do autor – estará comprometido. Todos nós
poderemos ler livros do mesmo modo como cada vez mais estamos lendo revistas e
jornais: um pedacinho aqui, outro ali”. Na avaliação do escritor John Updike,
“quando um livro impresso, seja ele uma obra acadêmica de história recentemente
publicada ou um romance vitoriano com duzentos anos de idade, é transferido
para um aparelho eletrônico conectado à internet, ele se transforma em algo
parecido com a página de um site. Suas palavras ficam envoltas em todas as
distrações do computador em rede. Seus links e outros aditivos digitais jogam o
leitor para cá e para lá”. Ele perde o que Updike chama de suas “bordas” e se
dissolve nas vastas águas da net. A linearidade do livro é quebrada, junto com
a calma atenção que encoraja no leitor. (meu comentário: o e-book não deixa de ter algumas vantagens, deixo aos seus
defensores a apresentação de seus argumentos).
Ninguém mais lê Guerra e Paz, o esforço não compensa. A leitura desse tipo de texto e sua própria
produção – os escritores estarão desconcentrados, senão desestimulados a
escrevê-los, sabedores da indiferença com que serão acolhidos – está seriamente
ameaçada. E o que dizer da leitura de complexos textos filosóficos? Será
possível fazer-se a exegese do pensamento dos luminares do gênero humano
através do saltitar do olhar sobre as palavras? E os textos científicos em
geral? Restará o entendimento dessas matérias restrito tão somente a um
reduzido grupo de especialistas, os modernos monges copistas da idade média? E
o que dizer dos compêndios do Direito? Sabemos que os magistrados se debruçam
sobre volumosos processos sobre os quais precisam formar um conceito e emitir
uma decisão. Premidos pelo tempo, e cada vez mais desabituados à prática da
leitura profunda, estarão lendo os extensos textos processuais da maneira
fragmentada como o fazem os aditos à internet? Parece que sim, na maioria dos
casos. É bastante preocupante o que pode sair daí. O fato insofismável é que a
leitura profunda, essencial à compreensão de um texto complexo, exige uma mente
calma, não a mente frenética que está se tornando largamente predominante.
“Como os usuários lêem na web?” Essa foi a pergunta lançada em 1997 por Jacob
Nielsen, “um consultor experiente de design de web pages”, após seu primeiro
estudo da leitura on-line. Em 2006, Nielsen, que já vinha estudando a leitura
on-line desde a década de 1990, levou a cabo uma pesquisa de rastreamento
ocular de usuários da web. Ele descobriu que raramente qualquer uma das 232
pessoas participantes de uma leitura proposta lia o texto on-line de forma
semelhante à que faziam quando liam páginas de um livro: linha por linha, de
modo metódico. Analisando os dados, o pesquisador constatou que os usuários da
web gastavam apenas alguns segundos em uma página. Respondendo, então, à sua
própria pergunta feita em 1997, Nielsen, de forma sucinta, radicalizou: “Eles
não leem’.
Ganhos
e Trocas
“Não existe almoço grátis”. Esta famosa frase de Milton
Friedman, economista laureado com o Prêmio Nobel, se aplica perfeitamente à
análise dos inquestionáveis e prodigiosos ganhos da net em confronto com o que
se está dando em troca: a mente linear calma, focada, sem distrações está sendo
expulsa por um novo tipo de mente que quer e precisa tomar e aquinhoar
informação em pulsos curtos, desconexos, frequentemente superpostos – quanto
mais rapidamente, melhor. O que sucedeu a Carr é um perfeito exemplo dos
efeitos no modo de ser das pessoas causados pelo hábito da imersão profunda e
continuada na rede. Conforme ele relata, não foi fácil escrever o seu livro. No
começo, lutava em vão para manter sua mente fixa na tarefa. Ele tendia a
escrever em “arrancos desconexos”, da mesma forma que fazia em seu blog.
Compreendeu então que seriam necessárias grandes mudanças em suas rotinas. Carr
mudou-se de sua residência em um subúrbio altamente conectado de Boston para as
montanhas do Colorado. Lá instalado, cancelou sua conta no Twitter, suspendeu
por um tempo sua filiação no Facebook, e colocou o seu blog em compasso de
espera. E ainda fechou o seu leitor RSS, restringiu o Skype e as mensagens
instantâneas, além de desacelerar seu aplicativo de e-mail. Os efeitos? “O
desmantelamento de minha vida on-line não foi de modo algum indolor (...) ocasionalmente
eu caía numa farra na web por um dia inteiro (...) mas com o tempo a fissura
cedeu (...) alguns velhos circuitos neurais, em desuso, estavam voltando à
vida, parecia, e alguns dos mais novos, ligados na web, estavam se aquietando
(...)”. E foi assim que ele conseguiu paz e concentração para escrever o livro.
Carr reconhece, entretanto, que a sua condição de trabalhador autônomo e de
natureza relativamente solitária, tendo a opção de se desconectar, não é
típica. Ele assinala que para a grande maioria das pessoas atualmente a web é
tão essencial para o seu trabalho e para a sua vida social que elas não têm essa
alternativa. Na verdade, essa opção, em tese, sempre existiria, porém exercê-la
em muitas circunstâncias pode ter um custo excessivamente alto. E como que para
provar não ser um ludita, Carr, de forma bem humorada, escreve, quase ao final
de seu texto, que voltara a deixar o seu e-mail correndo o tempo todo e que
reabrira o seu feed RSS, reativara o seu blog, experimentava novos serviços das
redes sociais e que comprara “um blue-ray com conexão wi-fi embutida”. E
admite: “Tenho que confessar: é legal. Não tenho certeza se poderia viver sem
isso”.
Para ajudar a explicar como a dependência dos
computadores digitais “cresceu constantemente e, aparentemente, de forma
inexorável desde que essas máquinas foram inventadas no final da segunda guerra
mundial”, Carr evoca as considerações bastante provocativas feitas por Joseph
Weinsenbaum, um cientista de computação do MIT-Massachusetts Institute of
Technology. Para Weinsenbaum, “uma tecnologia intelectual [assim como o mapa e
o relógio] torna-se um componente indispensável de toda a estrutura uma vez que
tenha sido tão inteiramente integrada a ela, tão entremeada nas várias
subestruturas vitais, que não pode mais ser removida sem mutilar fatalmente
toda a estrutura (...) “a sua adoção [do computador] entusiástica, acrítica,
pelos elementos ‘progressistas’ do governo, negócio e indústria dos Estados
Unidos, tornou-o um recurso essencial para a sobrevivência da sociedade na forma como o próprio computador foi
instrumento para moldar”. Aqui cabe um chiste de um amigo meu, técnico em
informática, que, de forma satírica, afirma que “o computador é um excelente
instrumento para resolver problemas que ele mesmo criou”.
Ao final de seu livro, Carr faz diversas citações de
filósofo Martin Heidegger, que muito se preocupava, já na década de 1950, com
“a onda de revolução tecnológica” iminente, que poderia “cativar, enfeitiçar,
deslumbrar e distrair de tal forma o homem que o pensamento calculista poderia
um dia vir a ser aceito e praticado como
o único modo de pensar”. A nossa capacidade de engajamento no pensamento
reflexivo, que Heidegger considerava como a própria essência da humanidade,
poderia ser sufocada pela desmedida adesão à técnica. Carr poderia ter feito
mais uma citação de Heidegger encontrada no texto Serenidade (Instituto Piaget,
Lisboa, 1959) - uma resposta simples ao dilema entre endeusar ou demonizar a
técnica - e da qual ele próprio se valeu na estratégia para escrever o seu
livro: “Podemos dizer ‘sim’ à utilização inevitável dos objetos técnicos e
podemos ao mesmo tempo dizer ‘não’, impedindo que nos absorvam e, desse modo,
verguem, confundam e, por fim, esgotem a nossa natureza (Wesen) [ser]”.
O tema abordado no livro de Nicholas Carr é fascinante e
atualíssimo, e tem sido objeto de um crescente número de pesquisas em muitos
países. Em recente entrevista ao jornal O Gobo (11/02/2012), Caderno Prosa @
Verso, o autor reafirma suas preocupações com o abuso da net, em quem ele reconhece
muitas qualidades, daí a utilizarmos tanto, mas acredita que “ela nos
transforma em pensadores mais superficiais”. Publicações sobre o assunto não
faltam. Sugiro a leitura da matéria publicada no jornal O Globo (13/01/2012),
Caderno Ciência, onde serão encontradas referências interessantes na matéria
que tem como título “Viciados em Internet”. O Estudo constata alterações no
cérebro similares às registradas com álcool e drogas. Recomendo ainda a leitura
do livro O Inverno de nossa Desconexão, de Susan Maushart, Paz e Terra, 2011.
Este texto foi escrito em 2012, antes
da febre do WhatsApp vir a reforçar as preocupações aqui descritas. A versão
agora postada é, com ligeiras alterações, o texto originalmente publicado na
revista virtual Desenvolvimento Pessoal, naquele ano. Trata-se da primeira das
três partes do que vim a denominar a “Trilogia da Irreflexão”. Naturalmente que
desde então preciosa literatura sobre a questão vem sendo produzida. Com
relação à progressiva dependência da Humanidade à internet, é particularmente
preocupante o capítulo Apagão Digital – Uma interrupção generalizada e
duradoura na internet, no livro O Colapso de Tudo, de John Casti (Editora
Intrínseca Ltda, 2012). Casti é um matemático, ph.D, especializado em estudos
das teorias dos sistemas e da complexidade.
Amigo José Antônio, ... Seu texto é impecável e, embora lido através de uma mídia digital, consegui desfrutá-lo como se fosse um livro físico. Isso só foi possível porque o conteúdo é de extrema qualidade e a fonte da informação é confiável. Parabéns !
ResponderExcluirTenho visto em várias mídias digitais conteúdos que parecem ter sido criados para preencher um espaço no layout ou simplesmente para alcançar uma demanda por quantidade e não pela qualidade das informações.
Resumindo, essa corrida pela informação exacerbada sem conteúdo me fez ler muita porcaria e parar no primeiro parágrafo. Isso me faz pensar no que as pessoas estão lendo hoje e qual será a consequência disso em futuro não muito distante.